Atlas de Eficiência Agrícola da Cana-de-Açúcar Brasileira

A importância dos estudos de eficiência agrícola

Até 2050, a população mundial aumentará em aproximadamente 30%, e a maior parte desse adicional de 2 bilhões de pessoas viverão em cidades de países em desenvolvimento. Essas projeções implicam na necessidade de elevar a produção agrícola em níveis significativos, o que representa um grande desafio tanto para a sustentabilidade do planeta como para a capacidade produtiva dos ecossistemas aquáticos e terrestres. Os produtores agrícolas são os principais agentes desse desafio e, se forem capazes de superá-lo, certamente alterarão de modo expressivo a superfície da Terra nas próximas décadas (Marin et al., 2016).

Assim, é fácil concluir que nas próximas décadas cada hectare arável precisará ter produtividades maiores que as atuais. No Brasil, os setores com elevada demanda por terra serão (e já tem sido) os mais pressionados pela disputa no uso do solo, e o setor canavieiro está entre eles. Dada a necessidade de intensificação da agricultura, a identificação das regiões com os melhores potenciais de incremento da eficiência produtiva é importante pelas seguintes razões: 1) a análise da eficiência da produção agrícola fornece subsídios para identificar os principais fatores limitantes à produtividade; 2) por permitir priorização de recursos para a pesquisa, desenvolvimento e intervenção; 3) por permitir a avaliação do impacto das mudanças climáticas e cenários agrícolas futuros nas culturas e no uso do solo; e 4) os resultados deste tipo de análise são dados de entrada para modelos econômicos de equilíbrio geral e parcial, ferramentas utilizadas para projeções futuras de segurança alimentar e uso da terra.

A identificação das regiões com os melhores potenciais de incremento da eficiência produtiva pode ser feita pela diferença (ou a razão) entre a produtividade atual, observada em condições operacionais, e a produtividade potencial (Yp) (ou produtividade atingível limitada apenas por deficiência hídrica – Yw). A aplicação do conceito da eficiência de produção agrícola para o setor sucroenergético brasileiro pode fundamentar análises estratégicas sobre as trajetórias de custos e preços futuros de açúcar, etanol e energia, da demanda e custo por novas áreas, competição com outras atividades pelo uso do solo, e a projeção de cenários agrícolas futuros para a cana-de-açúcar brasileira, buscando-se antever como as mudanças mais prováveis nas diferentes regiões do país devem alterar o cenário atual. Neste sentido, há crescente preocupação com a segurança alimentar, emissões de gases e perda de habitats para biodiversidade decorrente da mudança direta e indireta de uso do solo tornam também relevantes estudos sobre o aumento da produção futura de alimentos. No caso da cana-de-açúcar brasileira, estas questões são especialmente relevantes pois, apesar do expressivo aumento da produção nacional da cultura entre 2002 e 2013, apenas 12% deste incremento deveu-se ao aumento da produtividade (Fig. 1).

Fig. 1. Variação temporal da área (gráfico superior) e produtividade (gráfico inferior) de cana-de-açúcar  nos cinco países maiores produtores de cana-de-açúcar. Fonte: FAOSTAT.

 

Apesar da intensa discussão em torno das mudanças climáticas globais na última década, sabe-se que as projeções acerca do clima futuro e seu impacto na agricultura contêm uma série de incertezas oriundas dos diferentes componentes do sistema de análise (e.g. clima, culturas, práticas de manejo). Nesse sentido, utiliza-se um conjunto de cenários climáticos possíveis, ao invés de apenas uma simulação gerada por um único modelo. Na agricultura, uma das ferramentas cientificamente aceitas para a análise de impactos das mudanças climáticas na agricultura é pelo uso de modelos de crescimento de plantas (MCP), baseados em processos fisiológicos e físicos que ocorrem nas culturas (do inglês, process based crop model), que são ferramentas consagradas na literatura científica para testes de hipóteses acadêmicas e avaliação do impacto de mudanças climáticas na agricultura.

Este website tem a finalidade de apresentar, de modo simplificado, resultados de análises de eficiência agrícola para a cana-de-açúcar brasileira que possam servir de base para a formação de políticas públicas e orientação do setor produtivo quanto ao planejamento tático e estratégico. Veja abaixo as sequência de etapas cumpridas para a consecução deste trabalho, entendendo como foram feitas e os seus resultados na forma de mapas.

  1. Delimitação das zonas edafoclimáticas homogêneas no Brasil

  2. Estimativa da produtividade atingível da cana-de-açúcar no Brasil

  3. Estimativa da eficiência de produção agrícola nas diferentes regiões produtoras do Brasil

  4. Simulação dos efeitos da irrigação e da palhada na produtividade da cana-de-açúcar brasileira

  5. Cenários futuros de produtividade da cana-de-açúcar brasileira considerando a mudança no clima, no manejo de palha e na irrigação

REFERÊNCIAS


Marin, FR; Pilau, FG; Spolador,H; Otto, R; Pedreira, CGS. Intensificação sustentável da agricultura brasileira: cenários para 2050. Revista de Política Agrícola, p.108-124, 2016. Disponível aqui.

 

* Qualquer desvio em relação a um valor ideal obtido a partir de um conhecimento determinístico supostamente completo sobre um sistema.

Nota: O resultados aqui apresentados foram obtidos no âmbito do projeto 2014/12406-4, financiado pela FAPESP.