Trabalho sobre uso de solos artificiais para a reabilitação de áreas impactadas pela mineração será premiado
No Brasil, a mineração gera mais de 200 mil empregos diretos e o setor é responsável por 5% do produto interno bruto (PIB). “Por outro lado, quando feita de forma irresponsável a mineração gera impactos ambientais bastante negativos”, aponta o engenheiro agrônomo Francisco Ruiz, autor de um estudo que avaliou solos que permitem a revegetação e a recuperação de cavas exauridas pela mineração ou abandonadas, conhecidos como Tecnossolos.
A pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e teve orientação do professor Tiago Osório Ferreira, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq.
O estudo foi desenvolvido na mineradora de calcário Amaral Machado, em Saltinho-SP. “A estratégia é completamente inovadora para o setor mineral no Brasil e consiste em reaproveitar os rejeitos produzidos pela própria mineração para construir solos, recompondo a topografia e revegetando as áreas. Essas áreas recuperadas estão agora sob pastagem e cana-de-acúcar”, explica o pesquisador, autor do estudo Weathering and incipient pedogenesis of Technosols constructed from dolomitic limestone mine spoils, que avaliou a rapidez e a qualidade com que esses Tecnossolos estão se formando.
Resultados – Segundo Ruiz, Tecnossolos com apenas 20 anos chegam a apresentar desempenho superior aos solos naturais do entorno quanto a aspectos ligados à fertilidade e ao conteúdo de matéria orgânica. “Considerando que são necessários cerca de 400 anos para se formar 1 cm de solo em condições tropicais, a taxa de formação dos Tecnossolos foi muito rápida, com pelo menos 10 cm de solo fértil formados em poucos anos”, afirma. “Os rejeitos do calcário eram livres de contaminantes e propícios à formação de solo. Caso contrário, outros materiais poderiam ser adicionados para que o solo se desenvolvesse adequadamente”. “O papel das plantas foi fundamental na formação de solo, ainda mais no caso das gramíneas (pastagem e cana-de-acúcar) que possuem um sistema radicular agressivo favorecendo o intemperismo e a liberação de nutrientes dos minerais, a adição de matéria orgânica em profundidade e a agregação do solo.
Francisco Ruiz destaca que o grupo de pesquisa tem realizado estudos combinando diferentes resíduos (domésticos e industriais) com rejeitos de mineração na construção de Tecnossolos eficientes em desempenhar diferentes funções, a depender da problemática (revegetação, barreira contra contaminantes e outros). Como exemplo, há um estudo no qual foram formulados Tecnossolos capazes de recuperar um solo contaminado por cobre, em conjunto com plantas acumuladoras deste metal (Acesse [2]) . “São soluções de baixo custo, que aliam o gerenciamento de resíduos e a recuperação de áreas degradadas. É possível não apenas recuperar cavas exauridas e abandonadas mas também mitigar mudanças climáticas e aumentar as alternativas de uso da terra para a produção de energia e alimentos. Assim os Tecnossolos destacam-se para o contexto nacional como alternativa original e extremamente promissora”, conclui.
Prêmio – O trabalho desenvolvido por Francisco Ruiz está entre os premiados do 22º. Prêmio de Excelência da Indústria Minero Metalúrgica Brasileira 2020, promovido pela Revista Minérios [3]. Os interessados podem ainda conferir os resultados na íntegra nas revistas científicas Geoderma [4], Minerals [5] e Chemosphere [2]
Texto: Letícia Santin | Estagiária de jornalismo
Revisão: Caio Albuquerque
08/06/2020