Os casos mais recentes da USP só ajudaram a dar mais repercussão a pelo menos três casos já
relatados no Brasil em 2015. No dia 2 deste mês, uma estudante foi queimada com ácido no primeiro dia
de aula do curso de Pedagogia nas
Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)
, em Adamantina,
interior de São Paulo. Neste mesmo trote, o produto químico atingiu os olhos de outro aluno, que pode
ficar cego. No mesmo dia, na zona oeste da capital paulista, um calouro da
Faculdade Oswaldo Cruz
foi
parar no hospital após ser forçado a ingerir bebidas alcoólicas. O corpo, enrolado apenas em um lençol e
fraldas, apresentava várias lesões.
"Acho que está tendo um movimento na sociedade, que ela perdeu o controle dessa barbaridade toda, e
de repente a sociedade quer recuperar o controle. Será que ninguém nessa terra sabia o que estava
acontecendo? A gente achava que isso acontecia nos grotões das faculdades particulares, que não entra
nem MEC (Ministério da Educação) nem nada. Não! São nas melhores, nas mais conceituadas, e na cara
de todo mundo. Nós temos que aproveitar esse momento mágico para estabelecer novas regras de
funcionamento", opinou o deputado estadual
Adriano Diogo
(PT), que comanda a CDH e a CPI na Alesp.
Mas não será fácil, como reconheceu o diretor da FMUSP. "São situações que vêm vindo e que agora, por
algumas situações que acontecem hoje, a sociedade não aceita mais", complementou Auler, garantindo
que fará tudo ao seu alcance para vencer uma cultura endêmica e institucionalizada dentro da FMUSP.
É
um desafio maior do que se pensa e de difícil solução
. O Brasil Post tentou desembrulhar as muitas
facetas deste tema e pontos que precisam ser discutidos sobre ele. Acompanhe:
ESPECIAL NÃO AOS TROTES
-
Omissão política, desrespeito às leis, fraudes e descaso: Por que a tradição dos trotes se mantém
firme no Brasil
-
Melhor universidade da América do Sul, USP concentra casos assustadores de trotes
Close ? Trotes - O que há de pior de ? ?
Em 2015, uma estudante de 17 anos foi queimada com ácido no primeiro dia de aula do curso de
Pedagogia nas Faculdades Adamantinenses Integradas, em Adamantina, interior de São Paulo. A
jovem foi atacada assim que chegou à instituição e sofreu queimaduras de terceiro grau nas
pernas e na barriga. O hospital informou que o produto químico, que segundo a aluna foi lançado
por dois rapazes, pode ser creolina misturada com algum tipo de ácido. No mesmo trote, um
estudante teve o produto atirado sobre os olhos e pode perder a visão.
Denúncias de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) foram o estopim para
as investigações do Ministério Público de São Paulo e da CPI da Assembleia Legislativa (Alesp).
Na instituição da capital, os estupros costumavam ser registrados em festas da Associação
Atlética, onde 'cafofos' (espécie de tendas) eram montadas, supostamente, para armazenar
bebidas. Entretanto, os espaços acabavam sendo palco de abusos, que não são exclusividade da
USP, sendo registrados em outras instituições de São Paulo e do Brasil.
Em depoimento na CPI da Alesp, uma ativista do movimento feminista da USP destacou um trote
conhecido como 'banheira do Gugu'. Segundo ela, na semana de recepção aos calouros, as
meninas passam por um ritual de apavoramento. Elas são separadas e são obrigadas a sentar em
círculo, enquanto os veteranos ficam em pé, em sinal de superioridade. "E elas ficam repetindo a
palavra cu, a mando deles", frisou. Em seguida, elas são obrigadas a lutar por um objeto escolhido
pelos veteranos dentro da piscina.
Ritual conhecido entre os estudantes da FMUSP, o 'pascu' é uma retração do que antes era
conhecido como 'passa cu'. Nele, veteranos simulam um procedimento cirúrgico, vestindo roupas e
luvas do hospital. A vítima deita-se de bruços e tem as calças arriadas. A seguir, os veteranos
aplicam alguma substância na região do ânus da vítima (geralmente pasta de dente). Um aluno de
medicina disse ter assistido à punição imposta a um diretor da Atlética que havia criticado esse
trote, só que no lugar da pasta de dente, usaram uma pizza.
A chamada 'Espumada da Atlética' consiste em atirar um montante de espuma de sabão sobre os
calouros. As meninas são as que mais sofrem. Com a visão coberta, elas acabam sendo alvo de
abusos físicos, como beijos à força e outros atos libidinosos.