Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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migos naturais as aplicações tópicas, exposições a
superfícies tratadas, pulverizações diretas, imersões
em soluções ou suspensões tóxicas, exposições a
vapores e testes de alimentação. Com o intuito de
desenvolver padrões metodológicos de laboratório,
semicampo e campo para testes de efeitos secun-
dários de agrotóxicos em organismos benéficos,
foi criado, em 1974, o IOBC/WPRS Working Group
of Pesticides and Benefical Organisms (HASSAN,
1991). Segundo Hassan (1997), deve haver uma se-
quência particular de testes de laboratório, de semi-
campo e de campo. Nos últimos é possível avaliar o
risco do agroquímico, gerando informações relevan-
tes para a prática (HASSAN, 1994). Os testes de la-
boratório são conduzidos para determinar a toxicida-
de aguda dos agrotóxicos, expressa em DL50 (Dose
Letal que mata 50% dos organismos expostos), e os
danos causados às abelhas quando utilizados nas
doses recomendadas (VAN DER STEEN, 2001).
Os testes de semicampo, tambémchamados de
testes em túnel, são realizados em uma área plantada,
coberta por tendas em forma de túnel, com no mínimo
50 m² cada uma. Nesses túneis, é posicionada uma
colmeia em cada entrada, e a exposição das abelhas
é verificada em condições comparáveis para os dife-
rentes grupos de tratamento, utilizando tanto culturas
atraentes como economicamente relevantes. Como
requisitos mínimos são avaliados o voo, a mortandade
e a condição das colônias (EUROFINS, 2011).
As pesquisas de semicampo são importantes,
pois possibilitam informações mais detalhadas sobre
os efeitos dos agrotóxicos em condições mais com-
plexas do que as reproduzidas em laboratório. Estas
ainda são controladas, permitindo a repetição dos
testes e sua utilização em estudos de biomonitora-
mento (Figura 31) (SCHÄFFER et al., 2008).
Os testes de campo são muito complexos de-
vido à existência de variáveis de difícil controle e só
podem ser feitos após a obtenção de informações
primárias, como os efeitos subletais presentes e sua
intensidade. Para entender e monitorar as sequelas
provocadas pelos pesticidas sobre as abelhas exis-
tentes no Brasil, é de suma importância que novas
pesquisas sejam realizadas. Testes de campo e de
semicampo devem ser conduzidos com espécies na-
tivas utilizadas em programas de polinização ou que
sejam potenciais polinizadores de culturas agrícolas
de importância econômica para o País, além das es-
pécies consideradas chaves para a manutenção da
reprodução e variabilidade gênica das florestas.
Só a partir da elucidação dessas lacunas é que
seria possível a criação de um ou mais indicadores
biológicos capazes de determinar as consequências
provocadas pela contaminação por agrotóxicos na
apifauna existente.
6.1 A metodologia
Neste item será apresentada uma proposta
metodológica para monitorar a contaminação e os
efeitos na saúde da colmeia, provocados pela apli-
cação de agrotóxicos em duas regiões do Brasil, Sul
e Nordeste. É importante salientar que esse desenho
amostral é uma sugestão e não foram feitos testes
que comprovem sua eficácia. A metodologia tem
como objetivo identificar e avaliar, de maneira indi-
reta, o quanto os agrotóxicos podem contaminar e
afetar as colmeias de abelhas silvestres, via análise
da toxicidade crônica, e dos possíveis efeitos sobre
a saúde e capacidade de manutenção das colônias,
além de observar a influência da distância da área
tratada com agrotóxicos sobre as abelhas.
Essa metodologia usa como bioindicadores o
mel, o pólen e as próprias abelhas. Não serão leva-
dos em consideração os efeitos subletais, pois não
existem pesquisas que tenham elucidado qual des-
ses efeitos ocorrem nas abelhas nativas e sua in-
tensidade, não permitindo afirmar que as mudanças
no comportamento e na saúde das colmeias sejam
consequência de tais efeitos. O grupo de pesquisas
do professor doutor Osmar Malaspina, do Centro de
Estudos de Insetos Sociais da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Rio Cla-
ro, está desenvolvendo alguns estudos que visam
determinar tais efeitos em diferentes espécies nati-
Figura 31
. Comparação dos sistemas de testes.
Adaptado de Schäffer et al., 2008.