as tentativas de encaminhamento são nossa responsabilidade. Mas a primeira medida é comunicar para a comissão:
houve uma queixa. Depois, ele toma uma medida e passa para a comissão. Aí a comissão analisa a compatibilidade
disso. A queixa era a de que a Universidade tomava medidas para abafar o caso. Eu tomei medida contra isso. As
denúncias tem que chegar à comissão. Depois, os resultados tem que chegar. Agora, não chegaram 100 denúncias.
Não chegaram sequer 10 denúncias. Uma coisa é o que transita na imprensa, agora, eu pergunto: alguém tem uma
critica a essa maneira de agir? A Universidade tem um superego, uma comissão de direitos humanos, que recebe os
recados e depois os acompanha. Estou sabendo de três casos que estão sob encaminhamento no momento: um de
Piracicaba, foi reaberto; outro na medicina, está próximo de seu desfecho, mostrando que há uma conversa; e o
terceiro em Pirassununga. Não tem 100 casos, estou sabendo de três.
* A Comissão Parlamentar de Inquérito constituída pelo Ato nº 56, de 2014, com a finalidade de “investigar as
violações dos direitos humanos e demais ilegalidades ocorridas no âmbito das Universidades do Estado de São
Paulo ocorridas nos chamados ‘trotes’, festas e no seu cotidiano acadêmico” – a denominada “CPI das
Universidades” – apontou, em seu relatório final, que se tem registro de, nos últimos 10 anos, terem sido cometidos
112 casos de estupros apenas no “quadrilátero da saúde”, área da USP onde estão concentradas as faculdades
ligadas às Ciências Médicas.
O documento está disponível e
JC: No dia 1º deste mês, após recomendação do MPE, a FMUSP decidiu suspender a realização do Show
Medicina no anfiteatro da Faculdade, após uma série de denúncias de desrespeito aos direitos humanos e
humilhação aos participantes. Os organizadores já afirmaram que o evento continuará ocorrendo, mas em
outro local. Como a Universidade pretende trabalhar, em parceria com as unidades, para impedir
desrespeitos mesmo após o período de trotes, considerado mais propenso a casos de violência?
Zago:
Não é difícil controlar. Veja bem, a USP não é uma entidade abstrata, ela é constituída por suas unidades.
Esse tipo de ação deve primariamente ser examinado e controlado nas unidades. A questão do Show Medicina não é
uma questão que diz em respeito em principio à reitoria. Ela diz respeito à vida da Faculdade de Medicina. Deve ser
resolvida pela comunidade local. O que a Universidade vai fazer é ter uma referência. Se houver queixas, sensações,
denúncias, isso tem que chegar aqui. Aí vamos acompanhar como a Universidade vai resolver a questão. O que
talvez seja mais central é essa mudança de comportamento, que não se faz de um dia para o outro. As pessoas
entenderão que o que pode parecer uma brincadeira de mal gosto representa um tipo de deseducação e de
comportamento que deve ser erradicado na sociedade – e isso é uma questão de longo prazo.
JC: Como o senhor enxerga esses casos, sendo da Faculdade de Medicina?
Zago:
Esses comportamentos são inadequados e inaceitáveis, e tem que ser erradicados. Agora, acho que é uma
ilusão achar que isso acontece de uma forma concentrada na Faculdade de Medicina. Talvez lá isso tenha recebido
mais foco, mas é possível que isso tenha sido anunciado com menor ênfase em outras unidades. Não há grande
diferença entre os estudantes da Faculdade de Medicina de São Paulo e os de Ribeirão Preto, por exemplo. Claro
que alguns fatores levam a isso. Um que me chamou a atenção é que um grande número de denúncias, quando diz
respeito ao trote, o trote violento, ele se concentrava principalmente nas unidades mais tradicionais. Isso tinha vindo
de São Paulo. E as pessoas viam como uma parte de ritual de entrada. Agora não deve ser mais assim. Não vejo um
motivo especial como se fosse do caráter dos estudantes de medicina.
Crise financeira
JC: Em busca de um equilíbrio financeiro, o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV) resultou na
demissão de 1452 servidores. Por que a opção pelo PIDV? Na Unicamp, o salários que ultrapassavam o teto
estadual (21,6 mil) foram reduzidos para atender à Constituição, essa não é uma opção para a USP?
Zago:
Por que que tem uma crise financeira? Tem uma crise porque nos gastamos demais com pessoal. A USP
recebe recursos do governo do estado e, quando você olha o recurso que entra, nós gastávamos 106% desse
recurso com pessoal. E ai tínhamos que gastar o restante com manutenção, bolsas, alimentação. Consequência:
mais uns 15%. Nós recebíamos 100, gastávamos 120%. Qualquer empresa que faça isso vai a falência. A pergunta
é: como a USP conseguia viver dessa forma? Ela tirava de uma reserva – sobra de recursos que ao longo dos anos
passados, quando ela gastava menos do que recebia, sobrava dinheiro. Nós tínhamos uma reserva, começamos a
tirar daí para pagar salário. A origem da crise do inicio de 2014 é gastar com salários mais do que recebe.
Estamos gastando mais do que recebemos em salário. Salário de quem? Professor ou servidor? Há cinco ou seis
anos, gastávamos 55% da nossa folha com servidores e 45% com docentes. No inicio de 2014, nós gastávamos