Sistemas agroflorestais aproxima a Esalq da University of Missouri

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Ciro Abbud Righi e Ranjith Udawatta (crédito: Gerhard Waller)
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Ranjith Udawatta é natural do Sri Lanka, mas desde o final da década de 1980 atua como professor pesquisador da University of Missouri. No College of Agricultura, Food and Natural Resources, desenvolve estudos sobre benefícios ecossistêmicos a partir das práticas agroflorestais e conservacionistas.

Em janeiro deste ano, recebeu o professor Ciro Abbud Righi, do departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) que atuou como professor visitante junto à instituição. Nos EUA, nasceu uma relação de cooperação no desenvolvimento de estudos envolvendo sistemas agroflorestais. Por essa razão, o Prof. Udawatta visitou a Esalq de 3 a 13 de setembro, sendo recebido pelo Prof. Righi que está encabeçando o primeiro Centro de Estudos de Sistemas Agroflorestais. “Visitamos as áreas de pesquisa junto às Estações Experimentais e produtores onde discutimos os mais recentes avanços científicos e o estreitamento das relações da Esalq com a Universidade do Missouri”, conta o professor da Esalq.

Professor Ranjith Udawatta,  da University of Missouri, acredita em um futuro brilhante, e que os sistemas agroflorestais podem contribuir em muito na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas por serem mais sustentáveis e proverem serviços ecossistêmicos

Em entrevista, o docente do Missouri falou sobre sua atuação naquele país. “Promovemos investigações relacionadas com a qualidade da água, a saúde do solo, sequestro de carbono, competição entre culturas e árvores, propriedades físicas do solo e muitos, muitos outros parâmetros. Na prática, observamos como isso pode melhorar a qualidade dos recursos naturais, bem como a própria saúde das populações”, contou Udawatta, que neste mês de setembro ministrou um minicurso sobre o tema para estudantes de graduação e pós-graduação da USP e interessados em Piracicaba.

Durante a permanência do professor Ciro junto à Universidade do Missouri, ambos estiveram envolvidos em estudos com foco na fixação de carbono no solo, diversidade microbiana, culturas de cobertura e umidade do solo e os efeitos advindos da inserção de árvores nos sistemas produtivos. Para o Prof. Righi, “as árvores nos dão o tempo e a estabilidade tão necessários para a estruturação de sistemas produtivos melhor acoplados a cada local. Daí a beleza dos sistemas agroflorestais por sua complexidade e possibilidade de se ajustar às necessidades específicas – sociais, ambientais e econômicas”.

Perguntado sobre o envolvimento da comunidade científica no tema da agrofloresta, Udawatta foi enfático na necessidade da adoção desses sistemas como medida de mitigação das mudanças climáticas. “O IPCC, o Comité Internacional para as Alterações Climáticas, identificou a agrofloresta como uma possível solução para o aquecimento global. As pessoas precisam de casas, estradas, edifícios, áreas agrícolas. Mas a agrofloresta é a condição mais próxima da floresta natural. Temos árvores, temos culturas, temos gado ou ovelhas ou galinhas, diferentes animais e culturas. Esta é a melhor situação para proteger os solos, melhorar a qualidade da água, sequestrar carbono, aumentar a matéria orgânica do solo, melhorar a qualidade do ar e muito mais”.

Extensão – O pesquisador do Missouri contou um pouco sobre como sua equipe vem trabalhando para mobilizar produtores e a comunidade em geral em prol da adoção de sistemas mais sustentáveis como a agrofloresta. Udawatta listou algumas das ações que ampliam o conhecimento sobre os sistemas agroflorestais e seus benefícios.

“No nosso centro, temos alguns pesquisadores descobrindo coisas novas. Há ainda um grupo atuando com educação e extensão. Portanto, grupos diferentes, no mesmo centro, 3 ou 4 pessoas estão a fazer educação e extensão.

Segundo Udawatta, boa parte do conhecimento é difundida a partir de eventos, orientações técnicas e divulgação em mídias sociais. “Publicamos documentos com orientações, organizamos workshops e sessões de formação. Além disso produzimos vídeos que são publicados no YouTube, Facebook e Instagram. Assim, propagamos a nossa informação à comunidade em massa. Também temos um boletim informativo eletrônico todos os meses. Há uma e-news enviada para o Missouri e outros estados e que também pode ser visitada de forma online. Produzimos em documentos curtos, com três ou quatro páginas”.

Udawatta trouxe exemplos de publicações que atenderam produtores de noz-pecã, que orientam sobre rentabilidade ou quanto um produtor de ginseng pode ganhar em um ano. “São instruções, avaliações econômicas, fichas de trabalho. Esta é a extensão efetuada pelo nosso centro”, complementa.

Sobre o futuro da agroflorestal e a aplicação dessa técnica, o pesquisador do Sri Lanka demonstra entusiasmo. “Agora ainda enfrentamos obstáculos, pois o produtor precisa de dinheiro e a plantação de árvores demora para dar retorno. Mas com a ampliação dos sistemas agroflorestais, o avanço das pesquisas e sua difusão para as novas gerações, tenho certeza de que teremos um futuro brilhante!”.

Texto: Caio Albuquerque (15/9/2023)