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Projeto
Memória
Ano XII
Número 40
junho/2015
8
GerhardWaller(Acom)
Relação histórica
Aparecido Messias do Nascimento
“Andei muito de charrete, de bonde,
nadei e pesquei bastante, vi muita gente
nascer e morrer”
TEXTO
Caio Albuquerque
GerhardWaller(Acom)
Nem todo mundo conhece Aparecido
Messias do Nascimento, mas se perguntar-
mos quem foi ou por onde anda o Jacaré, boa
parte dos professores, funcionários e ex-alu-
nos da ESALQ saberão indicar um sujeito bem
humorado, falante e cheio de histórias para
contar. “O apelido ganhei ainda menino, pois
eu não saía do Ribeirão Piracicamirim, ia na-
dar, tarrafear, pescar, naquele tempo tinha pei-
xe...”. Sua relação com a ESALQ é histórica.
“Meus tataravós eram escravos da fazenda da
família do Luiz de Queiroz”. Jacaré nasceu em
21 de novembro de 1937. “Meu avô, meu pai,
eu e meus filhos, todos nascemos na ESALQ”.
Da sua infância diz que havia mais liber-
dade, mais amizades e umbonde cheio de lem-
branças. “Na ESALQ também aprendi a ler,
estudei na Escola Mista São João da Monta-
nha, que ficava dentro da ESALQ e era fre-
quentada pelos filhos de professores e funcio-
nários. Depois fui estudar na Escola Prudente
de Moraes e aí eu passava uns apertos. Eu
pegava o bonde e os estudantes passavam sa-
bão nos trilhos e o trem derrapava na subida!”.
Lembra também, ainda menino, das ocasi-
ões emque conheceu por aqui gente ilustre. “Eu
conheci na ESALQoGetúlioVargas. Ele descia
no campo de aviação, pegava uma charretinha e
entravaparapassear e seguia até a casadodiretor,
que ficava emfrente aogramado lateral doEdifí-
cio Central. Eu era molequinho e minha avó era
cozinheira na residência do diretor e assim co-
nheci também oAdemar de Barros, o Fernando
Costa, que estavam sempre por lá visitando o
diretor José deMelloMoraes”.
Em 1956, casou-se comYolanda Noguei-
ra e, aos 21 anos, ingressou na ESALQ como
servente de pedreiro. “Ajudei a levantar a Casa
do Estudante Universitário. Aquele terreno é
um cascalho só, abrimos o chão na picareta.
Nossa equipe tinha quase quarenta pessoas.
Certa vez estávamos enchendo a primeira co-
luna de concreto e o encarregado trabalhava de
terno, gravata e chapéu. Aí ele ficava apres-
sando o pessoal pra lançar o concreto e aí me
descuidei e lancei uma lata de concreto no cha-
péu dele, que acabou ficando concretado junto
com a coluna (risos)”.
Na juventude, foi goleiro e defendeu a ca-
misa do São João da Montanha Futebol Clu-
be, time de funcionários da ESALQ que dis-
putava torneios amadores na cidade. “Além do
São João da Montanha, havia o time dos alu-
nos, chamado Samambaia, que sempre jogava
contra o XV de Novembro. Nós defendíamos
o nome da Escola”.
Em 1961, uma perua levou até São Paulo
três pedreiros e três serventes, Jacaré era um
deles.Amissão era retirar os ossos de Luiz de
Queiroz e da viúva Ermelinda, que seriam
transportados para Piracicaba. “Quando co-
meçamos a quebrar, chegaram funcionários do
cemitério e um investigador de polícia dizendo
que estávamos destruindo a sepultura e naque-
la época não tinha telefone, não tinha computa-
dor, e só não prenderam todomundo porque le-
vamos pinga da ESALQ e eles acreditaramque
éramos da [EscolaAgrícola], como era conheci-
da. Mas nós tivemos que prestar depoimento.
Se não fosse a pinga da ESALQ (risos)”.
Em 1962, José Ayres Nogueira, seu so-
gro, faleceu, o que mudaria sua história na
instituição. “Ele trabalhava na Zootecnia e
então o diretor Hugo de Almeida Leme me
chamou para trabalhar no lugar dele. Lá eu
fiz de tudo um pouco, tirava leite, ajudava
na limpeza, cortava capim, aprendi até fazer
inseminação”.
De 1988 até 2007, ano em que se aposen-
tou, acompanhou funcionários do
campus
em
consultas, exames internações em hospitais na
capital. “Passei a ser funcionário do Serviço
Social da Prefeitura do c
ampus
. Quando eu
trabalhava na Zootecnia, eu já fazia esse servi-
ço, as pessoas faleciam e ninguém conhecia os
trâmites, como fazia para liberar um corpo etc.
Naquele tempo não existia socorrista, eu leva-
va o corpo até o velório, arrumava no caixão.
Assim conheci muita gente, levava café, pinga
e manteiga da ESALQ para o pessoal em São
Paulo e fiquei muito conhecido por lá (risos).
Acompanhei muita gente nas horas boas e nas
horas ruins. Em Piracicaba não tinha muita
infraestrutura e as pessoas da ESALQ diziam
que amelhorUTI que tinhana cidade era aRodo-
viaAnhanguera e o Jacaré (risos)”.Assim cons-
truiu uma relação curiosa comamorte. “Amorte
é normal, corri com tanta gente, ajudei a salvar
muita gente, mas minha patroa eu não pude sal-
var. Perdi ela faz um ano e até agora tem sido
difícil, afinal foram59 anos de casado...”.
Sempre preservou, também, boas relações
com os alunos. “Eu e minha patroa moráva-
mos lá na colônia da Zootecnia e o ministro
Roberto Rodrigues era aluno, quando me pe-
diu para fazermos uma canja para servir na
república para um professor. Daí anos depois
- ele já ministro - o encontrei no churrasco dos
ex-alunos e eu perguntei se ele ainda gostava
de canja e aí ele me reconheceu e me deu um
grande abraço!”.
É devoto de São Judas e guarda no canto da
sala uma estátua de quase ummetro que era da
sua mãe. “Essa estátua tem mais de sessenta
anos”. Na mesma sala tem também uma tela
pintada pelo filho Jorge, retratando a colônia da
Zootecnia, local onde nasceu e se criou. “Andei
muito de charrete, de bonde, nadei e pesquei
bastante, vi muita gente nascer e morrer. Hoje
ainda vou na ESALQ pra bater papo”.
Construído em 1965, tem área de 1.925,72 m² e leva o
nome do engenheiro agrônomo formado na ESALQ em 1939,
que lecionou na instituição de 1940 a 1968, foi diretor entre
1960 e 1966 e Ministro da Agricultura no biênio 1964-65.
Abriga instalações do Departamento de Engenharia
de Biossistemas, incluindo secretaria, salas de aula, de
reuniões, de docentes e de estudos, além do anfiteatro
popularmente conhecido como Maracanã, que tem capa-
cidade de 348 lugares.
Pavilhão Prof. Hugo deAlmeida Leme
Detalhes
da
ESALQ
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