Clipping semanal - - page 15

USP ESALQ – A
SSESSORIA DE
C
OMUNICAÇÃO
Veículo: 180 Graus.com
Data: 23/02/2015
Caderno/Link:
Assunto: Cantareira precisa de 30 mi de árvores
Cantareira precisa de 30 mi de árvores
Vista do alto, a paisagem é desoladora: veleiros encalhados muito longe de qualquer sinal de água,
rampas de píeres terminando em barrancos secos, condomínios luxuosos no meio do nada, represas
reduzidas a rios estreitos, o gado pastando na vegetação rasteira de áreas antes submersas.
O sonho de ter casa de fim de semana em um cenário espetacular de montanhas e lagos, e praticar
esportes náuticos, a 90 km de São Paulo, ou uma fazenda com água abundante para o gado, parece
distante do pesadelo dos 6,5 milhões de moradores da Região Metropolitana que dependem da água do
Cantareira.
Mas, segundo especialistas, há uma ligação causal entre a ocupação nos 12 municípios do Cantareira, e
destruição da mata ciliar de seus 8.171 km de rios, e o esgotamento do sistema.
Choveu menos no último ano, mas, se a mata nativa ainda estivesse lá, os reservatórios poderiam ter
mais água - e de melhor qualidade. A chuva não cairia sobre um solo tão seco, com o consequente efeito
"esponja". A vegetação funcionaria como uma válvula, controlando a vazão e evitando inundações como a
de 2011 - quando as comportas tiveram de ser abertas - e falta de água, como a de agora.
Técnicos da Embrapa Informática e da GV Agro propõem o plantio de 30 milhões de mudas para
recompor a mata ciliar em 34 mil hectares, de modo a obedecer a faixa prevista pelo novo Código
Florestal - que a reduziu, porque passou a medir a Área de Preservação Permanente (APP) a partir do
leito regular do rio, e não mais de sua largura máxima. Para chegar a esses números, eles analisaram as
imagens do satélite Rapid Eyes, que registra objetos de no mínimo 5 metros, explica Eduardo Assad,
autor da proposta.
A mata ciliar evita o deslocamento do solo, chamado de erosão, seu transporte pelos rios e depósito nos
reservatórios, ou assoreamento. Segundo a Sabesp, estudo de 2009 mostrou que não havia
assoreamento no Cantareira. A mata ciliar filtra os sedimentos trazidos pelas enxurradas, evitando que
poluentes, como os agrotóxicos usados nas fazendas, comprometam a qualidade da água. E mantém a
infiltração do solo pela água, que desce para o lençol freático, e aflora novamente. O solo sem vegetação,
às vezes compactado por tratores ou pelo pisoteio de animais, deixa a água evaporar.
Orvalho. Entretanto, explica o especialista Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp, a vegetação exerce esse
papel não tanto na beira dos rios, onde o solo já está encharcado, mas um pouco mais longe, até mesmo
nos topos de morros, onde ela também intercepta a umidade trazida pelas nuvens, que condensa na
forma de orvalho e desce subterraneamente até as nascentes. Será preciso ir além da mata ciliar. Zuffo
propõe, por exemplo, o plantio direto, em vez do arado, como forma de evitar a compactação.
Ricardo Rodrigues, da Esalq, a Escola de Agronomia da USP, acha que não é necessário plantar 30
milhões de mudas. Onde houver vegetação por perto, é possível induzir a regeneração natural. Com base
em sua experiência com recomposição de florestas, Rodrigues estima que 50% da área precisaria de
plantio total, com custo médio de R$ 9 mil por hectare; 25% se regeneraria sozinha, ao custo de R$ 2
mil/ha.; os restantes 25% requereriam enriquecimento com espécies, o que custa R$ 3 mil/ha. Caberia aos
fazendeiros cercar o gado.
Por esse cálculo aproximado, o projeto custaria R$ 195,5 milhões. Bilhões de reais devem ser gastos nas
obras de engenharia anunciadas pelo governo. Só a transposição entre as Represas Jaguari, da Bacia do
Paraíba do Sul, e Atibainha, do Sistema Cantareira, está estimada em R$ 830,5 milhões. Para Assad e
Rodrigues, a recuperação da mata nativa começaria a ter efeitos sobre o Cantareira em cinco anos.
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