Clipping semanal - - page 16

Como tinha uma viagem programada ao Japão para os dias seguintes, Bianca só procurou a universidade
para pedir a abertura de sindicância após algumas semanas. Ao contar seu relato, a assistente social do
campus, no entanto, disse que o rapaz tinha se antecipado e contado uma versão diferente, segundo a
qual Bianca teria dado a entender que havia concordado com a relação sexual.
"Quando ouvi aquilo, fiquei muito nervosa e minha amiga teve de me segurar para eu não virar a mesa em
cima dela (assistente). Me aconselharam a não abrir sindicância. Disseram que como não havia provas e
eu estava bêbada, não daria em nada. Também disseram que eu estragaria a vida do rapaz e ainda
poderia ser processada por ele"
Bianca não aceitou: foi à polícia, fez um boletim de ocorrência no dia 30 de julho e entregou cópias para a
assistente social da unidade, para o setor de segurança, para o prefeito do campus e para a diretoria da
unidade.
Um tempo depois, uma amiga contou a ela que o agressor a havia procurado em seu dormitório. Bianca
não estava, mas ficou preocupada com a segurança das colegas. Com medo, mais uma vez, recorreu à
segurança do campus para pedir vigilância e requisitou as imagens de segurança que provariam que ele a
havia procurado
"Preenchi um boletim interno, mas nunca me deram uma cópia. Pedi cinco vezes. Também perguntei das
fitas e me questionavam como eu podia ter certeza de que o cara não queria apenas conversar." Ela
nunca teve acesso a nada. "Nunca me deram.
Depressão
Apesar de todas as tentativas para que a USP abrisse uma investigação, nada foi apurado. Por conta do
medo e da revolta, Bianca ainda desenvolveu uma depressão, que a prejudicou nas aulas.
"Já tinha tido um quadro de depressão e, por causa disso, tive uma recaída. Emagreci 8 quilos", relata. Ela
conta que encontrava o agressor no restaurante do campus e perdia a fome. "Sempre gostei de festa e
nunca mais fui a nenhuma depois disso".
De volta a São Paulo, a história ganhou repercussão dentro da universidade e a diretoria prometeu, no
final do ano passado, abrir uma investigação para apurar as denúncias do campus do interior.
Bianca diz acreditar que, com a repercussão do caso, o culpado possa ser punido e outras estudantes não
sejam vítimas da mesma violência a qual ela foi submetida.
CPI do trote
A CPI foi instaurada em dezembro do ano passado e, na audiência desta quarta (14), ouviu Bianca e
outros cinco estudantes de outras três universidades. Ao todo, a CPI já ouviu 27 alunos. Na tarde desta
quinta (15), os deputados tomarão o depoimento de José Otavio Costa Auler Junior, diretor da Faculdade
de Medicina da USP (FMUSP) e Edmund Chada Baracat, presidente da Comissão de Graduação da
Faculdade de Medicina da USP. Denúncias feitas por estudantes da FMUSP motivaram a abertura da
CPI.
A comissão tem até o dia 15 de março - quando termina a atual legislatura e os congressistas eleitos
tomam posse - para encerrar as investigações. Adriano Diogo diz que o tempo é insuficiente e pede para
que os eleitos não deixem de continuar as investigações. Diogo não foi reeleito para a próxima legislatura.
"As conclusões que estamos tendo são tristes e dolorosas. Eles estão falando com coragem e
discernimento. Mas eu tenho a filosofia de que estou fazendo a minha parte para trazer a público o que
acontece. Mas a mudança é em longo prazo e não dá para terminar as investigações até o dia 15 de
março. Isso é só o índice", disse o deputado.
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