Agrodestaque entrevista Gabriel Dalla Colletta

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Biólogo formado pela Esalq em 2010
Editoria: 

Trajetória e atuação profissional.

Sou formado em Ciências Biológicas, Bacharel e Licenciatura pela Esalq. Durante a graduação fiz estágios nas áreas de zoologia e botânica. E foi na botânica onde acabei concentrando meus estudos. Após a graduação trabalhei um período no desenvolvimento de um projeto de viveiro para reflorestamento de áreas degradadas. Assim que terminei esse projeto resolvi voltar para o mundo acadêmico e fazer mestrado em botânica. No IB/USP, desenvolvi meu mestrado trabalhando com identificação de espécies arbóreas da floresta estacional semidecidual no estado de São Paulo, mediante o uso de marcadores moleculares, técnica comumente conhecida como "DNA barcoding".

Durante o mestrado também trabalhei com meu orientador e outros parceiros em um outro projeto, também na área da botânica que foi muito importante para mim, que foi o livro "Guia Ilustrado Para Identificação das Plantas da Mata Atlântica: Legado das Águas - Reserva Votorantim”. Tal livro foi publicado no fim do mestrado. Ainda nessa época começamos um outro livro, novamente com meu orientador e mais um colega. Dessa vez foi o livro "Guia das Plantas do Cerrado". Esse projeto já foi bem maior e muito mais desafiador, pois tínhamos uma missão bem maior e mais complexa, de amostrar, fotografar e identificar pelo menos as 600 espécies mais comuns de todo o Cerrado brasileiro. Ao final da história fizemos um livro com mais de 1.400 espécies fotografadas e ilustradas. Esse projeto foi concluído em julho de 2018, com a publicação lançada no Congresso Nacional de Botânica de Cuiabá. O livro está sendo muito bem aceito pelos nossos pares, o que nos deixou muito satisfeitos e felizes.

Após o mestrado comecei o doutorado em botânica, só que desta vez na Unicamp, contudo, tanto no mestrado quanto no doutorado, meu orientador continuou sendo o mesmo, Prof. Dr. Vinicius Castro Souza, do departamento de Ciências Biológicas da Esalq. Durante o doutorado surgiu uma oportunidade muito interessante de empreender numa área que sempre foi uma paixão que eu levava como hobby, que era produção de bebidas. Desde minha infância gostei de produzir bebidas, atividade essa que herdei do meu avô, que produzia licores e cachaças artesanalmente para presentear os amigos. Com minha dedicação na área da botânica comecei a me aprofundar no assunto das bebidas, pois via que existia uma grande falta de boas informações, principalmente no quesito segurança das identificações das madeiras que estavam sendo utilizadas na confecção dos barris para o envelhecimento de cachaça, assim como para a produção de outras bebidas. Assim comecei a me formar também na produção de bebidas, fiz diversos cursos de produção de cachaça, mixologia, Gin, aguardente, blend, envelhecimento de bebidas, entre outros.

Fale um pouco sobre suas atribuições.

Atualmente me dedico ao setor de bebidas, principalmente destilados, focado na cachaça. Sou diretor técnico da empresa onde trabalho, cuido de toda a parte produtiva. Para isso preciso conhecer todo o processo, desde a produção da matéria prima, setor de extração de caldo, padronização de caldo, fermentação, destilação e envelhecimento. É preciso conhecimento técnico de todos os processos para assegurar a boa qualidade em todas as etapas da produção, ser muito meticuloso nas inspeções, controlar muito bem os indicadores da produção.

O mercado está cada vez mais exigente e competitivo. Ter indicadores precisos de produtividade e qualidade é ferramenta básica para qualquer profissional na área de produção. Isso possibilita avaliar o desempenho da equipe e mapear situações e setores que precisam ou podem ser melhorados. A melhoria continua do sistema e da equipe é o maior objetivo a ser alcançado. Para isso, o profissional precisa estar sempre em busca do desenvolvimento pessoal, buscando novas ferramentas, cursos, principalmente muita leitura, desde jornais até artigos científicos de ponta.

Quais os principais desafios desse setor?

O setor de bebidas destiladas, principalmente o da cachaça, o qual me dedico, é um setor que tem muito espaço para crescer. Para se ter ideia, o maior desafio do setor hoje é o acesso ao mercado externo. Isso exigirá um grande empenho por parte dos empresários brasileiros para entrar nesse mercado, pois o mercado internacional de destilados é um mercado muito maduro com grandes marcas já consolidadas. Ganhar uma fatia, mesmo que pequena desse mercado, não é tarefa fácil, mas é possível.

Que tipo de profissional esse mercado espera?

Falar que o profissional que o mercado deseja é aquele que pensa "fora da caixa" já virou clichê. Lógico que ter grandes sacadas revolucionam o mercado, mas esperar isso de um profissional é um tanto quanto utópico. Raciocinando com os pés no chão, o que o mercado precisa mesmo é de profissionais de altíssimo rendimento, tanto na área técnica quanto na coordenação de equipes.

Nesse setor, o mercado de destilado atual, quero destacar dois profissionais (o técnico de produção e o de marketing). O técnico de produção, deve estar em constante aprimoramento, pois as inovações nunca param, ele precisa estar regularmente fazendo cursos, visitando outras indústrias, estar em contato constante com pesquisadores, ajudando nas pesquisas quando possível, sempre na busca da melhoria constante, da padronização da produção de alta qualidade e no desenvolvimento de novos sabores.

O segundo profissional, o de marketing, que é quem fará a ponte entre o produtor e o consumidor, ponte essa necessária para conseguir a tão desejada fatia do mercado externo, que atualmente é muito pequena em relação ao que podemos alcançar. Esse profissional terá que desenvolver habilidades de comunicação com diversas culturas, línguas e costumes, muito mais complexas que a do mercado interno, que mesmo sendo um só país, é muito plural. Nesse sentido um grande conhecimento do mercado externo pode trazer diversos benefícios, dos quais os principais são: atuar mais fortemente nas exportações e antecipar tendências para o mercado interno que já são realidades em mercados mais desenvolvidos como EUA e Europa por exemplo.

 

Texto: Letícia Santin | Estagiária de Jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque

01/02/2019