Diálogos na graduação

Antonio Carlos Hernandes (Crédito: Gerhard Waller - ESALQ/Acom)

 

Para conversar com os ingressantes da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), o pró-reitor de Graduação da USP, Antonio Carlos Hernandes, participou, em 18 de fevereiro de 2014, de uma das atividades da Semana de Recepção, oportunidade na qual falou sobre os valores da Universidade de São Paulo. Em entrevista, o pró-reitor destacou seu objetivo de dialogar e interagir com as unidades e indicou como manter a excelência no ensino sem comprometer a austeridade financeira.

A excelência da USP é reconhecida nacional e internacionalmente a partir dos diversos rankings que colocam a Universidade entre as principais do mundo. Por outro lado, fala-se na necessidade de rever investimentos com o propósito de manter a austeridade fiscal da instituição. Como conciliar esse patamar de reconhecimento sem comprometer os recursos financeiros?

Antonio Carlos Hernandes (ACH): São dois aspectos que caminham em paralelo. A excelência da universidade se dá de diferentes formas e o espectro de financiamento é bastante amplo. Temos um corpo de professores e pesquisadores com excelente capacidade de captar recursos nas agências de fomento e isso tenho certeza que será mantido, o que garante a excelência no ensino. Sobre a questão fiscal, que poderemos relacionar de forma mais direta com a infraestrutura, neste primeiro momento da atual gestão passamos por uma avaliação, com reuniões que estão definindo formas de manutenção da excelência, sem deixar que a questão fiscal atinja níveis preocupantes.

Como o senhor avalia os índices de evasão na USP? De que forma a Pró-reitoria pode atuar para minimizar essa questão?

ACH: Essa é uma questão conceitual. Nós temos um problema, a princípio, de entender a evasão. Se olharmos para a USP, ela oferece cerca de 11 mil vagas e, se imaginarmos que, em média, nossos cursos têm cinco anos de duração, então teríamos cerca de 55 mil alunos. Na USP, temos mais de 58 mil alunos, ou seja, nós não temos uma evasão e sim uma retenção. De concreto, estamos olhando para a situação macro e notamos que existe uma mobilidade de alunos entre os cursos. Além disso, há alunos que interrompem o curso em um dado momento e depois retornam, ou seja, são pontos que contribuem para a retenção. Alguns cursos de fato têm evasão e estamos olhando cada caso, ou seja, estamos identificando qual é o tipo de evasão e o que a USP pode fazer para minimizá-la. Portanto, a evasão na USP é de fato um problema de conceito. Se retirarmos os estudantes que somam o índice de retenção, eles não representam mais que 5%, ou seja, nós não temos um quadro de evasão de 30%, como já foi propalado mais do que uma vez.

O atual reitor, Marco Antonio Zago, reforçou em seu discurso de posse a necessidade da USP ser parceira da gestão pública. Como a graduação pode contribuir com esse fator de forma mais efetiva?

ACH: Nós já fazemos isso quando nossos estudantes realizam estágios fora da Universidade. O importante é que a nossa formação é muito mais do que uma formação técnica, que é um componente muito importante, mas temos a certeza de que nossos alunos têm uma formação mais ampla. Isso resulta em uma integração com a sociedade: seja a partir de políticas públicas, nas empresas ou nos diferentes setores, ela acontece com destaque. E isso é fácil de identificar, pois quando observamos onde estão os egressos e o que eles produzem, concluímos que estamos no caminho certo. Temos uma proposta a ser implantada no sentido de fortalecer a nossa relação com o ensino médio. A ideia é conseguirmos fazer com que nossos alunos de graduação e pós-graduação alavanquem o ensino médio público. Isso é um problema de todos nós e, se conseguirmos alavancar o ensino médio, a universidade passaria a ter outro patamar.

A ESALQ tem realizado atividades para discutir que profissional formamos e que profissional o mercado espera. Que pontos o senhor considera importante para que as comissões de graduação e coordenações de cursos possam atuar no sentido de formar um profissional que atenda às demandas sociais?

ACH: Temos dois pontos importantes. O primeiro é manter a estrutura curricular atualizada. Outro ponto essencial é a permissão para que nossos alunos tenham flexibilidade em seus currículos. A formação não pode ser meramente tecnicista. Estamos organizando, para o próximo biênio, um processo de integração com os alunos. Seguramente os coordenadores terão papel fundamental para avaliarmos o quanto de tempo livre esses alunos têm e quais atividades eles podem desenvolver, inclusive na comunidade. A USP tem uma capacidade de mobilizar o seu entorno, principalmente nos campi do interior. Algumas unidades de ensino e pesquisa estão trazendo os egressos para questionar se aquilo que estamos ensinando atende às necessidades do mercado. Isso é um processo dinâmico e o nosso objetivo não é responder ao mercado em si, embora não possamos nos esquecer disso. A formação é ampla e esse é um elemento da formação.

Na ESALQ e em outras unidades da USP, discute-se a criação de novos cursos. Que avaliação o senhor faz sobre essa possibilidade?

ACH: Esse é um processo que passará por uma avaliação um pouco mais rigorosa por conta da questão fiscal da USP. A Universidade definiu alguns vetores de crescimento e Santos é um desses vetores, já que foi implantado e estamos em processo de ampliação. Estamos atualmente com 110 alunos e precisamos consolidar o Campus como um todo. Por outro lado, nas unidades existentes, a avaliação será caso a caso. Nós não temos condições financeiras para abrir cursos em demasia e, por isso, a questão é: nós realmente precisamos dessa ampliação? A USP tem um grande número de vagas disponíveis quando comparada a outras universidades de ponta. Por outro lado, temos a possibilidade e o conhecimento necessário para oferecer cursos semipresenciais e a distância, e com isso atender a todo Brasil. Nós temos competência para isso, mas precisamos definir como isso será feito. Esse momento chegará e será feito com diálogo.

Entrevista concedida aos jornalistas Caio Albuquerque e Fabiano Pereira (19/02/2014)

Boletim 11