Homenagem a José Dias Costa

José Dias Costa (Crédito: Gerhard Waller - ESALQ/DvComun)

Faleceu no último sábado, 26 de agosto de 2017, o Sr. José Dias Costa, docente aposentado do Departamento de Produção Vegetal (LPV).

Em março de 2017, a partir da iniciativa do Departamento de Produção Vegetal da ESALQ, uma das salas do Laboratório Multiusuário de Produção Vegetal recebeu o nome de José Dias Costa. Em cerimônia ocorrida no Laboratório Multiusuário de Produção Vegetal, estiveram presentes o diretor da ESALQ, professor Luiz Gustavo Nussio, o vice-diretor, professor Durval Dourado Neto, além de docentes, funcionários, amigos e familiares do homenageado. “O professor José Dias Costa é muito importante para nossa unidade, essa é uma oportunidade muito justa de homenagear um professor que transitou em muitas gerações. Hoje estamos reconhecendo a figura humana de uma pessoa superlativa, que sempre cativou a ESALQ pelo seu espírito institucional, de maneira que foi muito apropriada a iniciativa do Departamento de Produção Vegetal em lembrar da atuação do docente e poder fazer uma homenagem tão oportuna”, declarou o diretor da ESALQ.

O docente foi o entrevistado do Projeto Memória e o texto foi publicado em setembro de 2014, na edição nº 37 do ESALQ notícias. Abaixo segue entrevista na íntegra.

ESALQ Notícias | Projeto Memória | Setembro de 2014

“Sinto-me realizado como professor e orientador”

Nascido em 19 de agosto de 1939, em Jaú (SP), José Dias Costa é o caçula da família de cinco irmãos. Seu pai era engenheiro, professor de Ciências e cafeicultor e sua mãe professora. “Meu pai sempre plantou café. Essa história do café já vem dos meus avôs paternos e maternos, que eram cafeicultores na região de Jaú. Um dos meus avôs, formado na São Francisco, USP, casou-se com filha de um fazendeiro de Limeira (SP). Como era comum pagar dotes naquela época, ele ganhou 50 alqueires de terra, em Jaú. Foi então que ele formou a fazenda Belo Horizonte, que é propriedade da família até hoje. Naquele tempo, o café dava muito lucro, valia ouro!”.

Antes mesmo de vir estudar na ESALQ, já conhecia Piracicaba. “Minha mãe estudou e formou-se na Escola Normal Sud Mennucci em 1930. Nós temos laços de amizade e parentesco com pessoas de Piracicaba. Tenho primos distantes. Por isso, nós vínhamos bastante para cá”. Ingressou na ESALQ em 1959, como estudante da primeira turma a cursar Engenharia Agronômica em 5 anos. “Naquela época a seleção era realizada pelos próprios professores da Escola”. Morou em uma república chamada Fofoca, onde dividia o quarto com outros três estudantes. “[A república] ficava no centro, perto da Igreja São Benedito. Era uma casa grande, de esquina. A porta ficava sempre aberta, entrava quem quisesse (risos)”. Também foi um dos primeiros moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU). “Fui campeão do primeiro campeonato de xadrez da CEU e diretor de Xadrez da Associação Atlética Acadêmica Luiz de Queiroz (AAALQ)”.

Na graduação, lembra que como sua turma foi a primeira a ter cinco anos de duração, passou a ter disciplinas optativas por áreas. “Então eu optei pela área de fitotecnia e assim fiz as disciplinas de café, arroz, milho, que eram as principais, entre outras matérias ligadas à produção vegetal”. Formou-se em 1963 e, em seguida, foi aprovado em concurso na Secretaria Estadual da Agricultura e assim trabalhou por um ano e meio como agrônomo regional na antiga Casa da Lavoura, em Itapuí (SP). Em 1965, foi convidado pelo professor Edgard do Amaral Graner para ser professor da 4ª Cadeira,Agricultura e Genética Aplicada, que depois passou a ser Departamento de Agricultura e, finalmente, Departamento de Produção Vegetal (LPV). “Entrei como instrutor e depois passei a ser professor-assistente. Na sequência, fiz a pós-graduação na ESALQ, concluindo o doutorado em 1971”. Por décadas foi o responsável pela disciplina Cultura do Cafeeiro tanto na graduação quanto na pós-graduação. “Em 2013 inclusive elaborei, para a revista Visão Agrícola, a linha do tempo com a história do café, que se funde com a própria história do Brasil”. Além da cafeicultura, Dias Costa também lecionou conteúdos referentes às culturas da seringueira, algodão, cacau, adubos verdes e crotalaria juncea. “A partir de 1985 passei a dedicar boa parte do meu tempo à cultura da seringueira”. Assim implantou na ESALQ experimentos com seringueira em uma área de 4 ha, próxima ao Posto Meteorológico do Campus. “Esse seringal existe até hoje e foi utilizado para a elaboração de dezenas de dissertações e teses, contemplando diversas áreas do conhecimento agronômico”.

Entre as curiosidades da vida acadêmica, em certa ocasião, acompanhou o então diretor da ESALQ, João Lucio de Azevedo, e o colega de departamento, professor Marcos Bernardes, à China. “Visitamos a Grande Muralha, as Tumbas Imperiais e a Cidade Proibida e fomos recebidos pelo embaixador do Brasil. O curioso é que no jantar fora servido, em ambiente de muito mistério, um prato apontado como medicinal, que diziam curar artrite e artrose: escorpião frito! Não tive dúvidas, saboreei os escorpiões devidamente fritos (risos). Essa viagem foi a melhor de todas!”.

Aposentou-se em 1995, mas continuou por cerca de 10 anos com intensa atividade docente. “Sem nenhuma remuneração adicional. Sinto-me realizado como professor e orientador”. Ainda participa como membro de banca de mestrado e doutorado, além de integrar projetos e atividades do Grupo de Experimentação Agronômica (GEA). “Após minha aposentadoria, foi contratado o professor José Laercio Favarin, que deu continuidade às nossas atividades didáticas e de pesquisa”. Orientou mais de 50 teses de pós-gradua- ção e participou de mais de uma centena de bancas examinadoras de pós-graduação, além de comissões de concurso para admissão de professores nas faculdades de agronomia de Jaboticabal, Botucatu e Manaus. “O ápice da gratificação como docente alcancei quando por algumas vezes fui homenageado pelos alunos como um dos melhores professores da ESALQ. Encontro ex-alunos com frequência e não há nada que supere a satisfação de ser lembrado e valorizado por eles e chamado: “Oi professor!”.

Boletim 187