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Qual é a razão da pobreza dos solos amazônicos?

São pobres por causa da composição mineral da argila caulinita. Por suas características físico-químicas, os solos possuem baixa capacidade de troca catiônica [íons de carga positiva] e, por isso, os nutrientes dissociados na solução do solo escoam junto com a água das chuvas para as camadas mais profundas. Não é o caso do tipo de solo conhecido como terra roxa, que ocorre na região Sudeste do Brasil, cuja fração de argila possui alta capacidade de retenção dos cátions. Na Amazônia é necessário existir uma cobertura vegetal que proteja o solo dos impactos da chuva e que, também, essa camada orgânica seja capaz de reter os nutrientes. E qual o sistema ideal? É o agroflorestal, um sistema misto de plantas perenes e anuais, que aproveitem as copas das árvores para proteger o solo. Abaixo das árvores ficam aquelas de ciclo anual, aproveitando o sombreamento parcial. Pode ser um consórcio com espécies florestais como andiroba e copaíba, por exemplo, e plantas destinadas à alimentação humana. A formação desse sistema pode variar no espaço e no tempo, dentro das exigências de cada planta. Por exemplo, o açaí, no momento que está nascendo, na fase de plântula, deve ter sombra, mas depois precisa de sol. Esse é um dos grandes problemas do desmatamento na Amazônia. Se o solo é descoberto, elimina-se a camada de material que o protege.

Qual é o papel das comunidades da Amazônia na preservação desse solo?

É a cultura tradicional que segue os mesmos princípios dos ancestrais. Para haver permanência humana no local é preciso produzir alimento e ter uma área de pesca e de caça para conseguir proteína. A agricultura deve ser permanente, senão haveria necessidade da prática de nomadismo em busca do alimento. Existem comunidades, famílias que estão no mesmo lugar há mais de 30 anos. O sistema de produção deve ser sustentado e todos os ingredientes ambientais necessários para isso devem ser reciclados. No cultivo de espécies de ciclo anual isso é possível dispondo simultaneamente uma pequena área de produção e áreas de pousio, onde ocorre a recomposição dos ambientes cultivados. Pousio é nossa capoeira, a mata que cresce depois de a vegetação natural ser cortada?

Sim. Quando o agricultor deixa de produzir na área do pousio, o solo readquire todas as funções de uma floresta. Isso acontece porque existe um reservatório de sementes que da mata vai para essa área que estava produzindo e recupera a vegetação. Essa prática permite o uso recorrente do solo para produção agrícola. Muitas vezes se ouve dizer que os agricultores destroem a floresta. Não é isso que acontece. Nos nossos levantamentos e estudos, vimos que a área de trabalho de uma família é de 1 hectare, porque eles não conseguem cultivar mais do que isso. A força de trabalho é o único insumo que o agricultor pode colocar lá para produzir. Se existe uma área de uma família que está centrada na agricultura tradicional e ao lado há uma área de exploração de madeira, essa situação inviabiliza esse tipo de agricultura. O pequeno agricultor não é o que desmata. Quem faz isso são outros agentes. Essas coisas nós aprendemos com a nossa vivência junto aos agricultores familiares. A conservação da água e a biodiversidade também são importantes para eles, para que essa agricultura mantenha a segurança alimentar o tempo todo.

© HIROSHI NODA / INPA

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