68% com servidores e 32% com docentes. Significa que a USP gasta seus recursos financeiros com atividades fim,
com servidores. E não com docentes, que fazem a atividade fim. Aumentou demais a massa salarial de servidores,
muito mais do que docentes. Qualquer diretor vai falar que precisa contratar docente. Como vamos contratar?
Precisa de mais dinheiro. Durante os últimos 4 anos que antecederam a minha entrada, a USP contratou 2400 novos
servidores. Contratou muitos servidores e fez reajustes de salários para os servidores acima das outras duas
universidades. É diferente de dizer que os responsáveis pela crise financeira são os servidores. Eu jamais falei que a
culpa da crise é dos servidores, mas estou falando da gestão que foi feita de uma forma que ampliou muitos os
servidores e mais ainda o que eles recebem. Consequentemente passamos a pagar demais. A solução é reduzir o
gasto com o pessoal. Primeiro, onde cresceu demais: servidores. Onde precisa crescer: professores. Ou seja, temos
que reduzir nossa massa de servidores. Temos que convidá-los a sair, oferecendo um prêmio. Isso foi eficiente, o
PIDV funcionou. Isso reduziu nossa folha de pagamento. E os servidores que saíram mostraram-se muito satisfeitos.
Depois disso, a partir de janeiro para cá, começamos a enfrentar um outro problema, que é igual para as três
universidades do estado: a queda da atividade econômica e redução dos repasses.
JC: É possível atingir o equilíbrio financeiro nos próximos dois anos?
Zago:
Se você me perguntasse isso em dezembro do ano passado, diria sim com toda a segurança. Hoje, ninguém
mais no Brasil é capaz de responder, porque temos uma crise financeira do país que não sabemos para onde que
vai. Eu seria absolutamente irresponsável em dizer que, com as medidas adotadas até agora, nós atingiremos o
equilíbrio financeiro. Outra medida que tomamos foi proibir as contrações. A Unesp e a Unicamp também
caminharam para a mesma coisa agora. A limitação do salário nós fazemos há anos para servidores e docentes, no
teto do governador. Os que ganham acima do teto são anteriores a isso, e também existem na Unesp e na Unicamp.
E são garantidos pelo judiciário. Agora, não são esses valores que causam o desequilíbrio. O que causa são os
pagamentos feitos para um número muito grande de servidores.
Inclusão
JC: Ainda não há, na Universidade, a possibilidade de estudantes transexuais e travestis usarem socialmente
seu nome nos registros internos da instituição, como, por exemplo, listas de presença e resumo escolar,
além do vestibular. Por que isso ainda não foi adotado como em outras universidades (Ufscar, por exemplo)?
Há a possibilidade da adoção do nome social?
Zago:
Eu não acompanhei essa questão, não posso responder. Pessoalmente não tenho opinião formada sobre
isso. Sei que o pró reitor de graduação tentou resolver, não sei por que não foi resolvido. Realmente, não é um
assunto que eu estou preparado para discutir. Sei que foi tomada alguma providência, mas não sei exatamente qual.
Acho importante discutir isso. A gente tem que sempre tratar essas questões do ponto de vista prático, daquilo que
causa o menor desconforto para todas as pessoas envolvidas. Não tem que partir de um ponto de vista dogmático,
que a vida tem que ser assim, tem que ser assado. Não cabe à Universade decidir isso. Universidade é local da
discussão, de protesto. Desde que se respeite fisicamente as coisas. Universidade não é um mosteiro.
JC: Na Fuvest 2014, em medicina (curso tradicionalmente mais concorrido), cerca de 10% dos ingressantes
eram pretos ou pardos; 30% advinha de escola público. No ano anterior, não houve ingressantes negros e
7% do total eram pardos; 16% advinha do ensino público. Considera essas mudanças suficientes? A USP
tornou-se mais acessível?
Zago:
Não, não são. Temos uma meta muito clara: inclusão na USP de 50% de estudantes vindos da escola publica.
Para 2018. Essa é a meta que foi estabelecida previamente pela Universidade e atende aquilo que está na Lei de
Cotas nas universidades federais. Estamos buscando isso. Estamos caminhando? Estamos. Nos últimos anos, a
inclusão de alunos da escola pública vem crescendo. Neste ritmo, vamos chegar à meta? Acho que não. Por isso
que tomamos uma medida suplementar, a inclusão de 13% das vagas através do Sisu, o Enem. Essas vagas
certamente serão preenchidas quase que em sua maioria por estudantes vindos da escola pública. Isso tende a
aumentar.
JC: Os movimentos pelos direitos dos negros na Universidade defendem a existência de cotas para negros e
pardos correspondente à porcentagem da população no estado de São Paulo (5,5% e 29,1% IBGE 2010). Em
2014, 3,1% dos ingressantes eram negros e 13,2% pardos. A reitoria pensa na possibilidade de aderir às
cotas?
Zago:
As cotas são uma opção aberta que a Universidade precisa discutir. Mas, neste ano, entendo que tínhamos