Efeitos dos agrotóxicos sobre as abelhas silvestres no Brasil
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Minas Gerais e em São Paulo, onde foram descritos
casos com perda de até 400 colmeias, mas ressalta
que na maioria dos episódios não foi exequível a
coleta de amostras para a comprovação da con-
taminação por agrotóxicos. Apesar disso, foi possí-
vel atestar que esses apiários estavam próximos a
culturas de grande importância econômica, como
citrus (em São Paulo), soja e tabaco (no Rio Grande
do Sul)
1
.
Em Santa Catarina, um caso chamou a aten-
ção por se tratar da morte de todas as colônias em
dois apiários diferentes. Na inspeção do local, veri-
ficou-se que todas as abelhas estavam mortas, ao
redor ou dentro da colmeia. Trinta e cinco colônias
foram dizimadas. Amostras foram coletadas e envia-
das a um laboratório de análises toxicológicas, onde
foi confirmada a intoxicação por inseticidas do grupo
dos carbamatos (PINTO; MIGUEL, 2008). Em agosto
de 2010, outro episódio associado ao uso de agro-
tóxico aconteceu em Iacanga, interior de São Pau-
lo, onde mais de 250 colmeias morreram e cerca de
10 t de mel foram contaminadas. Esse incidente foi
consequência da aplicação incorreta do agrotóxico
Fipronil, utilizado em uma plantação de laranja locali-
zada próxima aos apiários atingidos (MALASPINA et
al., 2010; G1, 2010).
Em dezembro de 2010, mais uma ocorrên-
cia associada à mortandade em massa de abelhas
aconteceu em Braúna, interior de São Paulo, onde
mais de 500 mil abelhas foram dizimadas. Nesse
caso, o envenenamento foi atribuído ao uso de um
avião na pulverização de canaviais, fato ainda não
confirmado (JÚNIOR, 2010).
Em levantamento feito no Reino Unido, após
um surto de mortandades das abelhas melíferas,
Fletcher e Barnett (2003) encontraram resíduos de
agrotóxicos organofosforados em 42% e carbama-
tos em 29% das amostras analisadas, e atribuíram
os acidentes ao uso de inseticidas proibidos ou não
especificados e a sua aplicação incorreta. Na Fran-
ça, Chauzat et al. (2007), após o monitoramento de
cinco apiários distribuídos ao longo do seu território,
analisaram o resíduo presente no pólen coletado pe-
las operárias de colônias de
Apis mellifera
e encon-
traram 19 componentes de alta toxicidade, entre os
quais: Fipronil, Imidacloprido, Cipermetrina, Dimetoa-
to, Endosulfan.
4.3 Levantamento de dados sobre a queda
de produção dos apicultores no Brasil
e as principais culturas plantadas no
entorno das fazendas apícolas
A apicultura vem sendo muito incentivada pelo
Governo brasileiro e já é considerada uma atividade
capaz de causar impactos positivos tanto ambientais
quanto sociais e econômicos.
Estudos sobre a produção apícola no Bra-
sil mostram dados conflitantes quanto ao número
de apicultores e de colmeias, e à sua produção e
produtividade. Pesquisas apontam extremos en-
tre 26.315 e 300.000 apicultores no País e entre
1.315.790 e 2.500.000 colmeias e um faturamento
anual entre R$ 84.740.000,00 e R$ 506.250.000,00
(PEREIRA et al., 2003). Não há estatísticas nem da-
dos oficiais precisos sobre consumo e venda do
mel, devido à informalidade do mercado, cuja ven-
da é feita, em sua maioria, sem comprovação fiscal
(SEBRAE, 2009).
Preocupada com essa situação, a Confedera-
ção Brasileira de Apicultura (CBA) tem trabalhado
para a implantação do Programa Nacional de Geor-
referenciamento e Cadastro de Apicultores (PNGEO),
que tem como objetivo rastrear e modernizar a pro-
dução apícola no Brasil por meio de ações de mapea-
mento, diagnóstico, capacitação e regulamentação
das atividades em todos os elos da cadeia (XEYLA,
2010).
Por esse motivo, estima-se uma produção na-
cional maior que as informações estatísticas forneci-
das pelas instituições de pesquisa (IBGE, Ministério
da Agricultura, FAO, etc.). Além disso, atualmente, não
existe, em âmbito nacional, nenhum mecanismo oficial
que possa identificar o número exato de apicultores e
suas respectivas caixas. Dados não oficiais apontam
que hoje, no Brasil, a produção chega a 40.000 t/ano
com o montante de 500.000 apicultores em 2.000.000
colmeias (SEBRAE, 2009).
1
Conforme e-mail enviado pelo Dr. Osmar Malaspina, em 20/03/2011.