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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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uma única espécie vegetal para sua sobrevivência, a
planta continua dependendo do processo de poliniza-
ção para se reproduzir.
Quando se trata da produção agrícola, a di-
minuição da disponibilidade de polinizadores para
as plantas que deles necessitam pode não causar a
extinção por completo da planta, mas impõe sérias
limitações na quantidade e qualidade de frutos (DE
MARCO; COELHO, 2006; WALLACE; LEE, 1999), no
número de sementes (KALINGANIRE et al., 2001)
e na variabilidade genética, constituindo-se em um
dos maiores problemas atualmente.
Destaca-se a importância da polinização cru-
zada para a reprodução da família Passifloracea, a
qual pertence o maracujá. Como o maracujazeiro
é alógamo e autoincompatível, a polinização é es-
sencial para a formação, a qualidade, o tamanho e
o peso dos frutos (RUGGIERIO et al., 1996). O prin-
cipal agente na polinização do maracujá são as ma-
mangavas, como são conhecidas popularmente as
abelhas do gênero
Xylocopa
, cuja melhor eficiência
na polinização deve-se ao seu tamanho e ao fato de
utilizarem grande variedade de espécies de plantas
para a obtenção de alimento, exibindo um compor-
tamento generalista em relação às fontes de néctar e
pólen. Como são abelhas longevas, ao longo do ano,
as fêmeas forrageiam em grande número de plantas,
mudando de fonte de alimento à medida que novas
espécies entram em floração (DALMOLIN; MELO;
VARASSIN, 2005).
Apesar de comprovadamente aumentarem
seus níveis de produtividade quando adequadamente
polinizadas, muitas culturas de grande valor econômi-
co não têm sido beneficiadas pelos serviços de poli-
nização por desconhecimento dos produtores. Muitos
acreditam que a soja e o algodão, por exemplo, não
precisam de polinização por insetos, porém, alguns
estudos demonstram aumento de produtividade quan-
do polinizadores bióticos visitam as flores dessas cul-
turas (FÁVERO; COUTO, 2000; NOGUEIRA-COUTO,
1994; RIBEIRO; COUTO, 2002; VILLA et al., 1992).
O declínio dos polinizadores naturais tem sido
causado principalmente pelo uso não sustentável de
ecossistemas para produção agrícola (KEVAN, 1999)
e pela alteração das paisagens com perda da vege-
tação nativa (AIZEN; FEINSINGER, 1994). Entre os di-
versos aspectos relacionados ao uso não sustentável
de agroecossistemas, o uso intensivo de agrotóxicos
tem papel prioritário no risco para espécies de abelhas
polinizadoras (VIANNA; JUNIOR; CAMPOS, 2007).
Algumas plantas agrícolas, em especial as
pertencentes às famílias cujas anteras são porici-
das, são dependentes da melitofilia, como é cha-
mada a polinização realizada por abelhas, espe-
cialmente por aquelas capazes de realizar poli-
nização por vibração (BUCHMANN, 1983). Isso
reduz a gama de polinizadores efetivos, já que
espécies como
A. mellifera
,
Trigona spinipes
e
outras que não possuem esse tipo de comporta-
mento não conseguem retirar o pólen das flores
ou, quando conseguem, a probabilidade de poli-
nização é pequena (NUNES-SILVA; IMPERATRIZ-
FONSECA, 2010).
Os estudos que abordam as exigências para a
polinização de culturas no Brasil (tais como espécies
polinizadoras e sua biologia, localização e formas de
criação) e seus déficits (ausência de determinadas es-
pécies) ainda são escassos. Os dados disponíveis se
concentram em um número reduzido de culturas (IMPE-
RATRIZ-FONSECA, 2004), exigindo novas pesquisas.
A maioria dos dados sobre polinização trata de
Apis mellifera
e faltam programas de polinização ra-
cional no Brasil. Além disso, apesar de a densidade
populacional de muitos polinizadores naturais estar
sendo reduzida a níveis que podem sustar os servi-
ços de polinização nos ecossistemas naturais e agrí-
colas, a criação de abelhas para esse fim ainda não
é encarada como prática rentável (FREITAS, 1998).
Na maioria das vezes, as colônias são introduzidas
em meio a diversas culturas, como a do café e da
laranja, durante seus períodos de floração, com fina-
lidade apenas de produção de mel e não para poli-
nização, apesar de estas serem beneficiadas pelos
serviços de polinização das abelhas (FREITAS; PAX-
TON, 1998; MALERBO-SOUZA; NOGUEIRA-COUTO;
COUTO, 2003; MARCO JUNIOR; COELHO, 2004).
Os estudos sobre a eficiência da polinização
das espécies nativas ainda estão na fase de desco-
berta das espécies que polinizam as culturas agrí-
colas. A comparação da eficiência da polinização
entre espécies nativas e naturalizadas só é feita
para pouquíssimas espécies de plantas como o ma-
racujá, o caju, o tomate e a acerola (Tabela 1). Esse tipo
de resposta faz parte de outra etapa de pesquisa, ainda
muito pouco realizada.
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