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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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Por exemplo, a
Melipona mandacaia
, em pesquisa
realizada por Rocha (2005), em Canudos/BA, con-
centrou suas atividades no turno matutino, período
de menor temperatura e maior umidade, condições
consideradas ideais para evitar a desidratação e o
superaquecimento, comportamento esperado para
animais de Caatinga, onde a temperatura é elevada
e a água é escassa, aumentando o risco de eleva-
ção da temperatura corporal e de perda de água.
Além disso, nessa região, por ser um ambiente
aberto e sujeito à elevada insolação, ocorre o mur-
chamento das flores de muitas plantas no período
da tarde (AGUIAR; MARTINS, 1997), diminuindo a
oferta de alimento.
2.1 O declínio dos polinizadores
Nos últimos anos, a preocupação com a con-
servação das abelhas tem crescido bastante devido
ao declínio dos polinizadores e, consequentemente,
da polinização em paisagens densamente ocupa-
das por atividades econômicas (ALLEN-WARDELL
et al., 1998; KEVAN; VIANA, 2003; WESTERKAMP;
GOTTSBERGER, 2002). Os fatores que mais con-
tribuem para a redução da diversidade de abelhas
são a fragmentação de habitats, que tem sua origem
nos desmatamentos; o uso de pesticidas em cultu-
ras agrícolas e a introdução de espécies capazes
de competir com as abelhas nativas, principalmente
pelos recursos florais (ALLEN-WARDELL et al., 1998;
KEARNS; INOUYE; WASER, 1998; KEVAN; VIANA,
2003).
Williams (1994) demonstrou que 84% das 264
espécies de cultivares agrícolas estudadas produ-
zidas em território europeu dependiam de algum
tipo de polinização animal. Dos 57 maiores cultivos
mundiais em volume de produção, 42% são po-
linizados por pelo menos uma espécie de abelha
nativa (KLEIN et al., 2007). Ainda assim, apenas
aproximadamente uma dúzia de espécies de abe-
lhas é manejada para serviços de polinização em
todo o mundo (KREMEN; WILLIAMS; THORP, 2002;
KREMEN, 2008). Os polinizadores mais utilizados
em sistemas agrícolas são as abelhas sociais e so-
litárias, principalmente espécies que nidificam em
cavidades (BOSCH; KEMP, 2002).
O debate sobre a perda dos polinizadores e
dos serviços de polinização vem crescendo nas últi-
mas décadas (ALLEN-WARDELL et al., 1998; KEARNS;
INOUYE; WASER, 1998). As discussões são basea-
das nas evidências recentes do declínio no núme-
ro de polinizadores locais e regionais em diferentes
partes do mundo (BIESMEIJER et al., 2006), da alta
taxa de extinção de diversas espécies, em diferentes
grupos (MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT,
2005), além do registro de perdas significantes na
população dos polinizadores manejados (ALLEN-
WARDELL et al., 1998).
Recentemente, Klein et al. (2007) estudaram
dados de 200 países e concluíram que a produção
de frutas, vegetais e sementes de 86 das culturas
globais mais importantes dependem da poliniza-
ção por animais enquanto apenas 28 não depen-
dem. A importância dos agentes polinizadores na
produtividade agrícola associada a constatações
da baixa diversidade e quantidade de polinizado-
res nos agroecossistemas mundiais vem preocu-
pando os governos, as ONGs, os pesquisadores e
os produtores (FAO, 2004; WINFREE et al., 2007).
Entre as abelhas produtoras de mel, a
Apis melli-
fera
é a espécie polinizadora mais utilizada nas
monoculturas mundiais (WILLIAMS, 1994), sendo
responsável por cerca de 90% da produtividade
dos frutos e sementes cultivados (SOUTHWICK;
SOUTHWICK, 1992).
2.2 A desordem do colapso da colônia
Em outubro de 2006, um fenômeno aparente-
mente novo ocorreu na costa leste dos Estados Uni-
dos. Com base em relatos dos apicultores comerciais
da Califórnia, foi descrita perda alarmante de colônias
de abelhas. Até o final daquele mesmo ano, os apicul-
tores na costa oeste daquele país também começa-
ram a relatar tal fenômeno que causou prejuízos sem
precedentes (JOHNSON, 2010).
No início de 2007, apicultores europeus ob-
servaram um fenômeno semelhante na Bélgica,
na França, na Holanda, na Grécia, na Itália, em
Portugal e na Espanha, também na Suíça e Ale-
manha, embora em menor grau (DUPONT, 2007).
Na Irlanda do Norte, foi relatada diminuição su-
perior a 50% no número de colmeias. Em abril de
2007, novos relatos desse fenômeno foram feitos
em Taiwan (MOLGA, 2007). Tais perdas continu-
aram ao longo dos anos de 2008 e 2009 (VANEN-
GELSDORP et al., 2009).
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