Homenagem a Dirce Alessi Pelegrino

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Dirce Alessi Pelegrino (crédito: Gerhard Waller)
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Dirce Alessi Pelegrino, funcionária aposentada da Esalq, faleceu no último dia 9 de junho de 2021. Nascida em Piracicaba em 1924, começou a trabalhar na Esalq em 1945, onde permaneceu até 1994.

Em 2011, Dirce foi a entrevistada do Projeto Memória e sua trajetória foi retratada na edição de junho de 2011 do boletim Esalq notícias.

Confira abaixo a íntegra da entrevista realizada pelo jornalista Caio Albuquerque, em companhia do fotógrafo Roberto Amaral. O texto foi originalmente publicado na edição 24 do boletim Esalq notícias.

“A convivência no bonde era diferente...”

Dirce Alessi Pelegrino nasceu em Piracicaba em 24 de julho de 1924. Reside na mesma casa, na rua Santa Cruz, no Bairro Alto, desde 1953, quando casou-se. Lá, nos atendeu para rememorar fatos das mais de quatro décadas dedicadas ao trabalho na Esalq. Formou-se na escola Sud Mennucci em 1944 e veio trabalhar na Esalq em 1945 como ‘diarista’, denominação dos servidores ainda sem estabilidade. “Vim desempenhar a função de apontador, tomava nota da freqüência dos funcionários diariamente e repassava para a tesouraria”. Em 1946 foi nomeada para trabalhar na tesouraria. “Quando entrei na Esalq, só tinha uma mulher trabalhando lá na Genética e outra que servia café. No andar de cima do Edifício Central havia o salão de festas e no último andar era o salão de baile e, naquela época, vários prédios estavam sendo construídos pelo campus”.

Dos primeiros anos, lembra que trabalhou com o [João] Bierrenbach de Lima, Walter [Ramos] Jardim, José Benedito de Camargo e Nicolau Athanassof. “Eles se vestiam como mandava o figurino, de terno e gravata, o ambiente era muito familiar, todos tinham muito respeito e amizade pelos funcionários. Quando chegava a época de jabuticaba, depois que terminava o expediente, o diretor José Benedito de Camargo mandava um caminhão levar os funcionários para comer a fruta lá na Fazenda Areão. Nós seguíamos pela Vila Rezende ou atravessávamos o rio de balsa”. Porém, do lado de cá da margem do rio, descendo pela trilha próxima ao restaurante dos docentes, Dirce Alessi Pelegrino recorda-se de um lugar onde ocorriam confraternizações. “Aquele lugar era lindo, cheio de folhas secas e árvores, fazíamos festas de final de ano e hoje me parece que tem só mato, não sei mais como está porque na minha idade a descida até que eu aguento, mas a subida...” (risos). Vinha trabalhar de bonde, período em que destaca a convivência. “A convivência no bonde era diferente, era gostoso, todo mundo vinha conversando, mas dependendo do dia, quando os alunos não queriam chegar a tempo para uma aula ou prova, não sei como acontecia direito, mas quando o bonde chegava na altura da escola Mello Moraes, na rua São João, os alunos sacudiam o ‘camarão’, como era chamado o bonde, até sair dos trilhos e todo mundo chegava atrasado! Daí os funcionários seguiam a pé, pelo mato mesmo, pois as vias não eram asfaltadas, havia poucas casas naquela região”.

Das atividades na tesouraria, Dirce lembra que, para efetuar o pagamento, cada um dos departamentos tinha um funcionário responsável por retirar o dinheiro na tesouraria dos diaristas e os demais eram pagos diretamente na seção. “Confeccionávamos um envelope, datilografado, com os dados de cada funcionário. Já os professores eram pagos com cheques. Fazíamos os montinhos de dinheiro ali mesmo e íamos enchendo os envelopes”. Na tesouraria atuou por cerca de vinte anos e seguiu dali para a pós-graduação, onde permaneceu como chefe até a aposentadoria. “Trabalhei em um período sem computador, o que funcionava era a cabeça. Depois que chegou o computador esquecemos a cabeça. Eu não cheguei a usá-lo, porque já estava na época de me aposentar e então eu encaminhava os funcionários para fazer cursos de informática”.

Na pós-graduação, teve muito contato com professores e alunos, sabia o nome de todos e recorda-se que o serviço exercia inclusive as atribuições de assistência social.

“Os alunos chegavam em Piracicaba temerosos, sem apoio nenhum, eles me procuravam pedindo local para morar, ficavam doentes e corríamos atrás para ajudar...depois melhorou quando entrou a Solange [Calabresi do Couto Souza], do Serviço Social (atual Serviço de Promoção Social da Divisão de Atendimento à Comunidade - DVATCOM). Até hoje eu recebo cartão de ex-alunos, todos sempre muito simpáticos”. Aposentou-se em 1992, deixando de exercer as funções em 1994, mas jamais deixou a Escola. “A Esalq foi a minha vida, eu vivi para a minha família e para a Esalq. Hoje faço parte do Coral Luiz de Queiroz, estou sempre na Esalq, se tem festa, formatura e outros eventos, tô (sic) sempre por lá”.