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A
companhamento
dos
efeitos
dos
agrotóxicos
sobre
a
comunidade
apoidea
Uma comunidade biológica pode ser definida
como um conjunto de organismos coexistentes, co-
nectados uns aos outros por suas relações antago-
nistas ou não, que formam complexa rede de intera-
ções (RICKLEFS, 2004). Existem diferentes conceitos
para a definição de uma comunidade. Alguns acredi-
tam que ela se comporta como um superorganismo,
o chamado conceito holístico; outros defendem que
cada população busca maximizar o seu sucesso re-
produtivo e não beneficiar toda a comunidade. É o
chamado conceito individualista. Há também aque-
les que mantêm uma visão intermediária, aceitando
as premissas desses dois conceitos.
A despeito do debate sobre a natureza de uma
comunidade, os ecólogos frequentemente buscam
caracterizar sua estrutura e funcionamento. Para
tanto, as comunidades são comumente descritas a
partir de dados sobre a composição de espécies
e análises comparativas, que tentam identificar os
inúmeros padrões espaço-temporais presentes. O
monitoramento de uma comunidade é necessário,
porém não suficiente, devendo incluir indicadores
funcionais de processos ecológicos que reflitam as
mudanças ecossistêmicas existentes. A manutenção
dos processos ecológicos que promovem a realiza-
ção dos serviços do ecossistema é também essen-
cial (HERRICK et al., 2006).
A polinização é um processo primordial em
todos os ecossistemas terrestres produtivos tanto
em regiões remotas e selvagens (ártico, desertos)
quanto em sistemas agrícolas altamente manejados
(KEVAN, 1999). As abelhas são os principais agen-
tes polinizadores que conhecemos e apesar da sua
importância, as mudanças causadas por atividades
antrópicas têm promovido alterações nas condições
do seu habitat, comprometendo sua diversidade de-
vido à destruição de locais usados para nidificação,
redução na disponibilidade dos recursos tróficos e
eliminação de colônias naturais (O’TOOLE, 1993).
Os seres humanos sempre alteraram o meio
ambiente, causando mudanças nos padrões de dis-
tribuição de espécies (HODKINSON; THOMPSON,
1997), nas paisagens e nas condições abióticas e
bióticas dos ambientes (RAMOS; SANTOS, 2006).
Entre os diversos efeitos negativos globais
dessas perturbações, destacam-se a modificação
da estrutura e da composição das comunidades de
polinizadores, decorrente, sobretudo, do uso irracio-
nal de inseticidas (HOOPER et al., 2005), bem como
o isolamento temporal e espacial que quebra os pa-
drões de distribuição dos organismos e reduz a fonte
de recursos disponíveis, altera a dinâmica metapo-
pulacional, com efeitos deletérios na abundância e
diversidade genética, e contribui para o declínio de
muitas espécies (EWERS; DIDHAM, 2005, KLEIN et
al., 2006; RAMOS; SANTOS, 2006).
Alterações na dinâmica espacial de um ecos-
sistema têm importantes efeitos imediatos na con-
servação da biodiversidade (THOMPSON, 2003).
De acordo com Kevan (1999), existem três maneiras
pelas quais a destruição do habitat pode afetar as
populações de polinizadores silvestres:
• destruição das fontes de alimento;
• destruição dos locais de nidificação ou ovopo-
sição;
• destruição dos locais de repouso ou acasala-
mento.
Em meio às várias interações interespecíficas
que constituem as redes ecológicas, a interação plan-
ta-polinizador desempenha função crítica na dinâmi-
ca e diversidade da comunidade (MEMMOTT, 2002).