Clipping semanal - - page 40

de vida, de se encontrar, discutir, conversar sobre a vida universitária, sobre os mais diferentes aspectos, desde
tratar das questões orçamentarias, contratações, futuro da educação na universidade, problemas de extensão. Quer
dizer, é um dia muito variado. Você se encontra de manhã com pesquisadores, depois com advogados, e por aí vai.
Em essência, você trata da atividades que tem a ver com a questão da educação superior. Como isso sempre foi
interesse da minha vida, desde que quando entrei na USP, agora tenho a oportunidade de fazer algo.
JC: O senhor algum dia teve ambição de se tornar reitor?
Zago:
De jeito nenhum (risos). Nunca é assim. Por sorte entrei na Faculdade de Medicina induzido por um um sonho
de ser médico. Me enamorei do curso, das oportunidades. Entrei em uma faculdade onde a pesquisa era muito forte.
Havia ainda muitos professores que eram parte dos fundadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que
criaram uma maneira nova de se estudar medicina. Isso me atraiu para a questão da pesquisa. Desde cedo,
acompanhei a vida universitária. Mas teve um outro aspecto, que contribuiu muito: eu entrei em 1965 – o ano
seguinte ao inicio do período militar. De 1965 a 1970 foi o período em que a a ditadura foi ficando cada vez mais
violenta, e a força da ditadura sobre os movimentos estudantis foi se tornando cada vez mais intensa. Nós vivemos
muto intensamente aquele período. Em 1968, por exemplo, foi criado o AI5, que suspendeu a Constituição, deu
poderes de cassação de funcionários públicos, por exemplo. Quem assinou esse ato era reitor da USP – professor
Luís Antônio da Gama e Silva, que era reitor, mas estava afastado para ser ministro do justiça. O vice-reitor era
professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Helio Lourenço de Oliveira – que era catedrático de clínica
médica – posição que depois eu vim a ocupar. Além disso, ele era muito próximo dos estudantes, e eu era muito
amigo do filho dele. Esse foi o período em que ocorreu a primeira reforma da Universidade. Fui me ligando muito a
vida universitária. Fiz parte da primeira turma que participou da pós graduação em Ribeirão Preto. Eu tive a
oportunidade de, tudo o que eu criticava, agora estar aqui para tentar fazer. Do ponto de vista do que foi possível
fazer: tenho o hábito de me referir aquilo que é o inicio – meu programa de campanha e o discurso de posse – são os
dois marcos inaugurais. No primeiro ano tivemos duas crises importantes. Uma delas foi relacionada à interdição do
campus da USP Leste – isso foi resolvido, desapareceu o conflito do ponto de vista de solução do problema, ele esta
parcialmente resolvido e sendo acompanhado. Os alunos estavam interditados quando tomei posse. Nós
encontramos a crise formada. Nesses seis meses que os alunos estiveram fora do campus, fomos resolvendo. O
segundo ponto foi a crise financeira: encontramos uma USP desequilibrada do ponto de vista financeiro. Não estou
acusando ninguém, mas encontramos uma Universidade que gastava mais do que recebia e cabia a nós identificar
onde estávamos gastando muito e tentar resolver. Em parte, fizemos isso. Fomos bem sucedidos. Mas agora temos
uma nova crise, que é do país inteiro. Agora não é a USP: é a USP, Unesp, Unicamp, as federais. O Brasil. Todos
nós estamos com um problema de finança. No segundo ano, nós pudemos nos voltar a questões especificas da
Universidade: ensino, reforma estatutária.
Relação USP / sociedade
JC: Um dos princípios da sua candidatura à reitoria foi o “fortalecimento da interação com a sociedade”.
Durante a “Semana da Pátria”, a FEA foi o mais novo Instituto da Universidade a instalar catracas – seguindo
as faculdades de Astronomia, Geociências e de Odontologia. Essa é a melhor solução pra USP?
Zago:
Não sei se é a melhor para a USP, mas é a solução que a grande maioria das instituições que eu conheço –
dentro e fora do país – adotam, isto é, o controle da entrada. Controle da entrada em um prédio não tem nada que
ver com relacionamento com a sociedade. Dizer que o prédio estar com as portas abertas e quem quiser entra é um
argumento simplista e até ingênuo. Não é assim em lugar nenhum. Controlar a entrada não quer dizer um bloqueio
em relação à sociedade. O que a USP tem que fazer é se relacionar com a sociedade através de seus instrumentos.
JC: O receio que muitos têm em relação às catracas é que isso caracterizaria uma propriedade privada e não
uma propriedade pública. O senhor avalia isso dessa forma?
Zago:
Vamos tomar quantos exemplos quiserem: vocês vai a Assembleia Legislativa, existe controle de entrada. Isso
não quer dizer que a pessoa é proibida, mas que existe controle. ‘Quem é o senhor? Onde o senhor vai? Com quem
o senhor vai se encontrar?’. Controle não quer dizer propriedade privada. A Biblioteca Brasiliana, por exemplo, tem
um local em que o acesso é extremamente limitado, você precisa registrar que vai lá.
JC: A questão imagética da catraca, nesse caso, é a grande questão. Na Brasiliana, por exemplo, há um
controle, mas não há catracas.
Zago:
Há um controle, é um local em que as pessoas dificilmente tem acesso, porque tem livros raros que devem ser
1...,30,31,32,33,34,35,36,37,38,39 41,42,43,44,45,46,47
Powered by FlippingBook