Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
52
A relação das abelhas com determinados
grupos de plantas pode indicar a importância das
plantas na dieta e manutenção das populações de
visitantes e destes no processo de polinização. Em
outras palavras, muitas plantas nativas e cultivadas
dependem da preservação de suas relações mutua-
lísticas com os polinizadores e vice-versa (KEARNS;
INOUYE, 1997).
As variações na composição das espécies de
plantas e de polinizadores, numa comunidade, po-
dem alterar a frequência de interação entre eles, o
que faz da avaliação da distribuição de frequências
de interação entre as espécies uma ferramenta muito
útil para definir os níveis de generalização e especia-
lização na biocenose (KAY; SCHEMSKE, 2004).
Para avaliar a contribuição das mudanças pro-
vocadas pela urbanização, agricultura e pecuária na
conservação das comunidades, é preciso caracte-
rizar a biodiversidade faunística, por meio de indi-
cadores quantitativos e qualitativos. Para acessar
essas informações, os ecólogos utilizam diferentes
parâmetros, que fornecem a medida ou a estimati-
va quantificável do valor de um atributo do sistema
(DAJOZ, 2005).
Os riscos gerados pelo uso de agrotóxicos
para as abelhas têm sido amplamente discutidos por
ecologistas e por apicultores. Além da utilização de
agroquímicos, o problema é agravado pelos desma-
tamentos e pela destruição dos habitats (IMPERA-
TRIZ-FONSECA, 2006).
A alteração e a perda de habitat, nas escalas
locais e regionais, têm sido consideradas uma das
principais causas de mudanças na biodiversida-
de, acarretando perda e substituição de espécies,
e modificações no funcionamento de ecossistemas
(LOREAU et al., 2001). Modificações da vegetação
nativa, com diminuição da quantidade de plantas,
podem causar decréscimo na abundância e riqueza
de espécies. À medida que as florestas são derruba-
das e substituídas por plantios ou áreas urbanas, as
abelhas silvestres são localmente extintas ou ainda
confinadas a pequenos fragmentos de onde podem
eventualmente desaparecer (BRAGA; NUNES; LO-
RENZON, 2008).
A importância dos polinizadores como agentes
de incremento da produção agrícola é inegável, con-
tudo, várias práticas agrícolas atuais causam impac-
tos altamente negativos sobre os polinizadores, que
afetam a diversidade, a abundância e a eficiência da
polinização. Os efeitos mais drásticos dessas práti-
cas decorrem dos agrotóxicos, sobretudo da sua for-
ma inadequada de uso.
A grande riqueza de espécies de abelhas re-
flete a diversidade com que as várias espécies ex-
ploram o ambiente. Para que possam se reproduzir,
as abelhas necessitam de habitats que preencham
alguns pré-requisitos, entretanto, as exigências de
cada espécie de abelha com relação a esses itens
não são idênticas (ANACLETO; MARCHINI, 2005).
Além disso, as abelhas são altamente vulneráveis à
intoxicação por pesticidas (FREE, 1993). Essas subs-
tâncias, ao contaminarem as flores, podem causar
mortalidade generalizada entre as abelhas de diver-
sas espécies.
Como já foi dito, o conhecimento sobre os efei-
tos dos agrotóxicos sobre as comunidades de abe-
lhas silvestres é parco e insuficiente. Por esse motivo,
a literatura disponível não permite a criação de uma
metodologia de monitoramento direto dos efeitos dos
agrotóxicos sobre esses insetos. Na maioria dos ca-
sos, não se sabe quais são os efeitos causados e
quais as dosagens suportadas pelas diferentes es-
pécies. Para acessar os possíveis danos causados
pelos agroquímicos é preciso saber, primeiramente,
o estado de conservação da comunidade.
Para tanto, deve ser realizado um inventário
das espécies, dos sítios de nidificação e das fon-
tes de alimento existentes; determinar o estado de
conservação do ambiente em questão, por meio da
utilização de diferentes parâmetros faunísticos, com
vistas à elaboração do diagnóstico final.
Os principais parâmetros utilizados pelos pes-
quisadores são:
• Abundância
– indica o número de indivíduos
de cada espécie presente numa determinada
área. As espécies podem ser distribuídas em
classes, segundo o intervalo de confiança da
média de indivíduos (n), ao nível de 5% e 1%
de significância, sendo os limites de classes
considerados: raro (r), disperso (d), comum
(c), abundante (a) e muito abundante (ma)
(LUDWIG; REYNOLDS, 1988).
• Frequência relativa
– determinada pela par-
ticipação percentual do número de indivíduos