O texto abaixo foi extraído do Livro
do Centenário da ESALQ “Um olhar entre o passado e o futuro”
(Capítulo 1)
“Nossa história começa no ano de 1849.
Tem por cenário uma chácara situada bem no coração da cidade de São
Paulo: é a mansão dos Barões de Limeira, e o dia é 12 de junho – dia
de festas, pois acaba de nascer Luiz Vicente de Souza Queiroz
o quinto filho de Vicente de Souza Queiroz e de Francisca de Paula
Souza, sua prima. São avós paternos Genebra Pais de Barros Leite e o
Brigadeiro Luiz Antônio de Souza, um dos maiores latifundiários do
estado de São Paulo. São avós maternos o Senador e Conselheiro do
Império Francisco de Paula Souza e Mello e Maria de Barros Leite. A
efeméride é registrada na capa da bíblia pertencente à família, que
é profundamente religiosa.
Aos oito anos de idade, o menino Luiz
Vicente foi enviado para a Europa em companhia de um irmão mais
velho para receber uma educação elevada, como era costume na época.
No Velho Continente, quando jovem, cursara as Escolas de Agricultura
de Grignon, na França, e a de Zurique, na Suíça Alemã.
Por morte do Barão de Limeira, em 5 de
setembro de 1872, coube a Luiz de Queiroz, entre outros bens, a
Fazenda Engenho d’Água, localizada na cidade de Constituição, hoje
denominada Piracicaba. Possuidor de uma bela cultura, adquirida
graças aos seus aprimorados cursos na Europa, e às experiências que
as viagens por cidades do continente europeu lhe proporcionaram, foi
Luiz de Queiroz, depois de um ano, tomar posse de sua nova
propriedade. Contava então 24 anos de idade.
Em Piracicaba, instalou uma fábrica de
tecidos aproveitando parte das águas do salto do rio Piracicaba como
potencial hidráulico para mover suas máquinas. Em breve, com a
fazenda fornecendo o algodão e a fábrica produzindo tecidos,
conseguiu apreciável fortuna. Em 1880 casou-se com Ermelinda Ottoni
filha do Conselheiro e Senador do Império Cristiano Ottoni. O casal
não teve descendentes, apesar de ambos gostarem muito de crianças,
festejando os sobrinhos que os visitavam. Rico, Luiz de Queiroz
nunca abandonou seus auxiliares, para os quais mandou construir uma
vila operária. Concorreu, com apoio financeiro a todas as obras de
benemerência da cidade; penalizou-se com a sorte dos escravos,
ajudando os negros foragidos com orientação e dinheiro. Mandou
arborizar praças e ruas da cidade e construiu um luxuoso palacete,
hoje tombado pela municipalidade (Codepac).
Luiz Vicente de Souza
Queiroz
|
O sonho dourado desse ilustre
patriota, sonho acalentado com ternura, era a instalação de uma
Escola Agrícola. Ele começou a se materializar quando, em 1889, Luiz
de Queiroz arrematou em hasta pública a propriedade pertencente a
João Florêncio da Rocha, conhecida como Fazenda São João da
Montanha, medindo 319 hectares e distante três quilômetros da
cidade. Tendo vantajosa e pitoresca localização, com terras de
excelente qualidade, e sendo banhada e contornada por dois
mananciais de água – o rio Piracicaba e o ribeirão Piracicamirim -,
a propriedade reunia boas condições para a prosperidade das culturas
e o fim colimado.
Para a realização de seu ideal, que
era grandioso, Luiz de Queiroz embarcou para a Europa e a América do
Norte. Na Inglaterra, encomendou a dois arquitetos o projeto para
uma Escola Agrícola e Fazenda Modelo, e dos Estados Unidos trouxe um
professor de Agricultura e dois arquitetos de nacionalidade
espanhola. Ao retornar, pôs mãos a obra: duzentos trabalhadores
entregaram-se febrilmente à construção da futura escola. Em 1892, já
funcionavam no local duas olarias e uma serraria a vapor, a primeira
de gênero na cidade.
Explorava-se uma pedreira, e um forno
para fabricação de cal estava em franca produção. Todos os materiais
necessários para as construções ali se achavam em abundância.
Estavam em andamento a casa do diretor; um moderno estábulo e uma
pocilga. Para o levantamento do edifício destinado à escola, enorme
quantidade de pedra de cantaria e tijolos se amontoava junto ao
local da construção. Quatro casas de colonos já estavam prontas e
três outras em vias de conclusão. Para fazer face ao serviço de
transporte havia quatro cavalos, 23 burros e doze bois. Todos os
serviços eram fiscalizados pelo próprio Luiz de Queiroz que,
entusiasmado com a concretização de seu sonho, deixou o lindo
palacete da cidade, onde residia confortavelmente e, junto com a
esposa, passou a alojar-se na modesta e velha casa da fazenda.
Luiz de Queiroz pediu ao Governo do
estado uma subvenção para a construção da sua escola, a qual foi
negada. Em vista da recusa, pediu pelo menos que lhe fosse concedido
frete gratuito para os materiais destinados à construção do
estabelecimento. Recebeu nova recusa. Nessa mesma ocasião, a Câmara
dos Deputados resolveu promulgar a Lei no 26, em
11 de maio de 1892, pela qual ficava o Executivo autorizado a fundar
uma Escola Superior de Agricultura e uma de Engenharia, e a
estabelecer, nos lugares julgados apropriados, dez estações
agronômicas com seus respectivos campos experimentais. Diante desse
revoltante contraste, Luiz de Queiroz recorreu a um estratagema:
resolveu doar ao governo sua querida Fazenda São João da Montanha
com todas as benfeitorias existentes na ocasião, com a condição de
que, dentro do longo prazo de dez anos, fosse concluída e inaugurada
sua sonhada Escola.
Pelo Decreto no 130,
de 17 de novembro de 1892, o então Presidente do Estado, Bernardino
de Campos, aceitou a doação da fazenda com todas as suas
benfeitorias, “para nela ser levada a efeito a idéia do
estabelecimento de uma escola agrícola ou instituto para educação
profissional dos que se dedicam à lavoura”. Foi nomeado nesse mesmo
ano, como Diretor da Escola, em comissão, para continuar os
trabalhos de adaptação da fazenda, o renomado cientista Ernest
Lehmann, indicado pelo então Diretor do Instituto Agronômico de
Campinas, E.W. Dafert.
Sob a orientação do governo, os
trabalhos na Escola Agrícola São João da Montanha caminhavam
lentamente. Luiz de Queiroz lutava pelo seu ideal por meio da
imprensa, escrevendo ou fazendo publicar transições de artigos
estrangeiros sobre o ensino e outros assuntos agrícolas. Bernardino
de Campos prometeu em uma de suas mensagens apresentadas ao
Congresso Legislativo a continuação das obras de adaptação,
assinalando “com júbilo e louvor o movimento animador da iniciativa
particular, que já muito tem produzido e pode tomar o mais útil
incremento impulsionado pelo patriotismo de cidadãos competentes”.
Os ideais e os sonhos de Luiz Vicente
de Souza Queiroz não pereceram, pois a semente lançada em Piracicaba
demoveu o estado de São Paulo a assumir, em 1893, um novo projeto de
ensino agrícola, para instalá-lo na Fazenda São João da Montanha.
O engenheiro agrônomo paulista Jorge
Tibiriçá Piratininga – formado em Hohenheim, na Alemanha -,
Secretário da Agricultura, Negócios, Comércio e Obras Públicas na
época, contratou o renomado engenheiro agrônomo belga Leon Alphonse
Morimont, saído do Institut Agricole de Gembloux, como novo Diretor
da Fazenda São João da Montanha. Sua tarefa imediata era o estudo de
um grande plano de realizações para o futuro estabelecimento,
envolvendo a recuperação do patrimônio, a adequação da fazenda aos
objetivos educacionais propostos pela classe dirigente – não uma
faculdade, mas uma escola técnica profissionalizante – e a
elaboração de um projeto completo de Escola Agrícola Prática para
ser instalado pela primeira vez no Brasil.
A proposta didático-pedagógica era
específica: os conteúdos programáticos práticos, prevalecentes sobre
os teóricos, deviam ser ministrados nos padrões de escola pública de
nível médio, para rapazes com escolaridade primária e idade de
quinze anos.
As parcelas mais prestigiadas das
elites paulistas se encaminhavam para as Faculdades de Medicina e
Engenharia, no Rio de Janeiro, para a Faculdade de Direito e a
Escola Politécnica, em São Paulo, esta última dotada de cursos de
Engenharia, entre eles a Agronômica, que começaria a funcionar em
1897. Com a Escola Agrícola Prática de Piracicaba, o estado de São
Paulo passaria a contar com três áreas de conhecimento científico na
Agricultura: a pesquisa sediada na Estação Agronômica, depois
Instituto Agronômico de Campinas, o ensino superior no curso de
Engenharia Agronômica da Escola Politécnica e o ensino médio
profissionalizante na referida escola, sob a supervisão da
Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
Morimont converteu a Fazenda São João
da Montanha num canteiro de obras, em virtude do trabalho
globalizante que veio a desenvolver. A primeira parte da sua tarefa,
a de adaptação da fazenda aos objetivos educacionais propostos,
constou de diversas fases interativas, sujeitas a procedimentos
metódicos e organizacionais sobre o elemento humano – oferecendo
treinamento ao trabalhador nacional egresso da escravidão e
demonstrando que o seu rendimento era tão bom quanto o do imigrante,
ou café melhor – e sobre o espaço físico – estudos topográficos,
medição e levantamento das condições da fazenda.
Dentro dos critérios agronômicos,
distribuiu os espaços para o estabelecimento dos campos de cultura
(exploração agrícola em cana, milho, feijão, batata, forrageiras,
mandioca, pastos) e campos experimentais (sujeitos a cinco esquemas
aplicados à cana-de-açúcar, viveiros de plantas com café, fumo,
algodão, eucalipto, ramie e videira); acrescentou pomar, horta
(repolho, tomate, alho porro e sersifim) e alfafa. A pecuária era
inseparável da agricultura em razão do fornecimento de carne, tração
e fertilizante orgânico, exigindo espaço, bem como a estrumeira,
utilizada segundo o método de fermentação úmida.
Essa fase operacional permitiria a
implantação da segunda parte do seu trabalho, o projeto educacional
da Escola Prática de Agricultura. Em março de 1895, o material
redigido se achava pronto para editoração, destinando-se a um
objetivo imediato, o de convencimento da classe dirigente e das
elites agrárias, bem como a instrumentação da Comissão de
Agricultura, Colonização e Imigração, que deveria apresentar ao
Legislativo um projeto de escola para ser convertido em lei.
A Lei no 367, de 3
se setembro de 1895, reflete o trabalho de Morimont em Piracicaba, a
qualidade do projeto e o amparo dos Secretários da Agricultura
(Jorge Tibiriçá Piratininga e seu sucessor, Theodoro Dias de
Carvalho). Mas foi um êxito fugaz, porque tal lei jamais sofreu
regulamentação, não se materializou. Morimont apegou-se a ela,
insistindo que o governo fizesse funcionar a Escola, no fim de 1897
ou no início de 1898, até ser vencido.
Os trabalhos iniciados pelo engenheiro
Morimont em Piracicaba, no ano de 1893, atingiram um clímax nos
meses que antecederam o lançamento da pedra fundamental do
edifício-sede da administração e do colégio, gerando a esperança de
desencadear as edificações previstas no projeto, colocando a Escola
em funcionamento precário, em 1897, ou razoável, em 1898, mediante a
integração com o Posto Zootécnico, a Fazenda Modelo e seus demais
elementos constitutivos.
Porém, as atividades de Morimont na
Fazenda São João da Montanha entraram, paulatinamente, em recesso,
após a cerimônia inaugural de 1o de
abril de 1896, apesar dos seus protestos. O episódio coincidia com o
advento de Manuel Ferraz de Campos Sales na Presidência de São Paulo
e com modificações na política administrativa e financeira do
estado, prestes a repercular no projeto. Malgrado os protestos de
Morimont e todo o seu esforço para sensibilizar os responsáveis pela
concretização da Escola, o ritmo dos trabalhos foi declinando, as
verbas oficiais desaparecendo.
Projeto do Parque da
Escola Agrícola |
Morimont lutou pela continuidade dos trabalhos de
adaptação da Fazenda São João da Montanha e pela efetivação do
Projeto de Escola Prática de Agricultura. A sua correspondência com
o Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas deixava
transparecer a inquietação pelo futuro, já nos primeiros dias do
novo governo. O pressentido temor pela paralisação das construções,
fato que comprometeria o funcionamento parcial da Escola Agrícola
Prática previsto para 1897 ou 1898, confirmava-se diante da
indisposição do governo, manifestada em consonância com a crise
financeira do estado e as perturbações do mercado do café. Temendo o
pior, Morimont continuava apelando para que o governo não se
descuidasse da promoção da Escola Prática, da aquisição de
maquinaria agrícola para as culturas experimentais da Fazenda Modelo
e dos animais de raças apuradas para o começo do Posto Zootécnico.
Externava a sua preocupação em carta de 10 de junho de 1896 ao
Secretário: “É o momento de notar que tanto em maquinismos modernos
de campo como em reprodutores de raça não existe, ainda, nada fora
do trivial, causando até estranheza”.
Morimont instava às autoridades que as obras fossem
encaminhadas, insistia especialmente na conclusão do
Colégio-Internato, necessário para receber a primeira turma de
alunos. Durante o mês de agosto de 1896, chegara de São Paulo, como
enviado do governo para avaliação das construções, o engenheiro Sá
Rocha, acompanhado do desenhista Henzler. Animado. Morimont sentiu
que podia salvar o projeto, enviando ao Secretário sugestões para o
Colégio, o armazém e pedindo a permanência do desenhista Henzler
como fiscal das obras.
Em setembro, desgostoso com a
paralisação dos trabalhos, queixava-se dos erros cometidos nas
construções existentes, da ausência de fiscal de obras e do atraso
do pagamento correspondente ao terceiro trimestre, no valor de dez
contos de réis, que lhe deviam ser depositados na Coletoria de
Piracicaba. Ficavam pendentes as aquisições de caráter urgente para
a Fazenda, burros e bois para o desenvolvimento das culturas, vacas
leiteiras, adubos, sementes, cercas.
Apesar do clima de oposição e
abandono, Morimont ainda parecia muito empenhado na execução dos
seus planos e na salvação do projeto. Alentavam-no o entusiasmo dos
visitantes – pessoas ilustres, como a esposa do Presidente da
República, Dr. Prudente José de Moraes Barros – e o julgamento que
faziam sobre a futura Escola Prática.
Em outubro de 1896, parecia
inteiramente abandonado em Piracicaba. A falta de dinheiro era
angustiante, pois o Tesouro não liberava as verbas relativas ao
terceiro trimestre e ao mês, a parcela de setembro (cinco contos de
réis). Morimont já enviara telegrama ao cel. Dante, Diretor geral de
Tesouro, sem obter resposta. Sob aparente tensão, solicitava ao Dr.
Eugênio Lefevre que comparecesse, pessoalmente, a Piracicaba, para
julgar da verdadeira situação.
A suspensão das verbas e dotações
orçamentárias da Fazenda São João da Montanha, durante os meses de
setembro e outubro, parecia decorrer da decisão de afastá-lo do
cargo. As autoridades da Secretaria e do Tesouro faziam ouvidos
moucos às suas súplicas pela continuidade das obras e das verbas de
que dependia a sobrevivência do projeto. Contudo, humilhações e
silêncio como resposta não impediram que Morimont se mantivesse
empenhadíssimo em desempenhar a “sua missão”, até o momento em que
se viu afastado do cargo, nos primeiros dias de novembro.
Francisco Henzler o substituiu como
encarregado interino. Em 1o de
dezembro de 1896, tomava posse o novo Diretor Interino da Fazenda,
José Viegas, chamado com urgência a Piracicaba para preencher a
vaga. Durante o curto tempo em que permaneceu na Fazenda, o novo
Diretor viu-se atribulado com as ameaças de greve por parte dos
camaradas, em conseqüência dos atrasos das verbas que Morimont tanto
havia reclamado. Em 30 de janeiro de 1897, assumia a direção da
Fazenda o Engenheiro Adolfo Barbalho Uchoa Cavalcanti, permanecendo
José Viegas como o responsável pelas obras internas. Iniciava-se a
fase atribulada da montagem da Escola Prática de Agricultura, que se
estendeu até 1901.
A ruína do canteiro de obras e a
malversação do que construíra, sob o abandono a que ficou submetida
a Fazenda São João da Montanha, não impediram que o Projeto Morimont
permanecesse modelar, até a terceira década do século 20. A sua
concepção modular do saber, estruturado a partir das ciências
básicas e aplicadas, jamais foi superada, está na raiz do
desenvolvimento curricular da ESALQ, em sua vocação para a pesquisa
nas Ciências Agronômicas e em sua produção inovadora na agricultura
brasileira.
A trajetória para a implantação da
ESALQ teve muitos percalços, desde a sua idealização por Luiz de
Queiroz até a sua definitiva implantação.
Morimont foi demitido, sendo substituído por Adolfo Barbalho
Uchoa Cavalcanti. Apesar do grande interesse tomado para a
realização desse projeto, Jorge Tibiriçá não teve tempo suficiente
para fazê-lo, pois deixou a Secretaria da Agricultura para
candidatar-se à senatoria federal, cargo para o qual foi eleito. O
novo titular,Theodoro Dias de Carvalho, se esforçou para levar
avante o plano de Tibiriçá. Para levantar os ânimos lançou a pedra
fundamental do prédio principal em
1o de abril de 1896. Mas as obras
não progrediram e os jornais comentam ironicamente o “primeiro de
abril” pregado aos piracicabanos, comparando inclusive o fato com o
fracasso da primeira expedição federal contra os jagunços, em
Canudos. Outros Secretários da Agricultura também assim se sucedem:
Álvaro Augusto da Costa Carvalho e Firminiano Pinto.

Formação do Parque e
Edifício Central ao
fundo |
Assim como os diretores e os
secretários, os governos também se sucederam: Bernardino de Campos
transmite o cargo para Manuel Ferraz de Campos Sales, o qual, a fim
de se candidatar à mais alta magistratura do país, entrega o governo
para Francisco Peixoto Gomide. Este, como Presidente do Estado
dispensa o diretor Morimont e manda paralisar as obras. Foi o golpe
fatal no coração combalido de Luiz de Queiroz, que faleceu em 11 de
junho de 1898, sem ver inaugurada sua amada Escola. Mas seu “diretor
espiritual”, porém, mesmo depois de morto ainda zela pela herança
que deixou aos vivos, pois uma das cláusulas da doação marcava um
prazo para início de suas atividades.
No governo do cel. Fernando Prestes de Albuquerque, tendo
como Secretário da Agricultura Alfredo Guedes, foi promulgada a Lei
nº 678, de 13 de setembro de 1899, do Serviço Agronômico do Estado,
concedendo verba para continuação das obras, aquisição de móveis e
material escolar. Mas é seu sucessor, Antônio Cândido Rodrigues, que
decreta a Lei nº 683/A, de 29 de dezembro de 1900, criando a Escola
Prática São João da Montanha, em Piracicaba. O prazo para a
inauguração estipulado por Luiz de Queiroz estava prestes a
findar-se. Como o prédio principal não estava acabado, Cândido
Rodrigues mandou que se alugasse uma casa na cidade para a Escola
nela funcionar provisoriamente. Logo em seguida foi nomeado o
primeiro Diretor, Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho, assim como
os docentes: Lacordaire Duarte, Antonio de Pádua Dias, Aristóteles
Pereira, José Vatz e Augusto César Salgado – que desempenharia
cumulativamente o cargo de Secretário da Escola.
Em março daquele ano, Cândido
Rodrigues foi a Piracicaba para conhecer de perto o andamento que
tomava a Escola Prática São João da Montanha. Ficou tão
impressionado com o vulto da empresa a que se entregara seu
idealizador que, de volta a São Paulo, oficiou ao Presidente do
Estado, Francisco de Paula Rodrigues Alves, fazendo uma série de
elogiosas considerações ao doador da fazenda e propondo a alteração
do nome do estabelecimento para Escola Prática Luiz de Queiroz. Com
muita justiça, o Decreto 882, de 18 de março de 1901, promoveu a
modificação pleiteada.
No dia 1o de maio de
1901 abriu-se a matrícula aos futuros alunos; vinte dias depois,
iniciaram-se os exames de admissão. Foram aprovados onze alunos e
três ouvintes. Finalmente, no dia 3 de junho de 1901 a cidade
amanheceu em festa. O caminho que liga a cidade à Escola estava
ladeado de bambus com as extremidades entrelaçadas e cheias de
bandeirolas de papel multicor. A solenidade de inauguração foi
presidida por Cândido Rodrigues, ladeado pelos ex-Presidentes da
República Prudente José de Moraes Barros, Luiz Pereira Barreto, pelo
Diretor Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho e Antonio de Pádua
Dias, que serviu como secretário. Dentre os presentes destacava-se a
figura da nobre senhora Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, viúva do
patrono da Escola.
As aulas iniciaram-se sob regime de
externato; as teóricas eram dadas na casa alugada na cidade, e as
práticas na Escola Agrícola. Alguns alunos locomoviam-se de trote,
enquanto outros faziam o trajeto a pé. Ocuparam a diretoria da
Escola diversos professores. Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho
passou o cargo para Amandio Sobral. Ainda em 1902, Sobral foi
substituído por Francisco Soares, que posteriormente entregou o
cargo a Luciano de Almeida. Em 1904, o médico A. Dias Martins passou
a ocupar a diretoria.

Vista do Edifício Central |
Jorge Tibiriçá Piratininga, assumindo
a Presidência do Estado, chamou para ser Secretário da Agricultura o
médico piracicabano e adiantado agricultor Carlos José de Arruda
Botelho. Juntos planejaram e modificavam vantajosamente o projeto
Morimont, sob vários aspectos. Por decreto de 18 de fevereiro de
1905, reorganizaram a escola e deram-lhe novo regulamento.
Terminaram o edifício principal, e a casa do Diretor foi reformada;
construíram o lindo parque que circunda a escola, projeto do
paisagista Arséne Puttmans. Em 14 de maio de 1907, o novo edifício e
demais benfeitorias foram solenemente inaugurados. O edifício
principal comportaria um internato, obrigatório para os alunos do
curso fundamental e facultativo para os do complementar. Com essas
inaugurações iniciou-se um período áureo para a Escola Superior de
Agricultura "Luiz de Queiroz". Com muita justiça, a edilidade local
deu o nome de Avenida Carlos Botelho à via que liga a cidade à
Escola”.