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pensa no "meio biscoito". Ou são fornecidas em gramas, sem que o consumidor saiba o peso exato do que coloca no prato.

O excesso também pode ser prejudicial. Às vezes, as informações das embalagens mais confundem do que esclarecem. "O produto se diz fonte de vitaminas, com pouco sódio, menos açúcar, entre outras coisas. É tanta propaganda e informação que há quem se sinta inseguro por não entender tudo aquilo", afirma.

DIVERSIDADE

A alimentação brasileira perde com a padronização do cardápio e a desvalorização de produtos locais

A diversidade de alimentos que pode ser acessada pela população em feiras, mercados e supermercados não condiz com a variedade do que chega cotidianamente ao prato da família brasileira, composto basicamente por arroz, feijão, alface e tomate, aponta Carlos Armenio Khatounian, da Esalq/USP.

Ele completa: em todo o mundo, apenas dez itens respondem por 90% da alimentação das pessoas. Entre eles: o milho, o trigo e o leite. "Caminhamos para uma simplificação alimentar. As pessoas vão às compras e voltam sempre com os mesmos itens na sacola, porque podem comprá-los durante o ano todo."

Entre os alimentos processados, a simplificação se dá na produção de sabores e tipos. É efeito do sistema agroalimentar moderno, centrado em poucas indústrias que dominam a produção e distribuição do que comemos. Segundo Khatounian, as companhias têm dificuldade em se adaptar às peculiaridades de tradições locais e oferecem os mesmos produtos, a partir dos mesmos ingredientes e métodos de processamento.

Outro problema da homogeneização das refeições é não seguir as estações do ano e transpor as diferenças entre os locais de origem das plantas, como se pudessem brotar em qualquer bioma. O resultado é que ingerimos muito mais agrotóxicos - empregados pelos produtores para que o arroz, feijão, alface e o tomate se desenvolvam mesmo em condições desfavoráveis.

Além disso, o modelo de produção dominante no Brasil pouco valoriza as espécies locais (mais em "Chega de anonimato"). Para Sandro Marques, professor de Cozinha Brasileira no Senac, o brasileiro aprendeu ao longo de nossa história a valorizar mais o que é estrangeiro. "Conhecemos melhor a maçã do que a mangaba. Uma criança reconhece mais o sabor artificial de morango do que o sabor de uma jabuticaba. Embora a história da cozinha seja feita de permutas e empréstimos entre diferentes culturas, a valorização dos produtos locais é importante para a criação de uma identidade nacional", diz.

SABOR

Educar o paladar é o primeiro passo para a alimentação saudável. Quem se acostuma com os sabores "grosseiros" perde a sensibilidade para os "sutis"

Na hora de escolher os alimentos, as pessoas colocam a praticidade à frente do sabor, revelou uma pesquisa encomendada ao Ibope pela da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) junto ao Ibope, que traçou o perfil do consumo de alimentos no Brasil (acesse aqui). Trinta e quatro por cento dos entrevistados disseram que praticidade e conveniência eram as prioridades na decisão, e 23%, que era o prazer e a sensorialidade.

Os números são um indicativo de como a vida apressada nos desconectou do ato de comer. E explorar as experiências do paladar é fundamental para o prazer e a boa educação alimentar. A infância é a fase crucial para essa educação. É nesse período que desenvolvemos nossos gostos e treinamos as papilas gustativas. Quem não aprende a comer alimentos variados na infância tem mais dificuldade em aprender depois.

Crianças tendem a preferir os sabores "brutos" (muito salgados ou muito doces), que tornam os alimentos mais fáceis de comer, e a não gostar dos "sutis"(como amargo e azedo). Quando as pessoas se acostumam com os sabores grosseiros, perdem a sensibilidade para os sutis. Por isso, oferecer apenas "alimentos de crianças" a elas pode ser uma armadilha. É preciso aprender a comer aos poucos os alimentos dos adultos.

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