
As babosas são plantas do gênero Aloe e suas folhas, riquíssimas em mucilagem, são utilizadas para diversas finalidades terapêuticas. Este gênero, nas últimas décadas, já esteve incluído nas famílias Liliaceae, Aloeaceae, Asphodelaceae, Xanthorrhoeaceae e atualmente, foi recolocado em Asphodelaceae. Tais alterações taxonômicas trazem muitas confusões para quem não é da área Botânica e que trabalha com plantas medicinais.
No Brasil, algumas espécies deste gênero são cultivadas e empregadas para fins medicinais, sendo que há grande dificuldade na identificação botânica correta de tais espécies. Além disso, algumas espécies são empregadas em Paisagismo e nesta área também, diversas confusões de identificação são feitas.
Outro aspecto interessante é que devido a organização de grupos taxonômicos (famílias, gêneros etc.) baseada em análise macromolecular, há uma curiosidade em se saber quais plantas são, atualmente, consideradas parentes das babosas.
Esta edição da Série Produtor Rural da série Plantas Medicinais - Babosas, aborda exatamente essas questões nomenclaturais e apresenta, de forma sucinta, aspectos agronômicos e terapêuticos sobre algumas espécies de Aloe.
Experimentos históricos
O uso de babosas, plantas do gênero Aloe, é milenar. Tabuletas de argila com escrita cuneiforme, feitas por sumérios e encontradas na Mesopotâmia, com data de 2110 a.C., trazem os primeiros registros dessas plantas como medicinais (Atherton, 1997).
No Egito, pinturas de folhas de babosa foram encontradas em diversas tumbas de faraós. Rainhas a utilizavam como gel, misturada a azeite balsâmico, para cuidados de pele e cabelo. Acredita-se que Nefertiti (ca.1370 – 1330 a.C.) e, posteriormente, Cleópatra (69-3 0a.C.) fizeram uso dessa mistura. É certo que a babosa foi usada pela rainha como parte de seu regime de beleza.
O papiro de Ebers (Biblioteca da Universidade de Leipzig, Alemanha) menciona o uso de babosa, conhecida como “planta da imortalidade”, pelos egípcios como elixires de longa vida, e este uso era feito através da preparação de suco em 1552 a.C., portanto, anterior à época de Nefertiti. Era ingrediente fundamental nos rituais funerários e de embalsamação, indicando que os egípcios já conheciam suas propriedades bactericidas e fungicidas.
Segundo a tradição oral, Alexandre, o Grande (356 – 323 a.C.) usou a babosa durante conquistas de ilhas no Oceano Índico. Persuadido por Aristóteles, conquistou a ilha de Socotra (Iêmen) por conta de suas riquezas naturais, mas principalmente pela babosa que seria utilizada para curar as feridas de seus soldados.
Há registros bíblicos que confirmam o uso da babosa, como em João 19:39-40, que fala sobre o embalsamamento do corpo de Jesus Cristo: “Ele estava acompanhado de Nicodemos, aquele que antes tinha visitado Jesus à noite. Nicodemos levou cerca de 34 Kg de uma mistura de mirra e aloe (babosa). Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro”.
A babosa é citada na “História Natural” de Plínio, o Velho (23 – 79 d.C.) e em “De Materia Médica” de Dioscórides (40 – 90 d.C.), considerado o fundador da Farmacognosia, que fez referência ao cheiro forte e gosto amargo de Aloe vera, e seu uso no tratamento de irritações da pele, furúnculos e feridas (Haller, 1990).
Na Ayurveda ela é chamada de “kathalai” e considerada símbolo da capacidade da natureza de nutrir e curar. Há também combinações como a “Haridra Kumari”, uma pasta purificante que combina babosa e açafrão-da-índia (Curcuma longa L.), conhecida como “princesa de ouro”, uma fórmula nobre e de fácil acesso, usada para tratar problemas estomacais e intestinais, acne e eczemas, e diminuir inflamações. Também é detoxicante e atua como coadjuvante no tratamento de quem se alimenta de industrializados ou toma remédios de forma contínua. Os fenícios, grandes mercadores marítimos da Antiguidade, levaram a babosa às regiões dominadas pelos romanos e à Ásia.
Confira essas e outras informações no link que segue abaixo.
A Cartilha
Série Produtor Rural nº 86 - Plantas medicinais: babosas
Autores: Lindolpho Capellari Júnior e Giuseppe Righini
Número de páginas: 28
Acesse: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1511
Texto: Alicia Nascimento Aguiar