Transgenia pode ajudar no manejo do HLB em citros

Estudo foi desenvolvido por Tatiane Loureiro da Silva, sob orientação do professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) (Crédito: Gerhard Waller)

O Brasil é o maior produtor de laranja doce no mundo. No entanto, graves problemas vêm sendo registrados no que se refere à redução da produtividade dos pomares devido a pragas e doenças. Entre estas doenças, destaca-se o Huanglongbing (HLB), ou greening, doença associada a três espécies da bactéria Candidatus Liberibacter. No Brasil, o psilídeo Diaphorina citri é o inseto transmissor do HLB. “Não há cultivares de laranja doce resistentes ao HLB. Desta forma, a transformação genética de plantas pode ser mais uma medida em potencial para o manejo desta doença”, comenta Francisco de Assis Alves Mourão Filho, professor do Departamento de Produção Vegetal (LPV), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).

No Programa de Pós-graduação (PPG) em Fisiologia e Bioquímica de Plantas, Mourão orientou um estudo com objetivo de selecionar um gene essencial para a sobrevivência de D. citri, a subunidade A da V-ATPase e produzir plantas transgênicas de laranja doce expressando um hairpin (RNA de dupla fita) da V-ATPase-A, visando controle do psilídeo.

Tatiane Loureiro da Silva, bióloga e autora da pesquisa, conta que, com base em artigos publicados demonstrando o potencial do mecanismo de RNAi no silenciamento de genes essencias em insetos considerados pragas para a agricultura, surgiu a ideia de produzir plantas transgênicas de laranja doce expressando um fragmento de um gene essencial para o psilídeo Diaphorina citri. “Dessa forma, o silenciamento gênico por RNA de interferência seria ativado no psilídeo quando este for submetido à alimentação nas plantas transgênicas”, explica Tatiane. O trabalho teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foi desenvolvido no Laboratório de Biotecnologia de Plantas Hortícolas, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) da USP/ESALQ, em colaboração com o pesquisador Ricardo Harakava, do Instituto Biológico de São Paulo.

O estudo confirmou 65 plantas transgênicas, sendo 26 plantas de laranja ‘Hamlin’ e 39 de laranja ‘Valência’. Parte destas plantas já foi analisada, comprovando estarem processando o dsRNA da V-ATPase-A em siRNA (pequenos RNAs interferentes), os quais são intermediários na via de silenciamento gênico por RNA de interferência. “Caso seja comprovado, por meio de trabalhos posteriores, que ninfas de D. citri apresentem diminuição da expressão do RNAm da V-ATPase-A e registrem menor sobrevivência ao se alimentarem em plantas transgênicas de laranja doce expressando o dsRNA da V-ATPase-A, sem dúvida, esta será uma nova alternativa para o manejo do huanglongbing, através da diminuição da população do psilídeo, vetor das bactérias associadas ao HLB”, destaca Tatiane.

O orientador da pesquisa reforça que este é um trabalho pioneiro: “Até o momento, não são relatados dados na literatura científica sobre transgenia em citros visando o controle de insetos vetores de patógenos com base no mecanismo de RNAi. A maioria dos estudos relacionados à transformação genética em citros para resistência a doenças visam o controle dos seus respectivos agentes causais (ou patógenos), e não o controle dos vetores destes patógenos”, finaliza Mourão.

Texto: Caio Albuquerque (17/03/2014)

Boletim 14