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Ano XI Número 35 março/2014 4

Seguindo mamíferos

Entre 2011 e 2012, o biólogo Marcelo Magioli percorreu áreas agrícolas e fragmen-tos florestais na RegiãoMetropolitana de Cam-pinas (RMC). Com objetivo de contribuir para a definição de estratégias e ações em prol da conservação da biodiversidade, Magioli regis-trou pegadas e coletou dados sobre a presença de mamíferos de médio e grande porte em áre-as rurais, fortemente impactadas pela ação do homem, nos municípios de Campinas, Artur Nogueira, Cosmópolis, Holambra, Paulínia e Jaguariúna. “A proposta foi obter informações acerca da composição de assembleias de ma-míferos de médio e grande porte em áreas agrí-colas, utilizar a análise de isótopos estáveis como ferramenta de pesquisa em ecologia e usar a diversidade funcional como uma medi-da diferenciada para avaliação de comunida-des naturais”, comenta o autor do estudo, apre-sentado no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da ESALQ.

O trabalho teve orientação da professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, do Departamento de Ciências Flores-tais (LCF), e a riqueza de espécies encontra-das surpreendeu os pesquisadores. “O relato de 27 espécies de mamíferos de médio e gran-de porte é algo inédito nessa região do Estado, caracterizada por altos índices de urbanização e industrialização, além da presença de uma movimentada malha rodoviária. No entanto, a maior surpresa foi poder relatar sete espécies em risco de extinção, entre elas o tamanduá-bandeira, um mamífero típico do cerrado, bioma presente em alguns fragmentos de me-didas reduzidas na região”, comenta Magioli. De acordo com o estudo, a presença das es-pécies ameaçadas de extinção reforça a necessi-dade premente de ações e estratégias emprol da conservação damastofauna naRMC.

Onçaparda– Pormeiodaanálisedeisótopos estáveis, Marcelo Magioli obteve informações acerca dos padrões de alimentação e do uso dos recursosdapaisagempelaonça-pardae suasprin-cipais presas em dois mosaicos agrícolas com diferentes proporções de cobertura vegetal. Se-gundo o pesquisador, a análise isotópica dos pelos coletados nas fezes se apresentou como uma forma alternativa de estudo com carnívo-ros silvestres. “Trata-se de um método não letal que evita processos de captura emanipula-ção das espécies”.

O estudo gerou informações pioneiras so-bre a capacidade do uso de recursos da paisa-gem pelas onças-pardas. “Notamos a alta plasticidade comportamental das onças-pardas e de suas presas emregiões altamentemodifica-das, utilizando fontes alternativas de recursos, geralmente encontrados na matriz agrícola, no caso a cana-de-açúcar”.

Diversidade funcional – O elemento que confere caráter inovador à pesquisa, no entan-to, refere-se à utilização da diversidade funci-onal. Esse método considera os aspectos indi-viduais de cada animal, o que permite o levan-tamento de informações detalhadas acerca do comportamento de cada espécie. Entre outros, fornece dados físicos e fisiológicos, compor-tamentais, de alimentação e de sensibilidade ambiental, enfim, um panorama mais comple-xo, que pode nortear políticas públicas de for-ma mais assertiva e individualizada. “A diver-sidade funcional se apresentou como uma medida que ofereceu maior complexidade às assembleias de mamíferos, diferente de medi-das tradicionais, como a riqueza de espécies”. A partir da identificação de limiares ecológi-cos de diversidade funcional é possível indi-car áreas prioritárias para conservação e defi-nir formas de ação específicas para cada uma

das situações. A pesquisa sugere que, para assembleias encontradas abaixo do primeiro limiar (< 52 ha), são incentivadas ações visan-do ao cumprimento da legislação ambiental brasileira (Código Florestal), enquanto para aquelas encontradas acima do segundo li-miar (> 1244 ha), a criação e manutenção de unidades de conservação são as mais cabíveis. “Assembleias de mamíferos presentes entre os dois limiares (entre 52 e 1244ha)merecemgran-de atençãopor parte de investimentos em inici-ativas visando promover a restauração bioló-gica emelhorias de configuração da paisagem”, conclui Magioli.

Fomento e equipe – As coletas de campo foram financiadas pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBio - 045/2011 – AFCoF II – Proteção da Mata Atlântica II) e Marcelo Magioli recebeu bolsa de estudos da Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Esteve envolvida aindaMárcia Gonçalves Rodrigues, analista ambiental do InstitutoChico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela coordenaçãodopro-jeto“PagamentoporServiçosAmbientaisnoCor-redor das Onças”, ao qual o projeto esteve asso-ciado.OsprofessoresMarceloZachariasMoreira e Plínio Barbosa Camargo, ambos do Centro de EnergiaNuclear naAgricultura (Cena)-USP au-xiliaramna etapa de análise de isótopos estáveis. A professora Eleonore Zulnara Freire Setz, da UniversidadeEstadual deCampinas (Unicamp) e a equipe de seu laboratório contribuíram na tria-gem e identificação das amostras fecais de on-ças-pardas. O professor Milton Cesar Ribei-ro, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), auxiliou na análise de dados, e a equipe de seu laboratório contribuiu na triagem e identificação das amostras fecais de felídeos e canídeos.

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