Clipping semanal - - page 39

Segundo um estudo feito pelo professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq)
Antônio Ribeiro Almeida Júnior
, o trote não integra os alunos na faculdade e estimula atitudes
preconceituosas. Muitos são forçados a participar, de acordo com sua pesquisa, por medo de retaliação.
Alguns alunos abusados no trote ficam traumatizados e desistem do curso, pois muitos não aguentam ver
seus abusadores impunes. Houve até caso de suicídio de estudante da Esalq.
"O calouro que está na rua, pedindo esmola, é soldado de uma hierarquia que tem general", comentou
Almeida.
Em defesa da PUC-SP, o vice-reitor
José Eduardo Martinez
garantiu que a instituição não compactua
com trotes e perseguições e que
é uma das únicas a expulsar alunos por trotes
. Só em 1998, segundo
ele, cinco estudantes foram expulsos após um estudante ter sido queimado em uma festa.
Já o diretor das
Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)
,
Márcio Cardim
, ressaltou a mesma
posição do colega da PUC-SP. Foi em Adamantina (SP) que foram registrados os trotes que queimaram a
perna de uma caloura e que podem deixar outro aluno cego de um dos olhos. Ele disse que "é a primeira
vez em 46 anos" que um caso assim é registrado e que
os envolvidos devem ser expulsos
. "Não
queremos esse tipo de aluno e estamos prontos para punir os agressores."
Reitor fala em 'mudanças'. Será?
No dia 21 de janeiro, o reitor da USP, professor
Marco Antonio Zago
, esteve na Alesp para falar sobre a
violência envolvendo alunos da universidade. Seguindo o discurso oficial, ele garantiu que todas as
denúncias estão sendo investigadas, tanto que a
Comissão de Direitos Humanos da USP
, presidida por
José Gregori e que conta com notáveis como Celso Lafer, Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida,
Calixto Salomão e Pedro Dallari, terá mais poder daqui para frente.
"A CDH será responsável pelas ações e respostas dos dirigentes da universidade diante de denúncias ou
suspeitas, para que desapareça a suspeita de que diretores ou responsáveis por sessões estejam, de
alguma forma, escondendo casos ou tentando abafar situações", comentou Zago. Outra medida adotada
é
um acolhimento diferenciado aos calouros
e a proibição do consumo de álcool nas dependências da
instituição.
Entretanto, há muito ceticismo por parte de parlamentares e coletivos sobre a real eficácia das medidas
anunciadas até aqui. "O foco do problema não são as festas, não é o uso do álcool, não é o uso de uma
roupa curta. É preciso ensinar os alunos a não estuprar. É preciso apurar o abuso, e, se culpado, o aluno
deve sofrer punição administrativa rápida, antes da formatura", disse a advogada
Marina Ganzarolli
, do
coletivo feminista Dandara, da Faculdade de Direito da USP.
"Os coletivos vão se encontrar com a comissão, assim como dentro da própria reitoria tomaremos
providências com a lista de propostas que elas fizeram. As propostas são, se não todas, praticamente
todas factíveis", respondeu Zago.
Já o deputado estadual
Marco Aurélio de Souza
(PT), integrante da CPI na Alesp, defendeu que o reitor
não permita à universidade conferir
"título de médico a criminosos"
. Zago disse que "o foco da USP é a
educação" e evitou comentários "generalizados". Ele também evitou falar sobre "tradições" da instituição,
como o
Show Medicina
, alvo de denúncias de abusos de veteranos contra calouros. "Eu prefiro dizer que
eu estou buscando tomar medidas. Eu não vou dar opinião sobre o passado."
Outro fato que cria dúvidas sobre a viabilidade de mudanças é a retirada da professora e antropóloga
Ana
Lúcia Pastore Schritzmeyer
da chefia de segurança da USP, após apenas nove meses no cargo. Ela foi
substituída pelo médico veterinário
José Antonio Visintin
. Crítica da presença da Polícia Militar no
campus e favorável a uma Guarda Universitária, Ana Lúcia não aprovou a forma como a reitoria vinha
conduzindo os casos de abusos.
Falando na FMUSP, ela disse que nunca teve acesso ao esquema de segurança de lá. "O fato é que lá é
um feudo e eu como superintendente nunca tive acesso. Tive uma conversa muito séria com o reitor em
dezembro e ele me disse que cabia ao diretor da faculdade tomar as providências. Foi objetivo e curto.
1...,29,30,31,32,33,34,35,36,37,38 40,41,42,43,44,45,46,47,48,49,...69
Powered by FlippingBook