Pesquisa retrata o envelhecimento da população brasileira e as despesas com a saúde

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Renda mostrou ser uma das principais características na determinação do consumo de produtos e serviços de saúde (crédito: Gerhard Waller)
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“As vezes partimos daquilo que observamos na sociedade para ter incentivo para fazer uma pesquisa”. Essas foram as palavras iniciais de Carina Diane Nakatani Macêdo, ao ser indagada pelo qual motivo ela desenvolveu a pesquisa “O envelhecimento da população brasileira e suas consequências nas despesas com a saúde”. “Falamos bastante em formulação de políticas públicas e esse tipo de pesquisa fornece uma base para estabelecer políticas voltadas para a fatia da sociedade que realmente necessita”.

Inicialmente, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), analisou o fenômeno do envelhecimento populacional ao constatar que a discussão dos problemas relacionados a esse fato não se restringe a análise econômica e, também, porque desperta interesse em diversas áreas da ciência.  

A pesquisadora argumentou que a população brasileira obteve, nos últimos anos, um aumento da longevidade e, simultaneamente, ocorreu uma queda no número de nascimentos, o que resultou em um crescente envelhecimento populacional. “Estima-se que, em 2050, o Brasil se defrontará com a difícil situação de atender uma sociedade mais envelhecida do que a da Europa no início do século XXI, com o agravante de ser um país que tem uma distribuição, tanto de renda como de serviços sociais, notavelmente injusta”, explanou Carina.

Assim, o trabalho teve como principal objetivo analisar as despesas com saúde da população idosa brasileira e como objetivos específicos detectar os determinantes das despesas com saúde no Brasil e estimar a elasticidade–renda das despesas com assistência à saúde comparando famílias com idosos e com famílias sem idosos. Para isso, foram analisados os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009 (IBGE), que abrange uma população de 190,52 milhões de pessoas que correspondem a 57,82 milhões de famílias.

Na pesquisa, a doutoranda avaliou o quanto a idade, a renda, o nível de escolaridade, o gênero, a cor ou raça declaradas pelo indivíduo, e fatores relacionados à localidade influenciam na determinação das despesas com assistência à saúde. A pesquisa mostrou, também, como variam as despesas com saúde diante de uma variação nos rendimentos da família, comparando famílias que possuem idosos com as famílias que não possuem idosos. Além das despesas com saúde, a análise se estendeu às despesas com itens específicos de saúde como remédios, planos de saúde, tratamentos dentários, consultas médicas, tratamentos médicos e ambulatoriais, serviços de cirurgias, hospitalizações, exames diversos, materiais de tratamentos, entre outras.

Considerações

Dentro do orçamento familiar, de acordo com o IBGE, uma família brasileira possui uma despesa média mensal de R$ 2.134,77. Dividindo esse valor por itens sabemos que 35% é habitação, alimentação praticamente 20%, transporte 19,6% e assim por diante. Já entre os itens de despesas mensais de uma família, os gastos com saúde correspondem a 7,2%. Deste percentual, 48,6% refere-se a despesas com remédios.

Através dos resultados tornou-se possível quantificar, em reais, o valor das despesas de acordo com a características individuais. Uma mulher branca, com idade entre 70 e 79 anos, renda per capita acima de R$5.600,00, com mais de 15 anos de estudo, residente na região urbana do estado do Rio Grande do Sul, gasta com saúde R$594,89, enquanto que um homem pardo, entre 10 e 19 anos de idade, com renda per capita de até R$140,00, sem escolaridade, residente na área metropolitana da Região Centro-Oeste, gasta R$4,00. A diferença das despesas de R$590,89 equivale a 1,4 salários mínimos para o período de referência desta pesquisa.

A renda se mostrou como uma das principais características na determinação do consumo de produtos e serviços de saúde. Este resultado reforça a importância da preocupação com o envelhecimento populacional e com programas sociais voltados ao atendimento da população de baixa renda. 

As mulheres despendem mais com saúde do que homens com as mesmas características. Neste sentido três hipóteses são levantadas: a gravidez e os métodos contraceptivos elevam os gastos das mulheres, e ou, as mulheres são as principais responsáveis pela aquisição de serviços e produtos de saúde para família, e ou, os homens se preocupam menos com saúde. A última hipótese reforça a importância de campanhas voltadas à saúde do homem como ‘Novembro Azul’ e ‘Saúde do Homem’. 

Diferenciando famílias com e sem idosos, pode-se dizer que um aumento de 10% na renda causa um aumento na despesa com saúde em 8,84% para famílias sem idosos e em 9,21% para famílias com idosos.

Tanto para famílias com idosos quanto para aquelas sem idosos, alguns itens, como os planos de saúde, as consultas e tratamentos dentários, os tratamentos médicos e ambulatoriais, mostraram que uma variação na renda causa uma variação mais que proporcional na despesa, indicando que, estes itens podem ser considerados como bens de luxo para as famílias brasileiras.

A pesquisa, que contou com o apoio da Capes, foi orientada por Rodolfo Hoffmann, docente sênior do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq.

Texto: Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 | 29.10.2018