O elo que aproxima a ESALQ de Humboldt

[A partir da esq.] Gábor Erdödy (U. Eötvös Loránd), Philip Li-Fan Liu (U.Nacional de Singapura), Mitchell Ash (U.de Viena), Sabine Kunst (U.de Humboldt), Raul Machado Neto (USP) e Daniel Garber (U.de Princeton) – Foto: Divulgação

A Universidade de Humboldt é a mais antiga universidade de Berlim, fundada em 1810 pelo linguista e educador Wilhelm von Humboldt. Segundo o professor Raul Machado Neto, presidente da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) da USP e professor do departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALQ), a instituição surgiu inserida em uma ótica inovadora para a época e acabou influenciando o modelo das universidades a partir de então. “Essa nova concepção, impressa por Wilhelm von Humboldt, e seu irmão Alexander, estava alicerçada sob o prisma da preservação da pesquisa básica e aproximação entre ensino e pesquisa como base para formação de profissionais”.

Em julho, Machado Neto esteve na capital alemã participando de uma apresentação em Humboldt University sobre “Wilhelm von Humboldt no mundo de hoje”, como parte da comemoração do aniversário dos 250 anos de Wilhelm von Humboldt. “A Universidade de São Paulo mantem com Humboldt o que chamamos de parceria estratégica, e temos construído desde 2015 um elo de contribuição científica nas mais diversas áreas do conhecimento”.

Em Berlim, o presidente da Aucani, um dos quatro representantes principais entre as parcerias internacionais da Universidade de Humboldt, falou sobre as aplicações dos conceitos dos irmãos Humboldt no âmbito das universidades ainda nos dias de hoje. “Os ideais de Humboldt ainda são bastante atuais, entre outros exemplos, a iniciativa que ocorre em diversos países de privilegiar universidades de excelência na pesquisa e a presente preocupação de manter a atividade de pesquisa atrelada ao ensino”.

Na ESALQ – Em sua fala, diante de autoridades acadêmicas nacionais e internacionais e do prefeito de Berlim, o professor da ESALQ contou o caso do professor alemão Friederich Gustav Brieger, um dos introdutores da genética mendeliana no Brasil, que lecionou na ESALQ entre 1936 e 1967. “No início do século 20, em Berlim, Brieger foi um jovem brilhante assistente do proeminente professor de Botânica Carl Correns, que atuava no Kaiser Wilhelm Institut für Biologie zu Berlin. Correns foi um redescobridor de Mendel”.

A vinda do professor Brieger para o Brasil teve como estopim o período que antecedeu a 2ª Guerra, quando o professor alemão deixou seu país de origem rumo à capital britânica, Londres. “Em 1936, devido à guerra, ele saiu da Alemanha, foi a Londres, onde teve conhecimento do anseio do professor Mello Morais, então diretor da ESALQ – ele estava a procura de um professor de citologia e genética”. Assim, Brieger e sua esposa Anneliese, aceitaram se mudar para Piracicaba.

Na ESALQ, Brieger foi fundamental para estabelecer pesquisas em Citologia e Genética, além de, segundo Raul Machado Neto, ter ajudado o reitor da USP a consolidar a necessidade de pesquisa associada ao ensino. “Brieger trabalhou duro para implantar o cargo de professor em tempo integral, o que significa o docente dedicado às atividades de ensino e pesquisa. E ao fazer isso, ele ajudou a implantar ideias de Humboldt na USP”.

Com a vinda de Friederich Gustav Brieger, foi criada em 1936 a Cadeira de Citologia e Genética Fundamental. Brieger foi um dos fundadores da Genética no Brasil e, em 1958, participou da criação do Instituto de Genética, anexo à Cadeira de Citologia e Genética da ESALQ. Em 1964 o Instituto foi oficialmente incorporado à USP. Com a reforma da USP em 1970, a Cadeira de Genética passou a constituir o Departamento de Genética, que se mantém até hoje com essa designação.

Texto: Caio Albuquerque (22/08/2017)

Boletim 186