Homenagem a Janeti Lourdes Bombini de Moura

Janeti Lourdes Bombini de Moura (crédito: Gerhard Waller)


Com pesar, comunicamos o falecimento da Sra. Janeti Lourdes Bombini de Moura, bibliotecária aposentada e Diretora da Divisão de Biblioteca da Esalq (1989-1998) e da Biblioteca do Cena (1972-1985), ocorrido na última sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023.

A missa em sua memória será realizada na próxima quinta-feira, dia 16 de fevereiro de 2023, às 19h, na Paróquia Santa Cruz e São Dimas (Rua Dona Eugênia, 819 - Piracicaba/SP).

A edição nº 54 do boletim Esalq Notícias, de dezembro de 2018, trouxe uma entrevista concedida por Janeti à equipe da Divisão de Comunicação da Esalq. Lá ela conta sua trajetória na Universidade de São Paulo e fala da sua identificação com a leitura e com a informação de qualidade.

Clique aqui e acesse a edição do Esalq Notícias. A entrevista com a Janeti está nas páginas 12 e 13. Abaixo, segue a íntegra da entrevista.

Texto: Caio Albuquerque (13/02/2023)

Esalq notícias 54 | Projeto Memória

Amo o que eu faço

Fornecer informação de qualidade sempre foi a preocupação da bibliotecária Janeti Bombini Moura. “Essa é uma das funções da biblioteca, levar informação fácil, rápido e confiável”.

Nascida em Limeira (SP), em 11 de fevereiro de 1949, sempre gostou de ler e a afeição pelos livros a direcionou a prestar vestibular para Biblioteconomia.

“Eu lia bastante. Fui fazer vestibular na PUC de Campinas e entrei em Biblioteconomia e em Geografia. Fazia um curso de dia e outro à noite, mas ficou muito pesado e optei por Biblioteconomia porque eu gostei mesmo. Eu não me arrependo e não me vejo fazendo outra coisa, amo o que eu faço”.

Transferiu o curso de Campinas para a USP, em São Paulo e lá se formou. Era 1971. “Minha vida universitária foi relativamente boa. Eu trabalhava na biblioteca municipal de São Paulo, minha faculdade era na rua General Jardim, grudada com o Mackenzie e da Filosofia da USP, éramos bem próximos, foi uma vivência muito boa e tive a sorte de conseguir um estágio remunerado, então não dei muito trabalho para o meu pai. Havia muita efervescência política, mas não participei de nenhum movimento estudantil. Como minha faculdade tinha o curso de Documentação e Política, era esse pessoal que era ligado ao cenário político. Nós éramos mais novas, só tinha mulheres na minha sala”.

Após formar-se, prestou concurso e ingressou como bibliotecária no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP em Piracicaba. “Comecei em 1972, fui a primeira bibliotecária do Cena. Até então havia um monte de livros, o acervo ainda estava sendo instalado. Era algo novo para todos, tínhamos que definir recurso, regimento, regulamento para a biblioteca. As instituições de pesquisa precisam de informação atualizada”.

Sobre explorar no Cena áreas do conhecimento até então desconhecidas para ela foi desafiador. “Foi muito bom trabalhar lá. Os temas eram difíceis, os assuntos muito complexos, mas foi bom para o início de carreira, um aprendizado maravilhoso”.

Quando trabalhava no Cena surgiram as primeiras microfichas. “Até então trabalhávamos com fichas datilografadas, que trazia a localização e a descrição do livro e descrição. Depois veio o microfilme, um rolinho que você girava na máquina ligada a um monitor. A resolução não era boa e, também, não eram todos os livros que eram microfilmados, mas foi interessante e a biblioteca evoluiu bastante. Em 1981, foi criado o Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP e nós começamos a interagir com as equipes da USP em São Paulo. O Sibi aproximou os bibliotecários com os diretores, o aprendizado e o treinamento de novas tecnologias, foi um trabalho intenso”.

Em 1985, com a instituição do campus Luiz de Queiroz, Janeti transferiu-se para a Biblioteca da Esalq. “Com a criação do Campus foram criadas várias diretorias de trabalho, foram contratados mais profissionais, começou efetivamente um trabalho maior. A partir de então a biblioteca na Esalq teve uma nova conceituação, trabalhos diferentes e melhores, foram investidos recursos financeiros e humanos”.

Sua primeira função na biblioteca da Esalq foi de Diretora de Comunicação. “A biblioteca editava um serviço de alerta aos professores da Esalq, era o índice de periódicos mais importantes, divulgávamos a biblioteca para a mídia, trabalhávamos a parte de divulgação, de cópia, que era muito grande, tínhamos cinco maquinas e três funcionários, os professores entregavam apostilas para cópias, assim tinha um fluxo muito grande”. Dessa época, Janeti cita a interação que manteve com o pessoal da Gráfica da Esalq. “Preparávamos folder para divulgar os serviços da biblioteca, era um serviço de qualidade, feito em parceria com o pessoal da gráfica”.

Em 1988, Janeti encarou seu maior desafio ao assumir a direção geral da biblioteca. “O desafio foi muito maior. Começamos a implantar, mesmo que só fisicamente, uma rede de bibliotecas, passamos a contar com cinco bibliotecas, a Biblioteca Central e quatro setoriais (a de Economia, a de Genética, de Tecnologia de Alimentos e a do Cena). Começamos a implantar, mesmo que manualmente, uma rede de bibliotecas. As bibliotecárias que trabalhavam nessas bibliotecas eram subordinadas à Biblioteca Central”.

Em 1987 começaram a chegar os primeiros computadores. “Fomos quase os primeiros aqui na Esalq, funcionamos como uma instituição piloto de informática dentro da USP. Assim passamos a automatizar o serviço da biblioteca, que era um sonho”.

Uma das grandes iniciativas que envolveu Janeti durante sua gestão como diretora geral foi a inauguração do novo prédio da biblioteca. Quando assumiu em 1988, o módulo dois estava sendo construído. Na inauguração, em agosto de 1989, esteve presente o reitor da USP, professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho. “A biblioteca estava linda, toda arrumada, fazia um calor e então ele elogiou tudo, mas virou para o professor Paulo Cidade, prefeito do campus e disse, bem humorado, que o convidamos porque estávamos querendo um ar-condicionado, já que ele estava passando bastante calor. Então foi liberada a verba para o ar-condicionado (risos). O prédio novo significou uma nova modernidade e novos desafios”.

Com o mundo digital e com instalações adequadas, foi possível empreender esforços em outras frentes e trabalhar em projetos que aprimoravam o serviço aos usuários. Um desses projetos, inaugurado em 1997, foi a Série Produtor Rural, apoiado pela Fundação Kellog. “Tínhamos também um projeto grande de biotecnologia, que começou a partir da chegada de um recurso do governo federal, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Essa área estava começando a ser estruturada na Esalq, então passamos a investir no acervo e apoiar os docentes na seleção de material nessa linha”.

Janeti aposentou-se no ano de 2.000, mas o contato com os livros mantém-se até os dias atuais. Três vezes por semana, ela apresenta-se na Casa do Médico de Piracicaba para auxiliar médicos a se manterem atualizados. “Existe uma biblioteca de medicina nos Estados Unidos e no Brasil, em 1972, foi fundado o Centro Latino Americano de Informação em Saúde. Assim, temos uma ótima base de dados e então seleciono essa informação e forneço aos profissionais da área. Envio livros em formato eletrônico e revistas, sempre dados confiáveis”.

Atualizada e antenada aos meios digitais, a bibliotecária posiciona-se de maneira enfática sobre o futuro de livros e revistas. “Eu leio muito. Gosto de ler revistas novas, temas de cultura em geral e livros. Estamos na era digital, mas o impresso não vai acabar porque as pessoas gostão muito de ler no papel, que é um material maleável. Gostamos de levar livros, jornais e revistas na bolsa, debaixo do braço, no ônibus”. Com o universo digital, sua profissão sofreu mudanças significativas, muitos serviços desapareceram, mas Janeti não tem dúvidas de características ainda necessárias aos profissionais que lidam com a informação. “Ser atenciosa ainda vale, sem dúvidas, e dar a informação segura e atualizada”.

Edição 464