nada a ver" com trotes e abusos em instituições de ensino superior, cabendo às próprias apurar desvios
de conduta e tomar as medidas cabíveis.
O governador
Geraldo Alckmin
(PSDB) também receberá o relatório e há a orientação para que a
Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania - outra a não responder os questionamentos do
Brasil Post - crie uma Ouvidora Estudantil, a fim de auxiliar eventuais vítimas e apurar crimes dentro de
universidades do Estado. O relatório deverá ser encaminhado ainda à
Corte Interamericana de Direitos
Humanos da OEA
(Organização dos Estados Americanos), para que os crimes sejam apurados.
Close ? Trotes - O que há de pior de ? ?
Em 2015, uma estudante de 17 anos foi queimada com ácido no primeiro dia de aula do curso de
Pedagogia nas Faculdades Adamantinenses Integradas, em Adamantina, interior de São Paulo. A
jovem foi atacada assim que chegou à instituição e sofreu queimaduras de terceiro grau nas
pernas e na barriga. O hospital informou que o produto químico, que segundo a aluna foi lançado
por dois rapazes, pode ser creolina misturada com algum tipo de ácido. No mesmo trote, um
estudante teve o produto atirado sobre os olhos e pode perder a visão.
Denúncias de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) foram o estopim para
as investigações do Ministério Público de São Paulo e da CPI da Assembleia Legislativa (Alesp).
Na instituição da capital, os estupros costumavam ser registrados em festas da Associação
Atlética, onde 'cafofos' (espécie de tendas) eram montadas, supostamente, para armazenar
bebidas. Entretanto, os espaços acabavam sendo palco de abusos, que não são exclusividade da
USP, sendo registrados em outras instituições de São Paulo e do Brasil.
Em depoimento na CPI da Alesp, uma ativista do movimento feminista da USP destacou um trote
conhecido como 'banheira do Gugu'. Segundo ela, na semana de recepção aos calouros, as
meninas passam por um ritual de apavoramento. Elas são separadas e são obrigadas a sentar em
círculo, enquanto os veteranos ficam em pé, em sinal de superioridade. "E elas ficam repetindo a
palavra cu, a mando deles", frisou. Em seguida, elas são obrigadas a lutar por um objeto escolhido
pelos veteranos dentro da piscina.
Ritual conhecido entre os estudantes da FMUSP, o 'pascu' é uma retração do que antes era
conhecido como 'passa cu'. Nele, veteranos simulam um procedimento cirúrgico, vestindo roupas e
luvas do hospital. A vítima deita-se de bruços e tem as calças arriadas. A seguir, os veteranos
aplicam alguma substância na região do ânus da vítima (geralmente pasta de dente). Um aluno de
medicina disse ter assistido à punição imposta a um diretor da Atlética que havia criticado esse
trote, só que no lugar da pasta de dente, usaram uma pizza.
A chamada 'Espumada da Atlética' consiste em atirar um montante de espuma de sabão sobre os
calouros. As meninas são as que mais sofrem. Com a visão coberta, elas acabam sendo alvo de
abusos físicos, como beijos à força e outros atos libidinosos.
É comum calouros serem obrigados a ingerir bebidas alcoólicas logo na primeira semana de
recepção em instituições de ensino superior do Brasil. Mas ao longo do curso o trote pode ser
prolongado. Um estudante da FMUSP relatou torturas sofridas durante o Show Medicina, no qual
bebida é atirada sobre os corpos dos calouros. Depois, eles são obrigados a beber até passar mal.
Não é incomum calouros terem de ajudar uns aos outros quando há alguém que não aguente mais
beber. Não por acaso, há relatos à CPI da Alesp de alunos que acordaram no hospital após esse
trote. Um calouro descreveu ainda uma situação em que foi amarrado para que seguisse bebendo.
Ainda no Show Medicina, há relatos de calouros que acabaram sendo 'sequestrados' pelos
veteranos. Os estudantes são levados à força para uma sala, onde todos são obrigados a tirar a
roupa e simularem atos sexuais uns com os outros, para divertimentos dos veteranos. Além disso,
quem não aguenta os ensaios exaustivos acaba acordando com o órgão sexual de um veterano
em seu rosto. Há ainda eventos em que calouros são reunidos e obrigados a ter relações sexuais
com prostitutas, após receberem um medicamento indicado para déficit de atenção e Viagra.
Nesse evento organizado por veteranos, os calouros vão com os demais colegas para um sítio. Lá
eles são obrigados a entrar em uma piscina - quem não aceita é jogado na água. Depois os
veteranos jogam lança-perfume na água, o que causa formigamento nos calouros. A 'brincadeira'
quase cegou um calouro que acabou atingido com a substância em um dos olhos.