Agrodestaque entrevista Cláudia Coleoni

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Cláudia Coleoni (Acervo pessoal)
Editoria: 

Trajetória e atuação profissional.

Sou Gestora Ambiental graduada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), com período sanduíche pelo programa Ciência Sem Fronteiras (Capes/Institute of International Education) na Indiana University Bloomington (2012-2013), EUA, com ênfase em Gestão e Política de Recursos Naturais. Em setembro de 2018, concluí meu Mestrado em Ciência, Política e Gestão de Água na Escola de Geografia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford, Inglaterra, tendo sido a primeira brasileira a receber bolsa integral da Louis Dreyfus-Weidenfeld Hoffmann Trust e premiada como "Bolsista que melhor incorpora os ideais do Programa de Liderança da Weidenfeld-Hoffmann Trust".

Desde a graduação, procurei desenvolver atividades acadêmicas e profissionais diretamente ligadas à promoção do desenvolvimento sustentável em todos os níveis—local, nacional e internacional. Inicialmente, participei do grupo de estágio TopoGeo, para aplicar e ampliar meus conhecimentos em geoprocessamento, os quais também utilizei ao estagiar na área de arborização urbana no Centro de Métodos Quantitativos, Departamento de Ciências Florestais. Também fui integrante do grupo International Students Forum (ISF-Brazil), por meio do qual representei a Esalq no 14º International Students Summit, realizado na Kasetsart University, Tailândia, e organizado pela Tokyo University of Agriculture.

Ao término dos meus estudos na Indiana University Bloomington, realizei estágio sobre gestão da floresta urbana na International Society of Arboriculture, na cidade de Champaign, Illinois, EUA. Ao regressar ao Brasil, fiz iniciação científica (PIBIC/CNPq) com foco em modelos microclimáticos para uso e ocupação do solo no município de São Paulo, analisando o papel da floresta urbana na adaptação às mudanças climáticas. Paralelamente, atuei no Centro Acadêmico de Gestão Ambiental (CAGeA), organizei três edições do Seminário para Interação em Gestão Ambiental (SIGA) e uma edição do Fórum de Egressos de Gestão Ambiental (FEGeA), e fui representante do Brasil na área de educação para cidadania global na Unesco (Paris, França), na área de segurança alimentar no Youth Ag-Summit (Cúpula Agrícola da Juventude, realizada em Camberra, Austrália) e na área de desenvolvimento sustentável pelo World Merit na sede da ONU em Nova York.

Ao final da graduação, iniciei um estágio na Coordenação de Projetos da Agência das Bacias PCJ (Piracicaba, Capivari, Jundiaí) (2014-2015), trabalhando na seleção e gestão de projetos de água, saneamento e pagamentos por serviços ambientais (PSA) financiados pela cobrança pelo uso da água em rios de domínio federal (Cobrança PCJ Federal), interagindo com membros das Câmaras Técnicas dos Comitês das Bacias PCJ. A partir desse estágio, decidi dedicar-me à área de gestão de recursos hídricos e, logo em seguida, fui contratada pela empresa Novaes Engenharia e Construções (2015-2016) para continuar colaborando com a Coordenação de Projetos da Agência das Bacias PCJ. Além das atividades que já desenvolvia durante o estágio, passei também a escrever pareceres técnicos, analisar prestação de contas e a realizar vistorias técnicas para aferir o progresso e/ou término dos projetos. Ao envolver-me mais com as atividades dos Comitês das Bacias PCJ, passei a colaborar na elaboração dos Relatórios da Situação dos Recursos Hídricos das Bacias PCJ, com base na metodologia da Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos paulista. Isso me permitiu desenvolver atividades de apoio à Coordenação de Sistema de Informações da Agência das Bacias PCJ, dessa vez trabalhando pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) (2016-2017). Com a FESPSP, atuei na implementação da Ação Eco Cuencas da Comissão Europeia, que possuía três bacias hidrográficas-piloto: Bacias PCJ (Brasil); Catamayo-Chira (Peru e Equador); Río Grande II (Colômbia). Simultaneamente, auxiliei na coordenação das atividades de Revisão do Plano das Bacias PCJ (referente ao período de 2010 a 2020).

A partir dessas experiências profissionais, decidi que o próximo passo seria expandir meus conhecimentos sobre modelos de governança da água, particularmente no contexto internacional. Foi então que iniciei minha jornada acadêmica na Universidade de Oxford, em setembro de 2017. Sob orientação do professor Dustin Garrick, minha dissertação de mestrado abordou a temática de serviços ambientais hídricos e da gestão de bacias hidrográficas a partir de um estudo de caso do município de Extrema-MG e das Bacias PCJ. Simultaneamente, trabalhei como Assistente de Pesquisa e Política na Blavatnik School of Government em parceria com a Fundação Lemann para fazer a gestão de um encontro de autoridades brasileiras a respeito de melhores práticas para a gestão pública.

Fale um pouco sobre suas atribuições.

Tenho atuado na área acadêmica, atualmente como Pesquisadora Assistente do Institute for New Economic Thinking (Oxford Martin School) e sou Visitante Acadêmica de Linacre College, também pela Universidade de Oxford. Estou desenvolvendo um estudo sobre as sinergias e trade-offs entre a implementação de Soluções Naturais do Clima para mitigação das mudanças climáticas e o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Esse trabalho é de relevância para dar suporte aos tomadores de decisão a nível internacional, especialmente para conectar as metas do Acordo de Paris com a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável a partir, por exemplo, das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês).

Quais os principais desafios desse setor?

O reconhecimento de que as mudanças climáticas necessitam de ações urgentes, investimento contínuo em pesquisa científica e políticas públicas duradouras, efetivas e inclusivas é um grande desafio governamental para garantir o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. A ciência vem avançando com as evidências sobre os impactos do aquecimento global de 1,5oC acima dos níveis pré-industriais, no contexto de fortalecer a resposta global às mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e aos esforços para erradicar a pobreza. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que ao final do ano passado publicou novo relatório sobre o clima, é a autoridade científica no assunto e consistentemente alerta para o risco associado a mudanças irreversíveis, como a perda de alguns ecossistemas. Nesse contexto, as Soluções Naturais do Clima (também associadas à agricultura, floresta e outros usos do solo), além de contribuírem à mitigação das mudanças climáticas, podem ser economicamente viáveis e integradas a ações de mitigação de combustíveis fósseis e tecnologias de emissão negativa.

Que tipo de profissional esse mercado espera?

Eu observo que, na área acadêmica, o profissional precisa estar aberto a dialogar com diversas áreas do conhecimento, considerando os setores público, privado, ONGs e a sociedade como um todo, especialmente quando se trata da Gestão Ambiental e do desenvolvimento sustentável. Isso significa ser criativo e proativo para propor soluções integradas e contextualizadas à escala de governança (desde o nível local até global). Em suma, o profissional precisa desenvolver e pôr em prática suas habilidades de pensamento crítico, criatividade, colaboração e comunicação. Além disso, faz-se cada vez mais necessário familiarizar-se com as inovações tecnológicas da Quarta Revolução Industrial (por exemplo, internet das coisas, big data, inteligência artificial), as quais influenciarão a nossa interpretação sobre os fenômenos ambientais e socioeconômicos em um futuro próximo.

Texto: Letícia Santin | Estagiária de jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque

26/04/2019