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CONTROLE ESTATÍSTICO DA QUALIDADE
 
CONCEITOS GERAIS E HISTÓRICO  
 

   O termo Qualidade, segundo a definição dada pela Norma ISO 8402 (International Organization for Standartization) é: 
 

"a totalidade das características de uma entidade que lhe confere a 
capacidade de satisfazer necessidades explícitas e implícitas dos clientes"
 
    Exemplo:
  • Entidade: uma empresa de prestação de serviços.
  • Necessidades explícitas: as especificadas em contrato.
  • Necessidades implícitas: as que a empresa tem que satisfazer, embora não especificadas em contrato, para obter um diferencial competitivo.

    O controle estatístico da qualidade na indústria visando eficiência, produtividade, vendas, etc, popularizou-se, segundo Westgard & Barry (1986), a partir do trabalho de W. E. Deming, estatístico que atuou na área de controle de qualidade das forças armadas norte-americanas durante a Segunda Guerra Mundial e que, no pós-guerra, foi levado para o Japão pelo General Douglas MacArthur com a função de ajudar na reconstrução da indústria japonesa. Assim, ironicamente, muitas técnicas que ajudaram os Estados Unidos da América em tempos de guerra, também ajudaram o Japão em tempos de paz. Deming tinha trabalhado com Walter Shewhart, o pai do controle estatístico da qualidade e criador dos gráficos de controle, uma das ferramentas mais poderosas do controle estatístico de processos, e do Ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action), ferramenta fundamental para o gerenciamento da qualidade. 

   A estratégia básica na gestão da qualidade de Deming foi a utilização da estatística para a tomada de decisão, dando ênfase ao uso de dados numéricos (Deming, 1990). 

   Nos anos 50, Deming levou para o Japão J. M. Juran, criador do princípio e do gráfico de Pareto. Segundo esse princípio, intensamente utilizado na indústria japonesa, um pequeno número de causas é responsável por alta proporção dos problemas. É a regra dos 80-20, isto é, em linhas gerais, 80% dos problemas se devem a 20% das causas. 

   Juran também postulava que a qualidade deve ser melhorada item por item, e ocorre quando cada um dos problemas é diagnosticado e resolvido (Juran & Gryna, 1993). A importância de Deming e Juran para a indústria japonesa pode ser medida pelo fato de, até o presente, os prêmios da qualidade mais relevantes do Japão, e talvez do mundo, serem o Prêmio Deming e o Prêmio Juran. 

   Um discípulo de Deming, Karou Ishikawa, lançou a idéia das Sete Ferramentas para o Controle Estatístico de Qualidade: Folha de Verificação, Estratificação, Diagrama de Pareto, Histograma, Diagrama de Ishikawa, Diagrama de Dispersão, Gráfico de Controle de Processos ou de Shewhart, sendo também o criador do Diagrama de Ishikawa ou Diagrama de Causa Efeito (Ishikawa, 1982). 

   Esse conjunto de técnicas foi intensivamente aplicado nas indústrias nipônicas e usado no treinamento dos Círculos de Controle da Qualidade (CCQ), no Japão, considerados por Juran de fundamental importância na revolução tecnológica acontecida naquele país no pós-guerra. Até 1981 tinham sido criados aproximadamente 1.000.000 CCQs, com uma participação média de 10 pessoas por CCQ e aproximadamente 1,5 projetos implementados por CCQ (Juran, 1981). 

   Ishikawa afirmava que o uso dessas ferramentas resolve aproximadamente 95% dos problemas de qualidade em qualquer tipo de organização, seja ela industrial, comercial, de prestação de serviços ou pesquisa. 

   Segundo Vieira (1997), as Sete Ferramentas para o Controle da Qualidade devem estar associadas, na cultura japonesa, com as sete armas dos samurais, fazendo uma alusão implícita à competitividade e à sobrevivência empresarial. 

   As técnicas de controle estatístico da qualidade são reconhecidamente abrangentes. O histograma e o gráfico de controle foram utilizados como metodologia básica em um trabalho sobre melhoria da qualidade em operações agrícolas, feito na ESALQ e ganhador do Prêmio Nacional da Qualidade do CNPq, Fundação Roberto Marinho e Fundação Gerdaux (Pasqua et al., 1996). O fato evidencia a potencialidade dessas ferramentas em processos de melhoria da qualidade no âmbito agrícola. 

   As sete ferramentas estatísticas para o controle da qualidade utilizam técnicas univariadas paramétricas. Existem outras ferramentas, baseadas em técnicas estatísticas multivariadas, paramétricas ou não, como MANOVA, PCA, Correlações Canônicas, Análise de Fatores, Análise Fatorial de Correspondências, Cluster, RANOVA e RMANOVA, as duas últimas não-paramétricas (Negrillo, 1992). 

   Segundo New York Times e The Wall Street Journal, o uso do controle estatístico da qualidade diminui o nível de perdas nas empresas de 25% para 1%, sendo a principal metodologia quando se pretende atingir qualidade e produtividade (Duncan, 1986). 

   Descrições detalhadas sobre fundamento e aplicação das técnicas de controle estatístico da qualidade podem ser consultadas em Duncan (1986), Juran (1981), Montgomery (1991) e Vieira (1997). Abordagens teóricas e aplicadas sobre metodologia de amostragem, imprescindível para dimensionamento de tamanho amostral, base para o trabalho de controle da qualidade são apresentadas por Cochran (1977), Duncan (1986) e Montgomery (1991). 

   Um trabalho pioneiro sobre controle de qualidade da matéria-prima para a indústria sucroalcooleira com ênfase nas sete ferramentas para o controle da qualidade e outras técnicas estatísticas, pode servir como referência de aplicação prática dessa tecnologia (Sarriés, 1997).

   Westgard & Barry (1986) consideram que o mentor do sistema japonês de Controle de Qualidade Total foi Armand V. Feigenbaum, que criou uma segunda focalização nos processos de garantia da qualidade, baseada no estudo de custos, interagindo permanentemente com a focalização tradicional, sempre vigente, o Controle Estatístico da Qualidade (ferramental analítico imprescindível). 

   Feigenbaum (1994) relata que trabalhou durante dez anos na Companhia General Electric e, posteriormente, foi presidente da Companhia General System (especializada em gestão da qualidade); com base nessa experiência, desenvolveu o conceito de custo-qualidade e seus componentes, isto é, custos da prevenção e de acontecimento de falhas. 

 
 
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© Copyright 1998-2020 ESALQ/USP. Todos os direitos reservados. 
Por: Andrés E. L. Reyes (SIESALQ-ESALQ/USP) e Silvana R. Vicino (DME-ESALQ/USP)