Pesquisa descreve evolução da indústria de máquinas agrícolas

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Segmento de tratores agrícolas brasileiro caracteriza-se por uma estrutura de poucas e grandes empresas (crédito: Gerhard Waller)
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Os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental são atualmente os mercados mais importantes para a indústria de máquinas agrícolas. Embora exista ainda essa hegemonia dos países centrais, os países emergentes vêm ganhando importância como produtores, exportadores e demandantes de tratores e colheitadeiras desde a década de 1970. O mercado de máquinas agrícolas estrutura-se como um oligopólio concentrado, com atuação global das maiores empresas e regional de outras relativamente menores. “Essa característica do setor de máquinas agrícolas foi iniciada com o advento da Revolução Industrial, a partir da formação um grande oligopólio, primeiramente em nível nacional e, posteriormente, internacional”, afirma Rodrigo Peixoto da Silva, economista e autor de um estudo que trata da evolução das estruturas de mercado da indústria de máquinas agrícolas em âmbito mundial, com ênfase para o caso brasileiro.

A pesquisa, realizada no Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) destaca os países e o contexto de origem do setor, bem como as características de sua expansão internacional. “As estratégias de fusão e aquisição, adotadas como forma predominante de entrada em novos mercados, são enfatizadas, assim como o seu papel sobre o aumento do poder de mercado na indústria brasileira de tratores agrícolas”, conta o autor do estudo, que teve orientação de Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES).

Etapas – O trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro traz um levantamento histórico da formação da indústria de máquinas agrícolas e de sua transição para uma estrutura concentrada no pós Revolução Industrial, relacionando-o com o embasamento teórico sobre as estruturas de mercado em oligopólio e suas formas de concorrência. O segundo capítulo traz um panorama geral da indústria e do mercado mundial de máquinas agrícolas na última década, definindo os principais agentes, suas características agrícolas e seus níveis de mecanização e destacando os fatores que contribuíram para que essa indústria migrasse de seu processo de produção semi-artesanal para uma estrutura concentrada de mercado baseada na produção em escala. Além disso, realiza uma caracterização dos padrões de comércio internacional predominantes. Por fim, o último capítulo tem seu foco no caso brasileiro e analisa os impactos da concentração de mercado sobre o desempenho da indústria em termos de poder de mercado. “Para tanto, foram estimados os parâmetros de uma função demanda por tratores agrícolas (elasticidade preço da demanda) e de um indicador de poder de mercado (índice de Lerner)”.

Caso brasileiro – De acordo com a pesquisa, o segmento de tratores agrícolas brasileiro caracteriza-se por uma estrutura de poucas e grandes empresas que, em grande parte, atuam em nível global. “A presença de economias de escala, nível elevado de investimentos, extensas redes de distribuição e assistência técnica, além de fidelização dos clientes às marcas são pré-requisitos para a atuação no mercado e funcionam como barreiras à entrada de novos concorrentes, assim como as tarifas de importação. Trata-se de um oligopólio concentrado, com elevado poder de mercado, seja no segmento de tratores de pequeno porte, seja nas faixas de maior potência”, aponta o economista.

Para o pesquisador, as políticas setoriais devem ser direcionadas para a compatibilização da oferta de máquinas e os diferentes perfis de demanda da agricultura brasileira, abrindo espaço para que o pequeno produtor rural tenha acesso à aquisição máquinas adequadas as suas características de produção e que as máquinas em geral sejam oferecidas em condições acessíveis ao agricultor brasileiro. “Tais medidas incluem a elaboração e/ou aperfeiçoamento de programas de crédito como o Moderfrota e Pró-Trator e o estímulo ao desenvolvimento tecnológico voltado às necessidades da agricultura brasileira, por meio de maior interação entre fabricantes, universidades e centros de pesquisa”.

No que diz respeito à estrutura de mercado, o economista aponta que as políticas devem ser direcionadas à manutenção da concorrência no setor, seja através do estímulo à entrada de novos concorrentes nacionais nas diversas categorias de tratores, seja por meio da vinda de firmas multinacionais que ainda não possuem atuação no Brasil. Embora as estratégias de concorrência no setor possuam um importante componente extra preço, o aumento do número de empresas atuantes tende a manter um espaço de maior competição entre elas. “Tal medida proporcionaria maior concorrência no segmento que é atualmente dominado por poucas empresas multinacionais e funcionaria como um limitante do poder de mercado, beneficiando os produtores rurais e estimulando a mecanização agrícola”, finaliza.

Texto: Caio Albuquerque (16/03/2015)

Palavra chave: 
vian les máquinas