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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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tados podem ser estendidos para todas as outras
espécies. Entretanto, alguns efeitos só podem ser
visualizados em meliponários ou apiários (VALDOVI-
NOS-NUNES, et al., 2009).
Os efeitos subletais decorrentes da exposição
das abelhas a baixos níveis de doses e/ou a peque-
no número de aplicações, principalmente em longo
prazo, são pouco conhecidos e não têm sido con-
siderados nos estudos de risco para fins de discus-
são sobre esse assunto (THOMPSON, 2003; KEVAN,
1999). Deve-se ressaltar o fato de que existem pou-
cos dados disponíveis sobre os efeitos subletais em
laboratório para compostos que, devido a sua baixa
toxicidade aguda ou a baixas taxas de aplicação,
não são submetidos a testes mais detalhados sob
condição de semicampo e campo, mas podem ter
notáveis efeitos sobre a colônia (FREITAS; PINHEI-
RO, 2010).
4.1 Identificação dos agrotóxicos mais
influentes em colônias de abelhas, para
efeito de monitoramento
A falta de informações a respeito dos efeitos
dos agrotóxicos sobre os polinizadores da agricultu-
ra nacional constitui um dos principais obstáculos à
busca do uso sustentável de polinizadores em áreas
agrícolas (PINHEIRO; FREITAS, 2010). A densidade
e a atratividade das flores de plantas em pleno flores-
cimento, contaminadas pela aplicação de determi-
nados pesticidas, são as principais causas de morte
dos polinizadores, porém baixos níveis de doses e/
ou baixas frequências de aplicação podem afetar o
comportamento das abelhas forrageiras e reduzir o
vigor da colônia (BORTOLOTTI et al., 2003).
Das alterações no comportamento das abe-
lhas eussociais associadas aos efeitos subletais pro-
vocados pelos agrotóxicos, destacam-se as que afe-
tam a divisão de trabalho dentro da comunidade, os
cuidados com a prole e a limpeza da colônia, as mo-
dificações na atividade de forrageamento e na rotina
da rainha. Por serem insetos que apresentam extra-
ordinário nível de organização (JOHANSEN; MAYER,
1990), qualquer perturbação pode resultar em drás-
ticos efeitos à sobrevivência da colmeia (FREITAS;
PINHEIRO, 2010).
Kirchner (1998), citado por Schmuck (1999),
observou que o inseticida Imidacloprido afetou o pa-
drão da dança do oito, apresentando fraco efeito na
precisão da direção e significativo efeito na distân-
cia comunicada da fonte de alimento pelas abelhas
forrageadoras para as da colônia. O Imidacloprido
pode também afetar o comportamento das forragei-
ras de
Apis mellifera
dificultando seu retorno à co-
lônia (BORTOLOTTI et al., 2003), além de reduzir a
movimentação, a mobilidade e a capacidade de co-
municação das abelhas, o que também interfere em
suas atividades sociais (DECOURTYE; LACASSIE;
PHAM-DELEGUE , 2003).
Atkins e Kellum (1986) verificaram que os inse-
ticidas Dimetoato e Malathion podem causar defeitos
morfogênicos em adultos de
A. mellifera
expostos na
fase de larva, tais como pequeno tamanho do corpo,
malformação ou diminuição do tamanho das asas,
deformação das pernas e das asas. A exposição aos
inseticidas Acefato, Dimetoato e Fenton culminou em
incapacidade das colônias para reelegerem rainhas
(STONER et al., 1982, 1983, 1985).
O Fipronil, conhecido comercialmente como
Regent, é um inseticida fenilpirazólico introduzido no
controle de pragas, mas que afeta outros insetos não
alvo, causando sua morte. Em doses subletais, o Fi-
pronil pode afetar a percepção gustativa, o aprendi-
zado olfatório e a atividade motora das abelhas, que
são funções essenciais no forrageamento desses in-
setos (HASSANI et al., 2005). Decourtye et al. (2003)
também verificaram que as abelhas tratadas com do-
ses subletais dos inseticidas Imidacloprido, Fipronil e
Deltametrina apresentam alterações no desempenho
de aprendizado e na memória durante o processo de
forrageamento.
Haynes (1998) constatou que doses subletais
de inseticidas neurotóxicos causam decréscimo na
produção de progênies, podendo ser relevante para
as abelhas melíferas, já que o decréscimo na produ-
ção de novas abelhas é mais danoso do que a perda
de abelhas forrageadoras (THOMPSON, 2003).
Os inseticidas piretroides, em níveis recomen-
dados de aplicação no campo, parecem afetar a
capacidade de as abelhas melíferas retornarem à
colmeia. Cox e Wilson (1984) verificaram que abe-
lhas expostas à Permetrina perdem sua capacidade
de orientação e podem não voltar à colônia, além de
apresentarem graves distúrbios de comportamento
que afetam a capacidade de forrageamento.
Outra interferência causada pela contamina-
ção por inseticidas dessa classe ocorre no momen-
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