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Efeitos dos agrotóxicos sobre as abelhas silvestres no Brasil
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durante o intervalo das floradas (FREITAS; PINHEI-
RO, 2010). O resultado final é uma área com uma
quantidade muito pequena de polinizadores naturais
e uma grande demanda por polinização durante o
período de florescimento da densa população de
plantas cultivadas (VIANA et al., 2006).
Em um caso bem documentado, Kevan (1977)
mostra que o impacto do uso de pesticidas sobre
os polinizadores do mirtilo afetou enorme gama de
organismos, desde pássaros e ursos até seres hu-
manos. Segundo Kevan, a produção do fruto teve
perda significativa no início da década de 1970,
período que coincide com a introdução do agrotó-
xico Fenitrothion nas lavouras. Outro detalhe a ser
destacado é o fato de o mirtilo ser, frequentemente,
produzido em grandes áreas de monocultura, ge-
rando a necessidade do uso intensivo e extensivo
de agroquímicos.
Tem sido muito evidente o efeito dos agrotóxi-
cos na fauna de polinizadores dos agroecossistemas
(ALLEN-WARDELL et al., 1998), sendo diretamen-
te responsável pela diminuição de populações de
abelhas e indiretamente pelas perdas econômicas
decorrentes do declínio desses polinizadores (KE-
VAN, 1999). No Brasil, a questão dos agrotóxicos é
preocupante, pois somente no período de 40 anos
(1964-2004) o consumo dessas substâncias aumen-
tou 700% (SPADOTTO et al., 2004) e, mesmo assim,
a pesquisa sobre o assunto é muito escassa.
A densidade e a atratividade das flores conta-
minadas são determinantes para a mortalidade dos
polinizadores, o chamado efeito agudo. Isso acon-
tece porque quanto maior a atratividade das flores
contaminadas pelo agrotóxico, maior o número de
indivíduos que realizarão a visita, e quanto maior a
densidade de flores, maior a frequência de visitas rea-
lizadas pelas abelhas, aumentando a taxa de conta-
minação (RIELD et al., 2006). Baixos níveis de doses
e/ou baixa frequência de aplicação podem afetar o
comportamento das abelhas forrageiras e reduzir
o vigor da colônia, efeitos conhecidos como suble-
tais (BORTOLOTTI et al., 2003, FREITAS; PINHEIRO,
2010).
Os inseticidas de ação neurotóxica, por exem-
plo, podem reduzir a diversidade de polinizadores
no local onde é aplicado e reduzem o local de nidi-
ficação das colônias, além de diminuir as fontes de
alimentação alternativas, usadas principalmente em
períodos de escassez de flores (OSBORNE; WILLIA-
MS; CORBET, 1991; FREE, 1993). A exposição das
abelhas aos agrotóxicos pode afetar a sua capaci-
dade de aprendizado e memorização, o que pode
desorientar não só o indivíduo exposto como tam-
bém as forrageiras da colônia (PINHEIRO; FREITAS,
2010). Essa perda da capacidade de orientação é
mais evidente nas forrageiras, pois são normalmen-
te as que mais correm o risco de serem contamina-
das.
A contaminação das abelhas dá-se, em ge-
ral, no momento da coleta de néctar e pólen (JAY,
1986), por isso, o tamanho da área pulverizada tam-
bém influencia os efeitos das substâncias sobre as
colônias, pois quanto maior a área, maior a exposi-
ção das forrageiras e a contaminação interna da col-
meia (FREE, 1993). Outro fator a ser considerado é
a distância entre as colônias e os campos tratados,
cuja relação de exposição aos agrotóxicos é inver-
samente proporcional a essa distância (JOHANSEN;
MAYER, 1990).
Destacam-se, ainda, os chamados efeitos su-
bletais, que vão influenciar de maneira negativa as
atividades da colmeia, contribuindo para o declínio
dos polinizadores, tais como:
• diminuição da longevidade das abelhas, prin-
cipalmente das mais novas (MACKENZIE;
WINTSON, 1989);
• comprometimento da divisão de trabalhos en-
tre as operárias e as forrageiras (NATION et al.,
1986);
• inabilidade de comunicação, por meio da
dança, em colmeias de
Apis mellifera
(SCHRI-
CKER; STEPHEN, 1970);
• decréscimo na produção de progênie (HAY-
NES, 1998), aspecto mais danoso que a perda
de abelhas forrageiras (THOMPSON, 2003);
• interrupção da postura de ovos pela rainha
(WALLER et al., 1979);
• defeitos morfogênicos em indivíduos adultos
(STONER et al., 1985);
• comprometimento da capacidade de retorno da
forrageira para a colmeia (COX; WILSON, 1984;
COLLIN et al., 2004), que pode estar associado
à Desordem do Colapso da Colônia (DCC), que
vem afetando as colônias de
A. mellifera
nos Es-
tados Unidos e na Europa.
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