Estudo aponta excesso de manganês em espécies de peixes no estuário do Rio Doce

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Coleta de amostras de água no estuário do Rio Doce em 2015 logo após a chegada de rejeitos na região (Crédito Xosé L. Otero)
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Equipes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Geoquímica de Solos do Departamento de Ciência do Solo (GEPGEoq) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e do projeto Rede SoBEs Rio Doce - Rede de Solos e Bentos na Foz do Rio Doce vêm estudando os impactos do rompimento da barragem de Fundão no desastre de Mariana no estuário do Rio Doce.

O mais recente estudo realizado pelo grupo, em parceria com pesquisadores da University of California, Riverside, mostra que após dois anos da chegada dos rejeitos, há uma liberação constante de manganês dos solos do estuário para a água.

“Os dados da pesquisa apontam para um aumento de 880% no conteúdo de manganês dissolvido em água em 2017 em comparação aos valores observados em 2015, dias após a chegada dos rejeitos”, aponta Hermano Queiroz, pesquisador da Esalq que realizou sua tese de doutorado sob orientação do professor Tiago Osório Ferreira do Departamento de Ciência do Solo. Segundo os pesquisadores, os valores encontrados em 2017 foram 5 vezes maiores do que o limite definido pelas diretrizes brasileiras de qualidade da água (CONAMA, 2005).

De acordo com os resultados, o risco das elevadas concentrações de manganês em água se refletiram em altos teores de manganês em duas espécies de peixes, o bagre amarelo (Cathoropus spixii) e o peixe-gato marinho (Genidens genidens), ambos comumente consumidas pela população local, fato que representa um risco crônico para a saúde das comunidades ali presentes.

Peixes coletados no estuário do Rio Doce (Crédito: Fabricio A. Gabriel)

Os resultados evidenciaram concentrações de manganês 2 vezes maiores nos peixes do Rio Doce quando comparadas às de peixes de outros locais conhecidamente contaminados por manganês.

Manganês – o manganês é um elemento abundante na natureza e por isso muitas vezes não é percebido como tóxico, mesmo quando encontrando em elevadas concentrações no solo e na água. Conforme os pesquisadores, não existem valores limites de manganês para solos, apesar de pesquisas apontarem efeitos tóxicos em plantas, animais e seres humanos. Em seres humanos as elevadas concentrações de Mn são associadas a doenças como o Alzheimer, além de outros distúrbios neurodegenerativos e do sistema nervoso central.

O estudo que faz parte da tese de doutorado de Hermano Melo Queiroz (Esalq/USP) e foi publicado na revista Environment International, liderado pelo professor Tiago Osório Ferreira, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, com financiamento da FAPESP, FAPES, CAPES e CNPq além da colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal Fluminense e da Universidade de Santigado Compostela da Espanha.

Acesse o artigo na íntegra: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016041202032239X

Texto: Caio Albuquerque (23/03/2021)