Clipping semanal - - page 4

medicina disse ter assistido à punição imposta a um diretor da Atlética que havia criticado esse
trote, só que no lugar da pasta de dente, usaram uma pizza.
A chamada 'Espumada da Atlética' consiste em atirar um montante de espuma de sabão sobre os
calouros. As meninas são as que mais sofrem. Com a visão coberta, elas acabam sendo alvo de
abusos físicos, como beijos à força e outros atos libidinosos.
É comum calouros serem obrigados a ingerir bebidas alcoólicas logo na primeira semana de
recepção em instituições de ensino superior do Brasil. Mas ao longo do curso o trote pode ser
prolongado. Um estudante da FMUSP relatou torturas sofridas durante o Show Medicina, no qual
bebida é atirada sobre os corpos dos calouros. Depois, eles são obrigados a beber até passar mal.
Não é incomum calouros terem de ajudar uns aos outros quando há alguém que não aguente mais
beber. Não por acaso, há relatos à CPI da Alesp de alunos que acordaram no hospital após esse
trote. Um calouro descreveu ainda uma situação em que foi amarrado para que seguisse bebendo.
Ainda no Show Medicina, há relatos de calouros que acabaram sendo 'sequestrados' pelos
veteranos. Os estudantes são levados à força para uma sala, onde todos são obrigados a tirar a
roupa e simularem atos sexuais uns com os outros, para divertimentos dos veteranos. Além disso,
quem não aguenta os ensaios exaustivos acaba acordando com o órgão sexual de um veterano
em seu rosto. Há ainda eventos em que calouros são reunidos e obrigados a ter relações sexuais
com prostitutas, após receberem um medicamento indicado para déficit de atenção e Viagra.
Nesse evento organizado por veteranos, os calouros vão com os demais colegas para um sítio. Lá
eles são obrigados a entrar em uma piscina - quem não aceita é jogado na água. Depois os
veteranos jogam lança-perfume na água, o que causa formigamento nos calouros. A 'brincadeira'
quase cegou um calouro que acabou atingido com a substância em um dos olhos.
A presença de drogas em festas universitárias é um dos problemas envolvidos nas denúncias de
trotes no ambiente acadêmico. Calouros da Unicamp narraram terem sido obrigados a ingerir
bebidas 'batizadas' com algum tipo de droga, provavelmente anfetaminas. Segundo as
investigações do MP-SP, os casos de estupro na FMUSP também possuem relação com o uso de
bebidas batizadas por parte das calouras, que acabam sendo vítimas de veteranos. Na Esalq, o
caso da jovem estuprada por oito rapazes em uma república também envolve uma forte suspeita
de que ela tenha sido dopada pelos seus algozes.
Ainda na Unicamp, há uma tradição em eventos como a Intermed e Calomed de veteranos
realizarem a 'cusparada de cerveja', quando os calouros são alvo dos veteranos e ficam
encharcados. Nesses eventos, segundo alunos, aqueles veteranos utilizando kilts (saias
tradicionais escocesas) são os mais violentos.
Uma cartilha da Bateria da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, a Batesão,
apresentou ao mundo uma série de músicas reprováveis. Uma delas possui um teor racista e
machista, que possui trechos como "preta imunda", a "morena gostosa" e a "loirinha bunduda",
além de chamar mulheres negras de "crioulas fedorentas". O caso causou muita revolta, mas
apenas expôs o racismo sofrido por negros e outras etnias dentro do ambiente universitário. Na
USP, há relatos de alunos negros terem sido impedidos de entrar no campus em situações
específicas.
Na festa 'Carecas do Bosque', em 2014, homossexuais foram agredidos e impedidos de entrar na
festa, promovida pela Associação Atlética da FMUSP. O caso teve enorme repercussão e muito
pouco retorno por parte dos organizadores. Segundo as vítimas, a discriminação de gays e
lésbicas no ambiente universitário é frequente e constante, sejam em músicas pejorativas ou em
eventos como o Show Medicina, que costuma apresentar um espetáculo caricato e misógino, por
vezes com interpretações que remetem a alunos que são 'desafetos' dos veteranos.
É rara a faculdade que não possua uma associação atlética. E dela nascem grupos musicais, os
quais em sua maioria produzem canções de cunho ofensivo, misógino, homofóbico e que prega o
ódio contra universidades consideradas 'adversárias'. É comum que essas músicas discriminem
minorias, como negros, e relembrem casos de estupro que acontecem dentro da própria instituição
dos criadores desses hinos.
Trotes costumam durar até o dia 13 de maio em universidades brasileiras. A data corresponde à
declaração da Lei Áurea, que pôs fim à escravidão no Brasil, em 1888. Na PUC de Sorocaba, no
interior paulista, a data é conhecida como 'Dia de Liberação dos Bixos'. Antes dele, porém, os
calouros sofrem. As meninas são obrigadas a vestir camiseta do tamanho GG, usar apenas calça
jeans e são proibidas de andar com o cabelo solto. As mulheres ainda não podem usar maquiagem
e nem bijuterias. Já os meninos, além da camiseta, são obrigados a manter o cabelo raspado. Os
alunos que não participam dos trotes são impedidos de entrar no Centro Acadêmico e proibidos de
usar bancos e elevadores da faculdade.
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