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Efeitos dos agrotóxicos sobre as abelhas silvestres no Brasil
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cua. A dança codifica informação espacial e tempo-
ral, indicando a direção e a distância do recurso em
relação à colmeia. Geralmente, a posição do Sol é
transposta na dança, mas, se este estiver encoberto,
a abelha utiliza a luz solar polarizada ou a memória
de pontos de referência para saber em que posição
ele estaria (DYER, 2002).
Se a comida estiver próxima, a abelha realiza
a dança em círculo, voando em círculos em várias
direções. Essa dança não mostra com exatidão o lo-
cal da fonte de alimento, no entanto, esta geralmente
está próxima o suficiente para que as operárias pos-
sam sentir o seu cheiro rapidamente.
Quando a comida está longe, a campeira rea-
liza a dança do requebrado. Nesta, ela voa em linha
reta enquanto movimenta seu abdômen e, em seguida,
volta ao ponto de partida, formando uma curva para a
esquerda ou direita da linha. A linha reta indica a dire-
ção da comida em relação ao Sol. Enquanto a dança
continua, a abelha dançarina ajusta o ângulo do voo do
requebrado para que ele fique de acordo com o movi-
mento do Sol (MICHENER, 1974) (Figura 28).
Figura 28
. Esquema indicando a movimentação das abelhas
durante a dança do requebrado.
4.5.1 Efeitos subletais X DCC
Os inseticidas organofosforados e carbamatos
atuam por meio de toxinas inibidoras da Acetilcoli-
nesterase, enzima que participa da transmissão do
impulso elétrico entre duas células nervosas. Esse
tipo de pesticida afeta a habilidade de as abelhas
comunicarem a fonte de alimento aos demais inte-
grantes da colônia, por impedir a orientação do ân-
gulo da dança (PINHEIRO; FREITAS, 2010).
O Dimetoato, em baixos níveis (1ppm), di-
minui as atividades de forrageamento das abelhas
(WALLER et a.l, 1979), podendo ainda, juntamente
com o Malathion, causar defeitos morfogênicos em
adultos que foram expostos ao produto durante a
fase larval (ATKINS; KELLUM, 1986), afetando dras-
ticamente a capacidade de os adultos realizarem as
suas tarefas e de forragearem. Schricker e Stephen
(1970) constataram que abelhas de
A. mellifera
ex-
postas a doses orais subletais de Paration Metílico
não foram capazes de comunicar a direção de fonte
artificial de alimento a outras abelhas.
Esses problemas de comunicação podem in-
terferir na orientação das abelhas exploradoras em
campo e na sua capacidade de forrageamento. Tais
efeitos também afetam dramaticamente a capacida-
de de os adultos realizarem as suas tarefas e de bus-
carem recursos, podendo resultar em severos efeitos
sobre a colônia (FREITAS; PINHEIRO, 2010).
Esses produtos ainda são bastante utilizados
no Brasil, em grande número de culturas como soja
(
Glycine max
), milho (
Zea mays
) e algodão (
Gossy-
pium
spp.), o que pode causar grandes impactos
também sobre abelhas nativas, devido ao seu per-
sistente efeito residual (BRASIL, 2009; PINHEIRO;
FREITAS, 2010).
Os inseticidas piretroides, uma das classes de
agrotóxicos mais associada à DCC, têm sua ação
provocada pela alteração na modulação dos canais
de sódio e pela polaridade da membrana celular, de-
terminando a morte por paralisia. Podem, ainda, levar
à diminuição da capacidade de retorno das abelhas
melíferas à colmeia (TAYLOR et al., 1987). Isso pode
estar associado a falhas na habilidade de incluir ou
integrar o padrão visual dos locais marcados em re-
lação à orientação pelo Sol (VANDAME et al., 1995).
Entre os diversos representantes dessa clas-
se, podemos citar a Cipermetrina, a Permetrina, a
Ciflutrina e o Fenvalerato, todos de amplo consumo
mundial. De acordo com Cox e Wilson (1984), as
abelhas expostas à Permetrina perdem sua capaci-
dade de orientação e podem não voltar à colônia,
além de apresentarem graves distúrbios de compor-
tamento, tais como irritabilidade, excessiva autolim-
peza, abdômen contraído e dança trêmula, o que
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