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Passei seis anos. Quando me formei, eu queria trabalhar na área de extensão da Revolução Verde, que é todo aquele aparato de assistência não só técnica, mas também social. Esse era um modelo norte-americano que estava sendo implantado no Brasil. Era uma coisa que eu queria fazer, embora gostasse da parte de melhoramento e de genética. Naquela época, li uma entrevista na revista Veja, em 1975, do professor Warwick Kerr [ex-professor da USP e de outras universidades e primeiro diretor científico da FAPESP], que tinha sido nomeado recentemente diretor do Inpa. Ele estava formando uma equipe e mandei uma carta dizendo que gostaria de trabalhar no instituto. Uma semana depois recebi a resposta perguntando se eu queria integrar uma equipe de melhoristas de sementes para a Amazônia. E que, se eu fosse para lá, poderia completar minha formação, fazer mestrado e doutorado. Fui falar com a minha noiva, porque faltavam 15 dias para o casamento. Surpreendentemente, ela disse: “Vamos”. Como foi essa mudança?

Eu sempre digo que na genética de populações existe um princípio denominado princípio do fundador, que diz ser o destino de uma população dependente dos genes de seus fundadores. E nós tivemos lá dois fundadores que eram excelentes. Um foi o Warwick Kerr e o outro o Alejo von der Pahlen, argentino com ascendência alemã. Era um pesquisador experiente, tinha sido diretor do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina, o Inta. Nós grudamos neles. Toda a parte da fundamentação do programa de pesquisa, da biodiversidade, da agricultura para a Amazônia, e a nova forma de concepção de como cultivar já estavam na cabeça deles.

O melhoramento de plantas o levou a produzir um novo cultivar para a região. Como foi a criação dessa variedade?

A murcha bacteriana provocada pela bactéria da espécie Ralstonia solanacearumataca solanáceas como tomate, berinjela e pimentão em nível global, em todo lugar com as características ambientais da Amazônia. O agente causador provoca doenças em muitas plantas cultivadas, como também em outras famílias, inclusive em espécies não domesticadas. Por quê?

Porque sempre há muita diversidade dessa bactéria. Se plantar em São Paulo num lugar mais quente ela vai aparecer. Não é específica da Amazônia, ocorre no mundo todo. No sistema de monocultivo, a vizinha da planta é outra planta igualzinha e fica mais fácil acontecer uma epidemia. Ela vai disseminando. Já a planta na floresta, por exemplo, é vizinha de outra espécie, então a bactéria fica restrita. E o tomate adaptado à Amazônia?

Depois de muito tempo, consegui uma nova variedade de tomate. Até hoje existe pesquisa grande sobre isso. Quando se trabalha com melhoramento de resistência, há dois tipos de reação que se pode encontrar. Tem o hospedeiro, que é o tomate, e a bactéria. Se inserirmos um gene de resistência no tomate, conseguiremos que ele seja resistente a um biótipo dessa bactéria. É uma relação ou interação que se denomina gene a gene. Como a população de patógeno é muito variável, em determinado momento aparece um mutante que seria capaz de acabar com a resistência do tomateiro. O problema do surgimento do mutante é este: eu não conseguiria produzir um tomateiro que fosse capaz de resolver esse problema da especificidade da resistência para a virulência do patógeno. Então, a abordagem escolhida foi inserir no tomateiro o que é denominado resistência horizontal ou poligênica. Para isso era necessário acessar as coleções de variedades de tomates cultivadas e selvagens existentes no mundo. Por exemplo, nos Estados Unidos tem um banco de germoplasma, com grande coleção de sementes de tomates do mundo. Entramos em contato com o responsável pela coleção perguntando se existia algum material que pudesse ser utilizado na Amazônia. Acessamos materiais existentes em outras instituições no Brasil e do exterior e testamos em Manaus. No período de 1975 a 1983 realizamos triagens para determinar o potencial para resistência contra a bactéria. O tomateiro é uma espécie autógama [reprodução por

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