
Avaliar as propriedades químicas do solo sob diferentes práticas de manejo é essencial para compreender o impacto da introdução de espécies arbóreas, incluindo espécies exóticas, nesses sistemas. Além disso, analisar a comunidade microbiana do solo é fundamental, considerando o declínio observado na biodiversidade microbiana sob manejos convencionais.
Isso é o que tem feito a engenheira agrônoma Tamires Ercole, no Programa de Pós Graduação em Solos e Nutrição de Plantas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Sob orientação do Prof. Luis Reynaldo Ferracciú Alleoni, do Departamento de Ciência do Solo, Tamires tem se aperfeiçoado no crescimento da população mundial, pois este exige o aumento da produção de alimentos, ao mesmo tempo em que se garanta a sustentabilidade ambiental. “Sistemas agrícolas integrados têm surgido como uma estratégia promissora para alcançar esse equilíbrio”, afirma a pesquisadora.
Tamires está passando um ano no North Florida Research and Education Center, uma Estação Experimental da Universidade da Florida, na cidade de Marianna, com bolsa da Fapesp. Lá apresentou, neste mês de novembro, o trabalho intitulado Soil quality Indicators as tools to assess the sustainability of integrated cropping systems. Nessa ocasião, recebeu o prêmio de melhor apresentação oral na Divisão de Pastagens e Forrageiras da reunião anual da Crop Science Society of America, em Salt Lake City, EUA.
“Neste estudo, avaliamos atributos químicos e biológicos do solo em pastagem convencional, sistemas integrados e floresta nativa para fornecer informações sobre qualidade e sustentabilidade do solo. Os parâmetros de qualidade do solo incluíram atividade enzimática, conteúdos de carbono e nitrogênio, assinaturas isotópicas naturais (δ¹³C e δ¹⁵N) e composição da comunidade bacteriana”, esclarece a doutoranda.
Esse experimento vem sendo conduzido há 13 anos na área experimental da Embrapa Pecuária Sudeste sob condições tropicais no Brasil, incluindo os sistemas Floresta Nativa (NF), Pastagem Contínua (CONT), Pastejo Rotacionado (ROT), Integração Lavoura-Pecuária (ILP), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Integração Pecuária-Floresta (IPF).
“Os solos da floresta nativa apresentaram maiores atividades enzimáticas, maiores teores de carbono e nitrogênio, menores relações C/N e maior diversidade bacteriana, refletindo um ambiente de conservação com matéria orgânica estável. No entanto, esses sistemas não produzem alimentos”, explicou a pesquisadora.
O estudo demonstrou que o sistema ILP indicou alta capacidade de fornecer serviços ecossistêmicos enquanto produz diferentes tipos de alimentos na mesma área. Da mesma forma, sistemas que incorporam árvores, como ILPF e IPF, exibiram maior riqueza microbiana e relações C/N equilibradas, destacando o papel positivo da agrofloresta na ciclagem de nutrientes, na sustentabilidade e na produção tanto de alimentos quanto de madeira.
“Dessa forma, evidencia-se que o futuro da agricultura depende da adoção de sistemas capazes de ofertar serviços ecossistêmicos e ao mesmo tempo a produção eficiente de alimentos”, concluiu Tamires.
Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 | 17.11.2025