A ideia de usar as abelhas como organismo
bioindicador existe desde 1935, quando J. Svodoba
percebeu que esses insetos poderiam gerar impor-
tantes dados sobre a contaminação ambiental (CRA-
NE, 1984 apud CELLI; MACCAGNANI, 2003).
Também de acordo com Porrini et al. (2003), as
abelhas são excelentes indicadores biológicos, pois
diversos fatores comportamentais e morfológicos as
tornam um detector ecológico extremamente confiá-
vel. Elas podem revelar a poluição ambiental, já que
interagem de maneira íntima com o meio circundante
e dependem dos recursos oferecidos por ele para a
construção dos ninhos e a alimentação da prole.
Durante o voo, esses insetos registram valio-
sas informações sobre o meio ambiente. Numerosas
partículas de produtos químicos e substâncias tóxi-
cas suspensas no ar ficam aderidas aos pelos su-
perficiais de seu corpo, retidas em seu sistema res-
piratório ou armazenadas em sua vesícula melífera e
no pólen que coletam (WOLFF; DOS REIS; SANTOS,
2008) (Figura 30). Esses organismos indicam a pre-
sença de substâncias químicas no ambiente em que
eles vivem, devido à possibilidade de detecção de
resíduos de substâncias em seu corpo, ou por meio
da alta mortandade de seus indivíduos (BRAGA; NU-
NES; LORENZON, 2008).
Atualmente, os principais indicativos de que
esses organismos estão contaminados por substân-
cias tóxicas é a presença de indivíduos mortos na
entrada da colônia e a contaminação dos produtos
da colmeia, principalmente o mel (CELLI; MACCA-
GINANI, 2003). Os efeitos subletais provocados por
pesticidas também devem ser levados em conside-
ração (THOMPSON, 2003), embora não existam pes-
quisas publicadas sobre tais sequelas nas abelhas
nativas brasileiras. Essas substâncias podem entrar
em contato com o corpo da abelha por via oral, du-
6
P
ropostA metodoLógicA
pArA
o
AcompAnhAmento
dos
efeitos
tóxicos
dos
Agrotóxicos
registrAdos
sobre
As
AbeLhAs
siLVestres
rante a coleta de néctar ou pólen; e/ou por via tópi-
ca durante o voo, por meio do contato com uma su-
perfície como uma pétala ou o pólen contaminados
(CELLI; MACCAGINANI, 2003).
O mel das espécies de meliponíneos tem como
principal característica a diferenciação nos teores da
sua composição, destacando-se o teor de água (umi-
dade) que o torna menos denso que o mel das abe-
lhas africanizadas (CAMPOS, 2000). Os parâmetros
físico-químicos de amostras de mel são importantes
para a sua caracterização e primordiais para garantir
a qualidade desse produto. Além disso, a caracte-
rização regional do mel é fundamental, levando em
consideração a grande diversidade botânica e varia-
ção do solo e do clima das regiões (PITTELLA, 2009).
Os resíduos de agrotóxicos presentes no mel são de
interesse para o monitoramento ambiental porque
provocam danos à população de abelhas (RISSATO
et al., 2006; BALAYIANNIS; BALAYIANNIS, 2008).
O uso adequado de agrotóxicos prevê práticas
menos agressivas ao meio ambiente e a seus com-
ponentes biológicos (PARRA, 1997). Para tanto, fo-
ram desenvolvidos sistemas de manejo integrado de
pragas (MIP) (NAKANO; SILVEIRA NETO; ZUCCHI,
1981). Nesses sistemas, os inseticidas são conside-
rados adequados se combinarem um eficiente con-
trole da praga com mínima influência sobre a ativi-
dade de espécies benéficas (SUINAGA et al., 1996).
Tais produtos são chamados de seletivos (FOERSTER,
2002). Estudos de seletividade são fundamentais
porque exigem requisitos econômicos, ecológicos
e ecotoxicológicos, tendo como base a preservação
da fauna e da flora benéficas, que exercem o contro-
le biológico natural das pragas de importância agrí-
cola (GALLI, 1989).
Graham-Bryce (1987) considerou como mé-
todos para avaliar seletividade de agrotóxicos a ini-