Agrodestaque entrevista Rodrigo Hakamada, engenheiro florestal (F-2004)

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Profisisonal disserta sobre desafios do setor de florestas plantadas, que envolvem, principalmente, competitividade e produtividade. (Crédito: Rodrigo Hakamada)
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Atuação profissional

O meu primeiro emprego pós-formatura foi na Veracel Celulose S/A, empresa de base florestal localizada no extremo sul da Bahia. Porém, durante a graduação tive a oportunidade de realizar um estágio dentro da ESALQ que deu toda a base para a minha carreira profissional, que foi o Grupo Florestal Monte Olimpo (GFMO), na época coordenado pelos professores Fernando Seixas e José Luiz Stape. Trabalhávamos com aspectos práticos do dia a dia da silvicultura, desde a formação de mudas até o processamento da madeira, transformando madeira em mesas, cadeiras, madeira para energia e mesmo carvão vegetal. Também tive a oportunidade de, durante a graduação, realizar estágio em duas grandes corporações, na Votorantim Celulose e Papel e na Aracruz (atualmente formaram a Fibria), ambas na área de pesquisa e desenvolvimento.

Trabalhei durante quatro anos na Bahia, momento em que me dediquei a conhecer os aspectos práticos do manejo florestal. Após isso, trabalhei por seis anos em outra empresa de grande porte, a International Paper do Brasil. Foi durante esse período que posso dizer que houve a consolidação da minha aptidão para o trabalho com P&D. Concomitantemente à atividade profissional, pude realizar em período parcial o mestrado e o doutorado, ambos pela ESALQ.

 

A que área ou setor dedica-se atualmente? Descreva as atribuições do cargo que ocupa. Qual a importância delas para o mercado?

Atualmente, me dedico exclusivamente ao doutorado na ESALQ/USP, onde desenvolvo pesquisa nas áreas de ecofisiologia e silvicultura de florestas plantadas. O Brasil é reconhecido por possuir uma excelente produtividade nas florestas plantadas, fruto de melhorias nas práticas de manejo e na melhoria dos materiais genéticos. No entanto, frente ao cenário atual de mudanças climáticas, é fundamental que se aprofunde o conhecimento em como as plantas se comportam frente às mudanças no ambiente (ecofisiologia) e como podemos manejá-las de forma a tornar a produção sustentável em todos os aspectos (silvicultura). Portanto, vejo como crucial essa área de desenvolvimento, pois auxiliará o setor florestal a continuar a ocupar um papel de destaque em escala mundial.

Quais os principais desafios desse setor?

Falarei de dois aspectos que envolvem a minha atual função: a pesquisa dentro da universidade e o setor de florestas plantadas. A universidade, a meu ver, está distante das necessidades da sociedade. É necessária uma aproximação da chamada academia com a sociedade. Atualmente, mesmo na avaliação de currículos de futuros docentes, que serão aqueles que liderarão projetos de pesquisa dentro da universidade, tem se dado mais importância à publicação de artigos científicos do que, por exemplo, à vivência profissional, seja ela em sala de aula ou em outra atividade profissional. Isso desmotiva o docente e mesmo o futuro docente a se dedicar às atividades de ensino e extensão, que trazem o contato direto com a sociedade, em prol das atividades de pesquisa. Com isso, cria-se um círculo vicioso, onde cada vez mais há a tendência de afastamento entre a academia e a sociedade. É preciso que ocorra uma discussão ampla nesse sentido, caso contrário, a situação não se reverterá naturalmente.

Em relação ao setor de florestas plantadas, enxergo que temos dois grandes desafios pela frente: continuarmos competitivos frente os produtos de outros países que possuem os custos de produção menores do que os nossos, e mantermos a produtividade madeireira atingida nas últimas décadas frente à ocorrência de eventos climáticos extremos. Ambos estão diretamente ligados, pois a competitividade do Brasil nesse setor é fruto, em grande parte, de sua elevada produtividade. As instituições estão trabalhando no desenvolvimento de práticas de manejo e materiais genéticos para enfrentar essa situação. No entanto, mais uma vez há a necessidade de maior aproximação das universidades frente a essa realidade.  

Que tipo de profissional esse mercado espera?

Dois principais pontos têm chamado a atenção, recentemente, e gostaria de dar o devido destaque.

Primeiramente, com o advento de novas tecnologias como os sistemas de informação geográfica cada vez mais precisos e práticos, os drones, as imagens de raio laser, entre outros, observa-se uma tendência natural dos alunos de se direcionarem para essas áreas.  Em minha opinião, o profissional que o mercado espera é aquele que saiba aliar essas novas tecnologias ao conhecimento de base. Ou seja, que possuam vivência prática, que consigam enxergar os problemas que ocorrem no campo para utilizar essas tecnologias a seu favor. Essas ferramentas de suporte vieram para auxiliar o trabalho no campo, porém, se o profissional não souber o porquê utilizá-las, não ocorrerá o retorno de quem investiu nas tecnologias. Outro ponto que deve estar intrínseco ao profissional atual é a inexistência da separação entre os chamados setores de produção e conservação, fato que ocorre mesmo dentro da universidade. Espera-se do profissional contemporâneo que ele consiga compreender os aspectos da produção sem deixar de lado a conservação, e o contrário é verdadeiro. Não conseguiremos avançar como país se os profissionais permanecerem se dividindo como se fossem temas que acontecem de maneira separada. E isso faz parte do profissional eclético que o mercado espera. 

Entrevista concedida a Alessandra Postali, estagiária de Jornalismo
21/07/15