anos e veio de São Paulo (SP) estudar gestão ambiental em Piracicaba. As duas se conheceram na hora,
mas pareciam amigas de longa data.
"Temos sim essa cultura de receber e 'cuidar' dos estudantes novos. Hoje conversei com alguns pais e os
acalmei. Acho importante eles saberem que a Esalq não é trote e sim uma escola de excelência. Tudo que
está acontecendo prejudicou a imagem da faculdade. Mas sempre lembro que o Cristianismo prega o
livre-arbítrio. E aqui o importante é usar a liberdade com responsabilidade. É preciso fazer as escolhas
certas", disse Natasha.
Ela contou que não se submeteu ao trote quando ingressou no curso. "Eu escolhi não receber (o trote). E
tive orientação e apoio dos próprios alunos da ABU. Existem muitas coisas boas aqui", complementou.
Depois da boa conversa com Natasha, Mariana disse que já sabe como se prevenir. "Estou esperta",
resumiu ela sobre um possível temor de brincadeiras de mau gosto. Ela tem um irmão que já estuda
na Esalq e ainda não decidiu se ficará alojada em uma república.
"Estou decidindo, mas acho que tudo depende muito da cabeça de cada um. Não vou aceitar tomar pinga,
por exemplo, só para ser aceita", comentou a jovem, que escolheu gestão ambiental por causa do sonho
de realizar muitas pesquisas na área.
O início das aulas na Esalq será no dia 23 deste mês. A instituição informou que durante a primeira
semana contará também a presença de promotores de Justiça no campus. A ação é fruto de um termo de
conduta assinado nesta semana com o Ministério Público (MP-SP) para coibir e investigar os trotes. As
atividades contarão também com entrega de donativos, mesa redonda sobre diversidade e intolerância,
clínicas esportivas, oficinas sobre meio ambiente e apresentações sobre permanência, moradia e
assistência médica, entre outros.
CPI dos Trotes
Desde dezembro, estudantes estão sendo chamados para depor em uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de São Paulo, que apura a violação dos direitos humanos em
trotes de universidades brasileiras.
De acordo com os depoimentos, agressões, chibatadas, cuspe na cara, envenenamento e até ações de
tortura fazem parte do ritual de entrada para os 'bichos', forma como os novatos são chamados. Durante
os depoimentos à CPI, o estudante Felipe José Yarid afirmou que foi envenenado com um líquido agrícola
que, jogado em seu corpo, tirou os movimentos e degradou a pele. Ele não conseguiu ir à faculdade por
conta do efeito do veneno e trancou a matrícula durante um ano.
O exame toxicológico apontou veneno no meu corpo. Eu não tinha movimento nenhum, não conseguia me
mexer. Fui prejudicado, não conseguia fazer provas, não conseguia ir às aulas. Além disso, eu ainda fui
suspenso por uma semana depois que tentei denunciar o caso para a diretoria da universidade", afirmou
Yarid durante o depoimento.
Ritual de entrada
O ritual de entrada para os alunos no campus da USP em Piracicaba (SP) também conta com abusos,
agressões que resultaram em fraturas e comida estragada. Em um depoimento prestado em sigilo aos
deputados, uma aluna afirmou que quase foi abusada sexualmente em um dos trotes e que já ouviu
muitos casos semelhantes ao dela na universidade.
"Eu escapei por pouco, mas sei que eles dopam as pessoas e abusam sexualmente delas em repúblicas.
Eu também já vi muita gente ser agredida e quebrar braços e pernas", disse.