Reutilização e valorização de rejeitos de mineração é tema de pesquisa na Esalq

Pesquisadora Amanda Duim Ferreira | Divulgação

Para ressaltar que o ambiente geoquímico do solo é de extrema importância no destino e comportamento dos contaminantes foi realizado, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), um projeto intitulado “Biogeoquímica de ferro em solos impactados por rejeitos de mineração: da avaliação de risco às estratégias de biorremediação aprimoradas”. A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), retrata que o ferro é o quarto elemento mais abundante da crosta, tornando-se um constituinte frequente de solos, um micronutriente para os organismos e, ainda assim, pode ser um contaminante.

A pesquisa, realizada por Amanda Duim Ferreira, Doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Plantas, envolveu várias etapas para apontar soluções para a Foz do Rio Doce que, desde 2015, após o rompimento da barragem de Fundão, vem recebendo rejeitos de mineração de ferro que contém outros elementos como manganês, cromo, níquel, chumbo e cobre.

De acordo com a pesquisadora, esses rejeitos são constituídos por óxidos de ferro minerais que, em solos aerados, não apresentam toxidade, pois são estáveis nessas condições. Contudo, em solos alagados, os óxidos de ferro encontram condições favoráveis para se dissolverem e liberarem outros elementos potencialmente tóxicos que podem estar associados a eles.

O projeto contou com três objetivos principais. O primeiro, foi o de entender os fatores envolvidos na dissolução dos óxidos de ferro no estuário do Rio Doce como, por exemplo, influência das estações do ano e de diferentes plantas crescendo sobre o rejeito, tanto plantas nativas, quanto cultivadas. O segundo, foi realizar um levantamento de potenciais riscos à saúde humana pelo consumo de alimentos cultivados em solos impactados pelo rejeito. O terceiro, foi o de desenvolver estratégias de biorremediação, isto é, utilização de plantas e microrganismos para descontaminação dos solos impactados.

Para desenvolver todo o projeto, que teve duração de cinco anos, Amanda contou com o apoio do Grupo de Estudos e Pesquisa em Geoquímica do Solo, também coordenado pelo seu orientador Prof. Tiago Osório Ferreira, do Depto. de Ciência do Solo da Esalq. A pesquisadora esclareceu que o grupo realiza monitoramentos no estuário do Rio Doce, desde antes do rompimento da barragem do Fundão. 

Nos últimos cinco anos, foram realizadas quatro coletas de campo, três experimentos em laboratório e dois experimentos em campo. “Um dos desdobramentos desse projeto foi o trabalho da pesquisadora Tamires de Souza Patricia Cherubin, que trabalha no levantamento dos impactos do ‘Desastre de Mariana’ na saúde da população afetada, trabalho este também supervisionado pelo Prof. Tiago”, destacou a pesquisadora.

Os resultados do projeto indicam que, por meio das coletas e monitoramento, os fatores climáticos, físico-químicos e geoquímicos controlam a disponibilidade de metais nos solos do estuário. Precipitação pluviométrica, pH e teores de óxido de ferro menos cristalinos afetam a disponibilidade dos metais.

Taboa

A pesquisa mostrou, ainda, que a espécie de planta nativa taboa, Typha domingensis, apresentou potencial para remediação de áreas alagadas contaminadas com ferro, manganês e outros elementos potencialmente tóxicos, como cromo e níquel. Nos experimentos em campo, foram demonstrados que o manejo agronômico da Typha domingensis, especialmente com o uso de fertilizantes e de consórcios microbianos, resultou em maiores extrações de ferro e manganês do rejeito.

“Atualmente, o projeto de biorremediação foi finalizado, porém, estão em andamento os experimentos para aproveitamento do ferro e outros elementos de interesse econômico acumulados na biomassa da taboa”, esclareceu Amanda.

A pesquisa ressalta que o Brasil é um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo, em um cenário no qual a demanda global por metais tende a aumentar, o que poderá gerar um volume ainda maior de rejeitos de mineração. “A disposição de rejeitos em barragens representa um risco, visto que essas estruturas podem se romper gerando grandes desastres ambientais e humanitários como o Desastre de Mariana e o Desastre de Brumadinho. Determinar os possíveis riscos associados a esses rejeitos, bem como traçar estratégias de remediação e reaproveitamento são fundamentais para reutilização e valorização dos mesmos. A partir da biomassa dessa planta, estamos desenvolvendo um biominério de ferro extraído a partir do vegetal (agromining)”, explicou a pesquisadora.

Em solos alagados, devido a ausência de oxigênio, o ambiente geoquímico torna-se favorável a dissolução dos óxidos de ferro, o que aumenta a disponibilidade desse elemento e o risco de toxidade. “Portanto, a depender do ambiente, mesmo um elemento abundante e nutriente, como o ferro, pode se tornar um risco à saúde do ambiente”, concluiu Amanda.

O estudo faz parte do Projeto Tese Destaque, iniciativa da Divisão de Comunicação com apoio da Comissão de Pós-graduação, ambos da Esalq.

Texto: Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 | 24/06/2024

Edição 534