A favor da convergência

Marcos Sorrentino, docente do LCF (Crédito: Gerhard Waller - ESALQ/Acom)

Qual o significado da Medalha Defesa Civil Nacional?

Durante pouco mais de um ano estive no Ministério da Educação como assessor especial para a política ambiental do Ministério. Nesse período articulei conversas com os ministérios da Integração, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente, para que as questões referentes aos desastres naturais, não ocorram apenas na instância da Defesa Civil após o desastre. O propósito é que as instâncias federais desenvolvam um trabalho educador que anteceda o desastre e possibilite que essas populações em áreas de risco estejam sintonizadas com os sistemas de alertas, com medidas de evacuação e preventivas e possa assim minimizar os impactos e evitar a perda de vidas.

Articulador é um traço marcante na maneira de agir?

Ser articulador é um papel e uma missão de quem trabalha com Educação. Se nós temos uma concepção de Educação que não é a de depositar conteúdo na cabeça das pessoas, mas sim possibilitar que o aprendizado se instaure nas pessoas e entre elas, então o educador atua como facilitador tanto no acesso ao conteúdo quanto no fomento ao diálogo crítico, capaz de interpretar os problemas socioambientais e construir ações para a transformação desses problemas em melhores condições de vida e existenciais.   

Como ocorreu sua identificação com a esfera ambiental?

Sou paulistano da zona leste, de família operária e quando tinha quinze anos minha família mudou-se para Embu das Artes. Lá descobri a importância e os benefícios que a natureza traz para a vida do ser humano. Desde então persigo a convergência da ação conservacionista em defesa dos bens naturais e as possibilidades de fazer isso em prol do ser humano.

A educação ambiental tem em sua essência o princípio da convergência entre duas áreas do conhecimento. Essa convergência está permeada na sua formação?

Sim e ainda na graduação percebi que a Biologia, de forma solitária, não contemplaria o comprometimento do ser humano com a dimensão conservacionista e com o que estávamos descobrindo no final da década de 1970, ainda sob vigência da ditadura. Assim, da convergência entre o campo ecológico e as questões sociais forjou-se meu agir ambientalista, tanto que ainda na década de 1970 participei do movimento em defesa da reserva de Morro Grande e região de Caucaia do Alto, em Cotia (SP), contra a construção do aeroporto metropolitano. Em 1977 participei da criação da Associação de Proteção Ambiental de São Carlos, entidade que atua até hoje. Foi essa a forma que eu e tantos outros encontramos para atuar em prol da reconstituição da democracia no país.

A convergência entre educação e ambientalismo ainda não está consolidada na pauta dos governos, da mídia e da comunidade científica?

Em todos os campos essa convergência ainda está obnubilada, esmaecida e esquecida. A mídia aborda a questão ambiental apenas sob enfoque ecológico, emotivo ou sensacionalista e não aprofunda devidamente a conexão entre a nossa forma de organização, o modo de produção e consumo e essa degradação socioambiental que vivemos, potencializando assim os seres humanos para transformações sociais.

O que falta para a cobertura jornalística nesse sentido?

Falta abrir o espaço para o diálogo aprofundado e mostrar a relação entre a autonomia do Banco Central e a degradação socioambiental ou relação entre o aquecimento global e o que é ensinado de Biologia, Matemática na sala de aula. Faltam esses ganchos analíticos que permitam as pessoas a saírem da zona de conforto e compreenderem as causas e consequências da degradação. Falta a para mídia e para academia. Estamos cada um na nossa caixinha, fazendo estudos aprofundados e específicos e dificilmente fomentamos o diálogo entre pesquisadores para uma compreensão ampliada dessa problemática.

E na esfera governamental, também ocorre esse distanciamento?

O governo fica refém desse comportamento isolado entre ministérios, secretarias, diretorias, não compreendendo que a solução do problema socioambiental exige a união e dialogo de todos os atores para o planejamento e a ação estruturante de solução desses problemas.

Entre 2003 e 2008 você atuou como Diretor de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Como contribuiu para aproximar as instâncias em prol da educação ambiental no País?

Tive a oportunidade de colocar em prática a Política Nacional de Educação Ambiental que foi aprovada em 1999, regulamentada em 2002 e foi implantada em junho de 2003 por um ato conjunto da então ministra do Marina Silva e do então ministro da Educação, Cristovam Buarque. As equipes dos dois ministérios trabalharam em conjunto, um fato inédito. Assim criou-se o Programa Nacional de Educação Ambiental, com subprogramas que buscavam estruturar na sociedade uma proposta denominada de coletivos educadores socioambientalistas.

Qual o principal entrave para se consolidarem políticas de educação ambiental?

A nossa leitura é que a questão ambiental atrelada ao componente da educação exige mudança cultural, e essas não ocorrem com ações vaga lume, que acendem e apagam, ou seja, que não tem continuidade, permanência e articulação entre os atores. Só assim economizamos recursos, criamos sinergias e possibilitamos as transformações duradouras que a temática ambiental exige.

Fale um pouco sobre o Laboratório de Educação e Política Ambiental – Oca, do qual é coordenador na ESALQ.

A Oca não é uma sigla, mas um local de encontro, assim como fazem os índios, que dialogam em círculo e falam tanto sobre os sonhos que tiveram quanto sobre a divisão de tarefas. Lá desenvolvemos projetos em duas vertentes. Uma voltada aos conceitos de educação ambiental, que incluem o diálogo, a identidade, a comunidade, a potência de agir e felicidade. No segundo campo e o da ambientalização, seja dos municípios, das instituições, dos grupos sociais. Aqui na ESALQ somos parceiros do Plano Diretor Socioambiental, na construção do Programa Universitário de Educação Ambiental, que destina-se a ambientalizar, a trazer a lógica ambiental para as instâncias do ensino, da pesquisa e da extensão e da gestão universitária.

Como a universidade pode consolidar políticas de educação ambiental dentro da sua realidade?

Equilibrando ações de Extensão, Ensino, Pesquisa e Gestão. Agora estou diante de um desafio maravilhoso, assumido pela gestão central da universidade que é a formação dos 17 mil servidores da USP como educadores ambientais. Nesse desafio pretendo canalizar a minha contribuição nesses anos finais de carreira.

Texto: Caio Albuquerque (05/01/2015)

Boletim 55