Alysson Paolinelli defendeu na ESALQ a integração entre ciência e desenvolvimento

Alysson Paolinelli (crédito: Gerhard Waller)

A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) realizou, em 3 de outubro, mais uma edição do projeto Diálogos na ESALQ. Desta feita, o engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli abordou o tema “Brasil/2040 – Player Central da Oferta de Alimentos - A Agricultura Tropical Sustentável e a Integração Ciência, Natureza, Desenvolvimento na Trajetória Brasileira”. Em entrevista, Paolinelli falou sobre a união entre ciência, natureza em desenvolvimento nas esferas de governo e na academia

O Sr. defende o conceito que integra Ciência, Natureza e Desenvolvimento no ambiente governamental e na academia. Como isso deve ocorrer na prática?

Alysson Paolinelli (AP): Não só defendo como temos que tomar isso como uma regra sem restrições. O país tem se desenvolvido graças ao esforço da ciência, manejando de forma adequada os recursos naturais em um clima tropical. As terras tropicais sempre ficaram relegadas às culturas como café, cacau, a madeira tropical e a borracha. Foi a partir do embate da ciência com a natureza tropical que conseguimos provocar inovações fundamentais.

Em qual cenário essas inovações podem ser dadas exemplos de êxito?

(AP): Conseguimos fazer com que os biomas tropicais pudessem se transformar em uma das áreas mais produtivas do globo e com vantagens comparativas porque essa competição não se faz na comparação da qualidade e preço, se fez também em sustentabilidade e aé está a grande diferença. Desenvolvemos pela Ciência e pela Tecnologia a bioenergia e a ESALQ tem muita contribuição nesse processo. Essa casa aqui foi fundamental nessa evolução, sempre se despontou como uma liderança sem precedentes na busca pelo desenvolvimento da natureza a partir da ciência, sem choques.

Como devemos enfrentar o desafio de alimentar uma população global que cresce e ao mesmo tempo buscar novas alternativas de produção de alimentos? 

(AP): Esse é um desafio mundial e os atuais estudiosos e organismos internacionais enxergam que o Brasil tem um papel muito importante. Chegam a apontar que 40% da nova demanda teria que ser oferecida pelo Brasil. Mas esse é um desafio agradável, pois temos uma diversidade de biomas e precisamos aprender a manejá-los sem degradar. Biomas como a Amazônia, o Semiárido, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal e os Pampas se repetem em todas as regiões tropicais. Se aprendemos a manejá-los, aprendendo a retirar deles a melhor produtividade, sem degradação, será uma inovação que dará um alento às novas populações.

A Ciência brasileira está caminhando para esse manejo correto?

(AP): Daqui a 35 anos os recursos serão mais escassos e já aprendemos a fazer isso com o Cerrado, e ainda temos mais de 60% do Cerrado com mata nativa. Esse é o papel da ciência e nossas universidades detém o maior e melhor conhecimento relacionado à agricultura tropical

Qual a importância de abordar temas como esse na ESALQ?

(AP): Desde seu nascimento, a ESALQ teve uma liderança natural nas ciências agrárias e foi por meio dela que atingimos muitas das inovações na área. As universidades são repositórios do conhecimento da agricultura tropical e as instituições de pesquisa dependem de escolas como a ESALQ. Não pode haver um divórcio entre as instituições de pesquisa e a academia e Piracicaba sempre nos ajudou nessa integração.

Texto: Caio Albuquerque (03/10/2016)

Boletim 142