Pesquisadores discutem estudos com Terra Preta do Índio e Biochar em workshop internacional

Versão para impressãoEnviar por email
Evento acontece no anfiteatro do Pavilhão de Agricultura (crédito: Gerhard Waller)
Editoria: 

Formada em Relações Internacionais, a carioca Joana Carlos Bezerra atua como pós-doutoranda no Departamento de Ciências Ambientais da Universidade de Rhodes, na África do Sul. Ela está entre os sessenta pesquisadores presentes na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) que participam, entre 29 e 31 de agosto, do ‘5º Workshop Internacional do Terra Preta Program’.

Joana apresenta, no evento, resultados de um estudo sobre as implicações políticas do uso do biochar (ou carvão vegetal) e da terra preta do índio. “O uso do solo tem muitas implicações políticas. Seu uso é importante para questões relacionadas à água, às mudanças climáticas, à proteção da biodiversidade, mas geralmente ele não entra na agenda política. Essas questões fazem parte das decisões que os agentes do agronegócio tomam. A política de acesso ao fomento à pesquisa influencia como eles vão para campo e quais dados irão coletar. A pesquisa tem um contexto político e meu papel, aqui nesse evento, é levantar essas questões”.

A atividade é organizada pelo Terra Preta Program, um programa de pesquisa internacional e interdisciplinar, financiado pela Universidade de Wageningen (Holanda) e pela Embrapa, que desde 2010 foca em diferentes aspectos relacionados às origens, ao uso atual e à recriação de solos antrópicos. “A diversidade na atuação dos profissionais presentes e a riqueza dos trabalhos apresentados mostram a importância não só do evento, mas da própria temática em si”, avalia Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor do Departamento de Ciência do Solo que coordena um projeto com biochar.

Estão na ESALQ apresentando resultados de pesquisas arqueólogos, cientistas do solo, agrônomos, ecólogos, antropólogos, etc.) e de diversas instituições Brasileiras (Embrapa, UFPR, UFAM, UFPA, Unesp, USP/ESALQ, UFOPA, MPEG, INPA, IIS) e estrangeiras (Universidade de Wageningen, Universidades Martin-Luther , Bonn e Halle e ATB-Potsdam (Alemanha), Universidade de Rhodes (África do Sul), Universidade de Antioquia e SINCHI (Colombia), Universidade de Cardiff (Inglaterra)] estarão presentes no evento, no qual serão apresentadas pesquisas e discutidos os principais resultados do Terra Preta Program e quando serão identificadas direções para pesquisas futuras. Outro objetivo do workshop é catalisar interações entre os participantes, visando manter, fortalecer e estabelecer colaborações entre pesquisadores e instituições brasileiras e estrangeiras.

Terra Preta – São solos antrópicos (modificados pelo homem) formados entre 500 e 2.500 anos atrás por civilizações pré-colombianas principalmente na Amazônia. Esses solos têm atraído a atenção de cientistas de diferentes áreas, das ciências naturais e humanas, uma vez que seus estudos além de melhorar nosso entendimento sobre o impacto humano na Amazônia no passado, esses solos pelas suas boas características agronômicas servem como inspiração para o desenvolvimento de tecnologias visando uma agricultura mais sustentável no futuro. Na ESALQ, o professor Pablo Vidal Torrado orienta pesquisas relacionadas ao tema. Uma delas avaliou processos de formação de Terra Preta de Índio no município de Iranduba (AM) e outra comparou amostras de solos caracterizados como TPI e outros não TPI nas terras da mesma região.

Carvão vegetal – Outra linha de pesquisa a ser colocada na mesa de debate do evento elucida estudos relacionados ao biochar, ou carvão vegetal. O professor Carlos Eduardo Pelegrino Cerri coordena o projeto “Efeitos da adição de “biochar” sobre a mitigação de gases do efeito estufa, qualidade do solo e produtividade agrícola”. “Diversos estudos tem comprovado a eficiência do emprego de carvão vegetal, como condicionador de solo, tanto em relação ao aumento do sequestro de C, quanto às melhorias em propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, resultando em melhores condições para o crescimento das plantas”, comenta Cerri. O projeto coordenado por Cerri avalia os benefícios da aplicação de carvão vegetal em solos sob cultivo de cana-de-açúcar em relação à mitigação das emissões de gases do efeito estufa (GEE) para a atmosfera, além de mudanças em atributos químicos, físicos e biológicos do solo e aumento da produtividade da cultura.

Mais informações sobre o Terra Preta Program podem ser encontradas no endereço: www.terrapretaprogram.org.

Texto: Caio Albuquerque (26/08/2016)