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65 mil toneladas e presença em 65 países. Segundo Jairo, a revolução na empresa teve mais uma vez o apoio incondicional do pai e a dedicação apaixonada do primo, Leontino Balbo, responsável pela área. “A mudança valorizou nosso negócio”, diz. Jairo não se esquece da década de 1980, marcada pelos baixos preços do açúcar, alta dos insumos agrícolas e oscilações no mercado internacional. “Foram os piores anos de resultados para a empresa”, diz. Quem vê hoje a Native na lista dos 29 negócios considerados inspiradores para a economia verde, segundo a ONU, não pode supor a infinidade de desafios enfrentados em uma época em que a sustentabilidade não passava de ideal de comunidades hippies.

A primeira transformação foi implantar a colheita mecanizada no lugar da queima. Naquela época, eliminar o fogo do canavial era considerado um ato de insensatez, já que não havia sequer colheitadeiras apropriadas. O primo de Jairo deu um jeito e adaptou uma máquina tradicional para ela cortar, aspirar e depositar a cana no caminhão. Tempos depois, o protótipo criado na Usina São Francisco deu origem à primeira colheitadeira brasileira de cana verde. A ausência da queimada logo criou um ambiente fértil para a proliferação de insetos, que se alimentavam da cana com fome de leão. O contra-ataque veio por meio do emprego de uma das práticas do manejo integrado de pragas (MIP), com a liberação no ambiente da vespa Cotesia flavipes, que se alimenta da broca, larva que roe a cana.

O potencial energético do bagaço da cana começou a ser testado pelo Grupo Balbo há mais de duas décadas

Para José Roberto Parra, que coordena o laboratório de MIP da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) , em Piracicaba (SP), o manejo implantado no país há 40 anos foi uma resposta da comunidade científica ao uso indiscriminado de agrotóxicos, que tornam os insetos mais resistentes, contaminam alimentos e o lençol freático. “Quando 3% da lavoura de cana estiver infestada pela broca, o produtor solta 6 mil dessas vespinhas por hectare. Aí é esperar que elas façam o serviço”, explica. O eficiente inseto foi capaz de reduzir as perdas nas lavouras de todo o país – que, na década de 1980, chegavam a US$ 100 milhões por ano e agora não passam de US$ 20 milhões. O Brasil conta hoje com 80 laboratórios, que produzem um exército de 60 bilhões de vespas, liberadas anualmente em 3,5 milhões de hectares, quase metade da área total de canaviais.

As práticas agrícolas do Projeto Cana Verde se associam a outras parcerias com o meio ambiente. A rotação de culturas com crotalária controla os nematoides. O solo vivo é alimento para os milhões de minhocas que o tornam mais fértil, aerado e bem estruturado. E há ainda a fixação biológica de nitrogênio, comum também na sojicultura . Conforme o pesquisador Gustavo Xavier, da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ), as bactérias da família Rhizobiaceae presentes naturalmente nessas lavouras são potenciais fixadoras desse elemento, que atua em todas as fases da planta – crescimento, floração e frutificação – e as fortalece contra pragas e doenças. Elas também podem ser aplicadas na forma de inoculantes (ou sementes inoculadas), para aumentar a produtividade no campo. O uso dessa técnica proporcionou economia de US$ 6 bilhões por ano com fertilizantes nitrogenados ao país. O produto foi um dos pilares da Revolução Verde , que deu à agricultura escala industrial no século passado, mas pouco se comenta sobre o problema ambiental que causa ao se infiltrar invisivelmente no solo, na água e no ar todos os dias.

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