As geotecnologias estão no centro do debate científico mundial

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José Alexandre Demattê, docente do departamento de Ciência do Solo (divulgação)
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Nos dias 6 e 7 de março de 2024, foi realizado em Frascati, cidade italiana 30 km da capital Roma, um simpósio mundial com objetivo de avaliar e prospectar tecnologias de monitoramento do solo para fins agrícolas com implicações na esfera ambiental.

Na ocasião, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) foi representada pelo professor José Alexandre Demattê, do departamento de Ciência do Solo. Demattê contribuiu com o evento a partir de palestras que abordaram os trabalhos desenvolvidos no Grupo de Geotecnologias em Ciência do Solo (Geocis) nas escalas de fazenda até mundial.

Sob o título de ESA Symposium on Earth Observation for Soil Protection and Restoration, o evento foi organizado pela Agência Espacial Europeia e, segundo o docente da Esalq, debateu sobre aspectos do projeto denominado WORLD SOILS, do qual o Geocis contribui sensivelmente.

“Pudemos contribuir conferindo três palestras sobre o uso de imagens de satélite como apoio no mapeamento de carbono no mundo e implicações nas áreas ambiental, agrícola e comercial”.

De acordo com o docente, o WORLD SOILS tem por objetivo mapear teores de carbono do mundo e fornecer produtos a comunidade agroambiental, tais como na área de créditos carbono, monitoramento ambiental e produção. “Com sua atuação, o Geocis está na vanguarda no Brasil e no mundo pela sua atuação em várias áreas do conhecimento relacionadas ao sensoriamento remoto tais como física do solo, mineralogia, genese, fertilidade, poluição, microbiologia, carbono, saúde do solo, entre outros”.

Aplicação – os estudos desenvolvidos pelo Geocis têm se destacado ao longo dos anos por apresentarem produtos de aplicação direta nos estudos do solo. Entre esses produtos entregues à sociedade estão o Sistema Brasileiro de Análise de solo via sensores (via nuvem), o Map-pira (dados de solos de Piracicaba), a Biblioteca Espectral de Solos do Brasil, além da execução de mapas temáticos em apoio ao Pronasolos.

Transformar conhecimento em ferramentas práticas para o setor agrícola está no DNA do Geocis. Essa dinâmica, segundo o professor Demattê, prepara o aluno para ensino, pesquisa e extensão. “A atuação no grupo possibilita que os alunos que passam pelo Geocis estejam preparados para o mercado, incluindo dinamicas de participacao em grupo, orientacao e lideranca. A inserção internacional ‘e forte e abre portas para intercâmbios em todos continentes do globo, nas mais variadas instituições e linhas de pesquisa”. “ O objetivo ‘e formar um aluno com um leque de oportunidades ao entrar no mercado, tendo como fio condutor a base solos e tecnologias”.

Solo no centro dos debates – Além de poder apresentar parte dos trabalhos desenvolvido no Geocis, o professor Demattê voltou da Itália com a percepção de que o solo está no centro dos debates científicos sobre o futuro do planeta. E complementa que a busca por novas tecnologias cada vez mais eficientes é algo que ficou evidente durante a programação do evento.

“O surgimento de áreas como a Pedologia métrica (a pedometria) ou o Mapeamento Remoto estimulou a partir do início dos anos 2000 o interesse dos jovens pela área de solos. E desde 2013 o solo passou a ser o foco da comunidade internacional, tendência evidenciada com a adesão às geotecnologias, que alavancou nossa área para um patamar mundial”. Dematte complementa que, ainda em 2013, durante um tímido evento organizado pela FAO, alguns governantes se perguntavam “como o sensoriamento remoto poderia ajudar na compreensão do solo e por consequência ajudar na segurança alimentar?”. A busca por essa resposta hoje está traduzida na magnitude com que a área de solos tem sido abordada nas diferentes esferas científicas, políticas e econômicas.

“A semente plantada na época deu origem a primeira conferência sobre o tema na Agência Espacial Europeia em 2019, culminando hoje, no centro das atenções de todo o mundo. A moral da história é que as tecnologias tiraram o solo da “marginalidade”. Hoje, vertentes como a Pedologia podem integrar-se a essa dinâmica, evoluir e participar na solução de dilemas importantes na vida científica, com reflexos significativos na vida das pessoas”, finaliza.

Texto: Caio Albuquerque (26/3/2024)